Primeiro filme da Marvel a ter um protagonista negro, ‘Pantera Negra’ estreia em JF
Líder de uma nação desenvolvida e isolada, T’Challa (Chadwick Boseman) é um jovem Pantera Negra dividido entre a tradição e o futuro
“Pantera Negra”, novo filme da Marvel que estreia nesta quinta-feira (15), chega aos cinemas marcado pela expectativa de ser a primeira produção do estúdio estrelada por um super-herói negro, o que já motivou campanhas nos Estados Unidos que vão levar jovens afroamericanos para assistirem ao longa de Ryan Coogler (“Creed”, “Fruitvale Station”), já encarado como um marco no que diz respeito à luta pela igualdade social.
Mas o 18º longa da Marvel também pode ser visto como o primeiro ato das comemorações do décimo aniversário do universo cinematográfico do estúdio (o MCU), iniciado em 2008 com “Homem de Ferro”, assim como a preparação de terreno para o encerramento da chamada Fase 3, que acontecerá com “Vingadores: Guerra Infinita”, que estreia em abril, e sua continuação, agendada para 2019.
Seja qual for o ângulo observado, “Pantera Negra” tem recebido críticas positivas. Os elogios incluem a aposta em um diretor jovem e promissor (Coogler), vindo de duas produções estreladas por atores negros e que tratam de questões tão próximas aos afroamericanos; a disposição em apresentar um filme com discussões políticas, de fundo racial, social que fogem à fórmula vista em outros longas do MCU; ter um elenco majoritariamente negro, com um ator (Chadwick Boseman) que parece ter nascido para interpretar o protagonista, e no qual várias atrizes (Lupita Nyong’o, Angela Bassett, Danai Gurira, Letitia Wright) interpretam personagens fortes; transportar a maior parte da trama para a África; fugir dos clichês dos longas de origem; desafiar o protagonista com um vilão que nada tem de descartável ou genérico; evitar o excesso de piadas que incomodaram tanta gente em outras produções da Marvel.
Personalidade própria
“Pantera Negra” tem sido comparado a outros filmes da Marvel que se apresentam como longas de super-heróis “de gênero”, sejam eles de espionagem (“Capitão América: O Soldado Invernal”), assalto (“Homem-Formiga”) ou comédia de ação (os dois “Guardiões da Galáxia”). O roteiro escrito por Ryan Coogler e Joe Robert Cole é um drama político que se aproveita de ingredientes como relações familiares, o peso da responsabilidade, o dever para com um povo e – claro – cenas de ação.
A história tem início pouco depois dos eventos de “Capitão América: Guerra Civil”, em que o rei de Wakanda, T’Chaka, morre em decorrência de um ataque terrorista. Por isso, seu herdeiro direto, T’Challa (Boseman), é coroado como o novo soberano do país e recebe os dons do Pantera Negra. Apesar de preparado desde a infância para o posto, ele é assombrado por diversas dúvidas, que são alimentadas pelos que estão à sua volta na corte. Uma delas é decidir sobre o futuro papel de Wakanda no cenário geopolítico mundial: a nação é a mais desenvolvida tecnologicamente do mundo, por conta das reservas do metal vibranium (que só existe nos quadrinhos e filmes), com uma população que possui condição de vida invejável até para os países nórdicos.
O resto do mundo, porém, acredita que Wakanda seja mais um país africano subdesenvolvido. Caberá a ele decidir, então, se sua terra natal deixará de ser um Estado fechado que passará a dividir seu conhecimento com outras nações – principalmente os seus vizinhos, que padecem com fome, doenças, guerras e outros dramas típicos do continente e que foram negligenciados pelos wakandanos durante séculos de isolacionismo, ou se mantém o país fechado. Repetir os antecessores ou entender que um rei pode – e muitas vezes deve – seguir seu próprio caminho, tendo em mente os novos tempos, é o principal dilema do novo governante.
É nesse contexto que o Pantera Negra terá de enfrentar os dois vilões do filme, o mercenário Ulysses Klaue (Andy Serkis), que nos quadrinhos é mais conhecido como Garra Sônica, e Erik Killmonger (Michael B. Jordan, que interpretou o Tocha Humana no mais recente “Quarteto Fantástico”). Este último será o grande antagonista do herói, mesmo que os dois estejam preocupados com o bem-estar dos wakandanos, mas Killmonger não se furta a utilizar a violência para alcançar seus objetivos ao custo das vidas de seus compatriotas, enquanto o rei acredita na negociação e no pacifismo.
“Pantera Negra” não é revolucionário, continua sendo o cinema de ação que a Marvel sabe vender tão bem. Mas, ao mesmo tempo, é marcante por todos os fatores envolvidos, afinal é difícil imaginar um estúdio que gaste US$ 200 milhões em um longa com elenco majoritariamente negro, passado na África, com um protagonista pouco conhecido e que lide com temas que não se resumem apenas à jornada do herói e à luta entre mocinhos e vilões. De resto, é esperar para saber de que forma a história encontrará espaço para se comunicar com “Vingadores: Guerra Infinita”, uma vez que Wakanda será cenário importante no longa que estreia em abril – e não falta quem aposte que a última Joia do Infinito está no reino.