Movimento em prol do livro e do autor


Por MARISA LOURES

16/04/2016 às 07h00

O grupo de escritores se reúne mensalmente na Biblioteca Municipal Murilo Mendes

O grupo de escritores se reúne mensalmente na Biblioteca Municipal Murilo Mendes

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“Também sou autora e me sinto sozinha com meus livros.” O desabafo da arte-educadora Margareth Marinho representa a angústia de um grupo de escritores juiz-foranos que produz e que quer ver seus livros chegarem a um número maior de leitores. “Percebemos um pouquinho de resistência ao autor local. Talvez, por desconhecimento. Como não está em uma grande editora, às vezes, a pessoa lança um único livro pela Lei Murilo Mendes e para de publicar”, afirma a escritora que, desde o final de 2015, faz parte do Leia JF – Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora. Composto, hoje, por 17 integrantes, o movimento tomou contornos mais definidos em março e pretende fortalecer os literatos da terra de Murilo Mendes, Pedro Nava e Rubem Fonseca.

A ideia é que, toda primeira quinta-feira do mês, a Biblioteca Municipal Murilo Mendes seja sede do encontro de Dalila Roufi, Margareth Marinho, Alberto José Carlos Pinto, Alcina Maria de Souza Cardozo, Ana Paula Torquato, Angela da Silva Vaz Pereira, Cristiano Fernandes, Emanuelle Ferrugini Ferreira, Fernanda Cruzick, Flávia da Silva Nascimento, Jorge Lenzi, Leila Barbosa, Marisa Timponi, Simone Maria Dias Luz, Shirley Ferreira, Valéria Fernandes M. Pinto, Vanda Maria Ferreira. Nessa reunião, divulgação é a palavra-chave. “Nossa intenção é divulgar os autores de Juiz de Fora”, avisa Margareth, pontuando as estratégias pensadas.

“Na Liga, vamos conhecer os autores, o livro de todo mundo, estar presente nos lançamentos de livros e realizar ações, como uma passeata literária, por exemplo. Já ganhamos uma estante na próxima Feira Literária de Rio Novo. Vamos fazer um catálogo visual para divulgar nossas obras nas escolas. Temos escritores e ilustradores e estaremos cercados de tudo o que envolve a logística de lançar um livro”, comenta a arte-educadora, adiantando que o Leia já tem estatuto e logomarca.

Pensando, também, no leitor

Responsável por trazer a iniciativa de Belo Horizonte, onde tem amigos que participam de movimento semelhante, Dalila conta que o projeto vai além de atender os interesses do autor. “É um movimento em prol da leitura, queremos ver a necessidade, também, do leitor”, diz a escritora e contadora de histórias. “A gente está se descobrindo, e todo mundo está gostando muito de falar sobre seus anseios, expectativas e angústias”, diz Margareth. O primeiro evento programado pelo Leia é uma mesa redonda sobre literatura infantil, agendada para 29 de abril, também na biblioteca.

Aliás, na próxima segunda-feira, celebra-se o Dia Nacional do Livro Infantil. A data foi escolhida para homenagear Monteiro Lobato, escritor que é festejado, na Biblioteca Murilo Mendes, com uma exposição em cartaz até dia 30. “Vamos discutir o que é literatura infantil? É certo definir?”, indaga a arte-educadora, para logo apontar respostas para seus questionamentos. “Não existem restrições. Um adulto pode pegar um livro infantil e vice-versa. Mas tem que haver uma separação lógica. A criança vai buscar o que agrada o olhar, e, pela maturidade de leitura, vai buscar, aos poucos, uma obra mais complexa.”

Entrevista: Flávia Nascimento, contadora de histórias e professora

É no dia 18 de abril, data em que se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil, que Flávia Nascimento, uma das integrantes do Leia JF, lança “Dona Miséria”. Adaptada do conto popular lusitano “Tia Miséria”, a obra se redesenhou nas contações de história de Flávia e chega ao público, “de zero a cem anos”, através do incentivo da Lei Murilo Mendes. Se originalmente, tentava-se explicar o porquê da existência da morte, agora o tema é o amor. “Ela acabou se transformando numa história de amor entre o pé de pera e a Dona Miséria, uma mulher que é capaz de enganar até a morte para continuar com esse companheiro de vida”, afirma a autora em entrevista que vai ao ar no “Sala de leitura” deste sábado, às 10h30, na Rádio CBN Juiz de Fora. A reprise é na segunda-feira, às 14h30.

Acostumada a contar e encantar crianças com suas histórias, Flávia traz consigo a oralidade. “__ Jãozim, Duardo, devê de casa, janta!”, dispara a mãe da dupla de meninos que já existia no conto lusitano, mas que se tornou bastante peralta na criação da professora de história. O encontro com a autora e sua obra está marcado para segunda-feira, às 18h, na Biblioteca Municipal Murilo Mendes.

Tribuna – Essa Dona Miséria é capaz de virar uma bruxa para defender a árvore que ela ama. Ela foi inspirada em alguém da vida real?

Flávia Nascimento – Aos poucos, descobri que essa Miséria tem muito de mim, porque temos uma personalidade muito parecida, nessa força que ela imprime em defender quem ama. Só fui perceber isso quando as pessoas que já me ouviram contar vieram falar: “Dona Miséria, como a senhora está?” Curiosamente, quando estávamos começando a ilustrar, pedi para minha filha fazer a Dona Miséria de frente, e ela desenhou a minha avó, sem nunca tê-la conhecido. Assim como ela tem muito da minha avó, acho que ela sou eu em algum lugar dentro de mim.

– Esse é seu primeiro livro lançado. O que você planeja para ele agora?

– Primeiro, quero que ele chegue a todas as prateleiras de escolas públicas de Juiz de Fora. Quero chamar as crianças para a leitura. Tenho planos de dar continuidade a essa história. Porém, dessa vez, será uma história genuinamente minha, em que a Miséria tome gosto por atrair as pessoas para o quintal e por prendê-las no pé de pera. Ela realmente tomará ares de bruxa. Quero escrever muito e dar minha contribuição para a formação de leitores.

– Na data do lançamento do seu livro, celebra-se o Dia Nacional do Livro Infantil. Nossas crianças leem? Há motivos para comemoração?

– As crianças leem. Acho que os adultos é que não sabem aproveitar isso. A Biblioteca Murilo Mendes faz parte da minha trajetória, e a gente tem, lá, vários eventos, como contação de história, circuito de leituras e programação de férias. Às vezes, está havendo uma contação de história num canto, uma pintura no rosto no outro, e a gente se surpreende vendo uma criança no cantinho entre as estantes com o livro aberto. É da criança essa coisa de pegar o livro, folhear, paginar. Ela vai perdendo isso ao longo do tempo. Em algum momento, a gente erra, porque isso já está ali. Comemorar não, infelizmente. Mas temos uma matéria-prima, que é a criança, muito rica. Trabalho com educação de base e sei que as crianças entram na escola gostando de ler. Só não sabemos quando elas deixam de gostar.

LANÇAMENTO DE LIVRO

“Dona Miséria”

18 de abril, às 18h

Biblioteca Municipal Murilo Mendes

(Av. Getúlio Vargas 200 – Centro)

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