Dudu Lima lança álbum de show ao vivo em Ibitipoca e comemora 40 anos de carreira

‘Live in Brazil’ traz participações especiais, releituras de clássicos e trabalhos autorais


Por Elisabetta Mazocoli

16/05/2025 às 07h00

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(Foto: Reprodução)

O músico instrumental Dudu Lima lançou o álbum “Live in Brazil” neste mês, gravado em um show de edição especial do Ibitipoca Jazz Festival. O trabalho também marca os 40 anos de carreira do renomado contrabaixista e compositor, que já colaborou com nomes como Hermeto Pascoal, Milton Nascimento, João Bosco e Stanley Jordan, ao mesmo tempo que registra o trabalho com a formação do Dudu Lima Trio incluindo Caetano Brasil, no clarinete/sax, e Leandro Scio, na bateria. Com participações especiais, releituras de clássicos e músicas autorais, o trabalho também tem realização da Gravatás Arte & Cultura, dirigida pela produtora Ligya Alcantarino, em parceria com a Amanita Produções (Flávia Gouvêa), com lançamento internacional pela Xpand Music. Para o artista, trata-se de um marco na sua música, que é viva e está sempre em transformação.

A ideia desse álbum começou no fim da pandemia, quando teve uma mudança no trio, com a entrada do Caetano Brasil. “Era um repertório enorme, muitos arranjos, mas eu não tenho nada escrito. O Caetano sabia tudo, então ele era o cara. Ele já estava dentro do trio, além do músico incrível que ele é. E ele me abriu outras possibilidades, porque é um músico muito criativo, com muita bagagem e ideias. (…) E o Leandro é um músico fundamental para esse trabalho, temos uma irmandade de 40 anos”, conta. Ele também já queria colaborar com o multi instrumentista Carlos Malta e as vocalistas Alice Santiago, Sarah Vieira e Tata Rocha, com quem pôde gravar nessa oportunidade. Suas composições autorais “Rapadura é doce mas não é mole não”, “Anjo sabiá”,”Mágica ” e a homenagem a Milton Nascimento com “Nada será como antes” completam o trabalho.

Foi a primeira edição presencial depois da pandemia no Festival de Jazz de Ibitipoca, escolhido como palco para este momento especial — não por acaso, o artista participa dos shows do evento desde o primeiro ano, já em décadas como presença confirmada. Mas esse encontro foi diferente: “Essa edição da volta foi dentro do vilarejo, no meio da cidade, com entrada franca. E as pessoas estavam sedentas, estava todo mundo muito aberto. Foi um dia maravilhoso”, relembra. Foram 7h tocando direto neste dia, junto com outros parceiros. A concentração foi total na música que estava fazendo, para só depois pensar que viraria um álbum. “Quando começamos, a gente só pensa no som, não no que vai ser dele. Quando escutei, tive a certeza de que o álbum estava ali”, conta.

Foi então que Daniel Figueiredo, da Xpand Music, músico arranjador mineiro radicado no exterior, destacou que o nome do álbum deveria justamente ressaltar essa energia viva do álbum. E a capa, por fim, ficou a cargo de Antônio Carlos Rodrigues, que fez a foto do álbum de estreia do Secos e Molhados, eleita como a melhor capa da música brasileira pela Folha de São Paulo. Era uma foto que fez de Dudu Lima durante um de seus shows, e que foi dada como presente – e que, para ele, também servia para exemplificar uma certa aura elétrica que pode sair da música.

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Gravação foi feita na primeira edição presencial do Festival de Jazz de Ibitipoca depois da pandemia, em um espaço totalmente aberto ao público (Foto: Kempton Vianna/ Divulgação)

A emoção do ao vivo

Para um músico instrumentista que acredita no fazer música em conjunto e na arte do momento, poder gravar ao vivo foi um prazer. “Para gente que faz música cheia de improvisação, tem o momento como algo muito importante. O que acontece no momento não aconteceu antes e nem vai acontecer depois, então você se prepara para o show, com muita intensidade, mas na hora tem uma emoção, uma energia.” Para ele, até mesmo nos álbuns de estúdio é preciso tentar simular um pouco dessa energia para música realmente poder fluir.

Parte dessa energia, no entanto, também precisa do contato com o público — ele entende que é nesse momento que o artista também precisa se mostrar. “É a coisa do trapezista que não pode cair do trapézio. Você vira quase um personagem circense, fazendo acrobacias que não podem dar errado. O vivo para mim é isso. As ideias têm que sair maduras já.”

Uma caminhada pela floresta

Com vários shows em Juiz de Fora nos últimos meses, em locais como Mercado AICE, Festa do Trabalhador e Madame Gevah, Dudu Lima continua fazendo música e registrando novos momentos dessa longa caminhada, que começou profissionalmente quando ele tinha apenas 14 anos. “Nesses 40 anos, acho que fiz isto: fiquei tocando, ouvindo, aprendendo e pensando no próximo show, no que fazer em seguida. É uma roda que não para de rodar. Espero conseguir sempre continuar pensando na música em primeiro lugar, é o que procuro fazer todos os dias”, conta ele, que revela que já chegou a estudar por 12h seguidas, algo que ainda faz.

Para ele, é um processo que continua e que sempre vai continuar. “Eu comparo a música com uma floresta. Imagina que o mundo é a floresta amazônica. A gente anda, anda, anda e não conhece tudo, não descobre o final. Cada vez vem uma árvore diferente, uma flor, um céu que não tinha pensado. Considero esses 40 anos um caminho nessa floresta que sei que não acaba, persigo um meio para os pequenos fins de cada projeto, mas que faz parte de algo maior.” Mesmo sem buscar o final, o que procura pode ser justamente um retorno ao começo. “Quero sempre é estar ligado ao sentimento que me levou a ser músico, a gostar disso tudo que eu faço como se estivesse começando hoje. E, na verdade, começamos de novo todos os dias, porque a música exige isso. (…) Em Juiz de Fora pude construir uma carreira onde o amor à arte sempre esteve em primeiro lugar”, finaliza.

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