Memorial Itamar Franco lança ‘Cidade Adentro: Memória Fotográfica de Juiz de Fora’
Exposição fotográfica tem 43 fotos, que retratam as transformações de Juiz de Fora entre as décadas de 1960 e 1970
O Memorial da República Presidente Itamar Franco deu início, nesta terça-feira (15), à exposição temporária “Cidade Adentro: Memória Fotográfica de Juiz de Fora”, que reflete sobre a ocupação dos espaços do município ao longo das últimas décadas. A curadoria das 43 fotos selecionadas é de Laura Kasemiro e Tarcísio Greggio, que buscaram, através da seleção um olhar profundo sobre as transformações de Juiz de Fora, os anos em que Itamar Franco foi prefeito na cidade, e também uma forma de trazer à tona as memórias afetivas dos juiz-foranos a partir de marcos importantes.
A maioria das fotos é de autoria de Roberto Dornellas, e retrata as décadas de 1960 e 1970. Para Tarcísio Greggio, diretor do Memorial, a exposição dialoga com a relação que os indivíduos têm com a cidade que se foi e que ainda se vive. “Principalmente pra quem nasceu e cresceu aqui, ou vive aqui há muitos anos, Juiz de Fora é o lugar onde se criam as nossas memórias. Então, a ideia é apresentar uma exposição com personagens da cidade, com vários registros de carnaval, da música e de obras importantes, para apresentar modificações que a cidade passou. Queremos dialogar com esse sentimento de ‘que cidade é essa, que se transforma tanto, mas que continuamos reconhecendo em função da nossa relação afetiva?’.” De acordo com ele, a exposição também é uma boa oportunidade para levar os visitantes a conhecerem mais sobre o acervo fotográfico de grande valor estético, social e histórico que o Memorial guarda.
A curadoria selecionou as fotos através de um longo trabalho, em que foi feita a análise do acervo do espaço. “São milhares de fotografias, não só da presidência do Itamar Franco, mas também da época em que ele foi prefeito, entre 1967 e 1974, e muitas com uma densidade expressiva muito grande. Enquanto vamos fazendo um trabalho de processamento técnico, vamos conhecendo e reconhecendo essas fotografias, e já há bastante que temos vontade de fazer uma exposição com esse material”, explica Greggio. De acordo com Laura Kasemiro, então, foi preciso buscar o que eles realmente gostariam de transmitir. “Queríamos encontrar fotos que refletissem a ocupação social da cidade. A gente estava buscando um potencial estético e narrativo, ou seja, fotos que chamasse a atenção e que contasse sobre essa história recente de Juiz de Fora de forma nostálgica. Essa cidade tem sujeitos diferentes, formas diferentes de ocupar e de socializar.”
Entre todas as artes, como explica Greggio, a fotografia consegue um efeito especial no que diz respeito a conexão com o tempo. “Acho que a exposição se apoia nessa força que a fotografia consegue ter de criar memória, e assim nos colocar em contato com a passagem do tempo. O tempo é inexorável, ele vai passar.” Da mesma forma, ele afirma que o objetivo da fotografia é criar uma atmosfera que se aproxima do passear pela cidade, ou como quem está folheando álbuns de família. “É a característica que a fotografia tem de registrar a memória e, ao fazer isso, nos colocar diante da passagem do tempo.”
Redescobrir a cidade
Para os curadores, a exposição é direcionada para todos os públicos, tanto aqueles que querem relembrar da cidade do jeito que as fotos trazem, quanto aqueles que querem conhecê-la pela primeira vez. “A exposição está bem em dia com o debate que se faz hoje na Sociologia, na História e nas Ciências Humanas em geral, que é um impulso à memória como uma relação com o passado que faz refletir. As novas gerações, que conhecem essa história de maneira indireta, podem também ter o olhar despertado para as mudanças que estão acontecendo na geração delas”, afirma Greggio. Entre as fotos, por exemplo, estão algumas que retratam a última viagem do bonde na cidade, as obras fluviais da Rua Halfeld, as obras no Bairro Santa Luzia, a abertura da Garganta Dilermando, além do carnaval e os desfiles.
Mais de 50 anos separam o momento atual da época retratada pelas fotografias. O período faz com que seja possível perceber mudanças em diversos níveis. “É impossível a gente não ver o que mudou, em todos os aspectos. Tanto no que diz respeito à configuração da cidade, quanto a roupas e condições de trabalho, por exemplo. É o jeito mesmo de ocupar, de trabalhar, de acontecer que é completamente diferente”, diz Laura. Para ela, portanto, o objetivo de resgatar as fotos é “redescobrir Juiz de Fora” em uma época emblemática no que dizia respeito à vida cultural e social, e que representou um momento de obras importantes.
O que as fotografias refletem
Poucas cidades brasileiras podem dizer que um “filho” seu chegou à presidência da República. Mas é o caso da Manchester mineira, que tem Itamar Franco como representante. “Itamar viveu sua vida inteira aqui, fez sua carreira em Juiz de Fora, foi prefeito aqui e teve uma gestão da cidade emblemática”, relembra Tarcísio. Foi também através das vivências no município, que são transmitidas através da atmosfera das fotos, que é possível entender como a história da cidade também se conecta com o seu despertar para questões sociais.
“As obras feitas durante a gestão de Itamar Franco foram erguidas por trabalhadores juiz-foranos. Ele afirmava que foi com o contato com os trabalhadores durante as obras, que ele foi apresentado aos problemas e questões sociais. E ele levou isso para a presidência, algo que nasceu no dia a dia das obras”, explica Laura. Para ela, esse efeito de afetação para o outro continua acontecendo quando as memórias são revisitadas e levam a uma reflexão da cidade. “Nós somos atropelados por várias subjetividades, sempre em movimento e transformação na cidade. Isso tem um potencial grande de encontrar essa memória da cidade, desvendar seu tempo e sua história.”