Exposição gratuita ‘Quase presença’ reúne obras de Andrea Portela
Artes sobre as exigências da vida moderna estão expostas até o final de agosto

A mostra “Quase presença”, da artista Andrea Portela, está em exibição no Centro Cultural Dnar Rocha. Os quadros exploram temas como o distanciamento, a ausência e os mecanismos de fuga diante da opressão e das exigências da vida moderna, conforme a artista. A visitação é gratuita e pode ser conferida de segunda a quinta, das 9h às 17h, e nas sextas-feiras, das 9h às 14h, ao longo do mês de agosto.
De acordo com Andrea, os trabalhos que dão origem à exposição “Quase presença” nasceram do seu olhar sobre as questões cotidianas. Nesse sentido, ela define três situações que a apontaram o caminho para as confecções. A primeira é a leitura do livro “Desaparecer-se de si: uma tentação contemporânea” (2018), do sociólogo David Le Breton, que retrata o esgotamento dos nossos personagens sociais, o que desperta um gosto pela ausência. A segunda é a reflexão sobre o uso das redes sociais. Por último, ela menciona sobre como essas redes estão afetando a saúde mental das pessoas e como a arte é a alternativa que ela encontrou para contrapor essa situação e tentar contribuir de alguma maneira.
A construção de uma exposição contemporânea
Com enfoque em obras que abordam a ausência no cotidiano, a artista relata que, em seu processo de criação, explora a construção e a desconstrução das imagens e que esse percurso favorece a presença e o apagamento das figuras ou perfis humanos. Andrea conta que também cria cenas sugerindo momentos que podem remeter à solidão, ao ensimesmamento, mesmo entre emaranhados de pessoas, organizados ou não.

“As pinturas retratam momentos em que estamos absortos pelos pensamentos ou desligados do mundo, quase em sonho. Tudo isso pode ser traduzido por uma atmosfera de mistério e de silêncios. A arte é cura e resposta ao caos social de diferentes formas; ao mesmo tempo em que é contemplativa, também é política, manifesto do tempo, ativismo, atenção, força propulsiva, sentimentos… tantas coisas ela desperta sem que possamos reparar”, diz a artista.
Na exposição “Quase presença”, ela relata que seu intuito foi pensar situações que afetam a sociedade. Como artista, argumenta que aprendeu a trabalhar com muitas expressões e que já criou trabalhos em que reverenciou o caos, o ruído e a loucura. Dessa maneira, suas propostas podem surgir desde a pesquisa artística e do próprio cotidiano até por demandas.
“Penso a arte como linguagem poderosa capaz de nos despertar para inúmeras reflexões sobre como participarmos da vida mais plenamente e marcarmos nossa presença no mundo. Arte nos desloca, faz pensar, tira do comum. Ou seja, a arte produz movimento. E precisamos sair do comodismo, da comunicação vazia e superficial. Precisamos voltar a estar mais presentes no mundo real, respirar e nos reconectar”, afirma.
A pintora espera que o público da exposição seja tomado de sensações múltiplas e usufrua com liberdade e expansão do olhar. Por conta disso, define que em tempos de pressa, conservadorismo, padronização e superficialidades; o estranhamento, a leveza e o pensamento são condições que promovem a saúde mental, a transformação e a resistência.
Uma trajetória voltada para a cultura
Doutora em Ciências Sociais e mestre em Cultura Contemporânea, Andrea Portela acredita que a sua formação influencia fortemente na sua produção artística. Ela define que afeta a sua forma de ver o mundo e a escolha dos temas que lhe interessam, principalmente também pela sua experiência como pesquisadora, que a auxilia na elaboração de pesquisa artística.
Além da sua atuação como docente, a artista já atuou como figurinista e em coletivos de arte com intervenções urbanas e fotografia. Ela discorre que o desejo por criar é muito forte e chama as pessoas ao longo de toda vida, mas, demanda tempo, pois consome a mente e as ações. Assim, menciona que nem sempre é possível atender a tudo isso, mas que por ter consolidado uma vida que a permite estar livre para as demandas do universo criativo, consegue explorar essas atividades complexas que exigem mais dedicação.

“O desejo de criação pulsa através de diferentes linguagens, todas válidas para atender ao artista que nasce em nós e não deixamos apagar na infância. Já trabalhei na moda, no teatro, na rua, no cinema… O desenho foi minha mola mestra até escolher a pintura e a gravura como expressões. Hoje, a pintura tem grande parte da minha dedicação. É uma paixão!”
Andrea participou da fundação do coletivo GRAPHA (Coletivo de Gravadores de Juiz de Fora), com o objetivo de continuar seus estudos artísticos e incentivar a produção e exposição de artistas. Ela relata que a gravura, presente na produção do grupo, é uma linguagem nova e fascinante em sua vida e que é uma modalidade desafiadora e coletiva que ela aprecia bastante.
Atualmente, Andrea vem trabalhando em uma pequena instalação, que considera um quadro, só que pintado com materiais inusitados. A obra fará parte de um evento que irá participar, juntamente com 200 artistas, em novembro, no Rio de Janeiro. A artista define que a natureza está sempre presente em suas criações e que ela estuda todo o seu potencial, juntamente com a contemplação da arte, que afeta e provoca reações e devires, um tema de exposições futuras que em breve pretende apresentar na cidade.
*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli
Serviço
Exposição ‘Quase presença’
Horário: 9h às 17h de segunda-feira a quinta-feira e de 9h às 14h nas sextas-feiras
Local: Centro Cultural Dnar Rocha (Rua Mariano Procópio, 973)
Entrada franca