Exposição gratuita ‘Quase presença’ reúne obras de Andrea Portela

Artes sobre as exigências da vida moderna estão expostas até o final de agosto


Por Mafê Braga*

14/08/2025 às 07h00

 

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Exposição reúne 17 obras da artista (Foto: Andrea Portela / Arquivo Pessoal)

A mostra “Quase presença”, da artista Andrea Portela, está em exibição no Centro Cultural Dnar Rocha. Os quadros exploram temas como o distanciamento, a ausência e os mecanismos de fuga diante da opressão e das exigências da vida moderna, conforme a artista. A visitação é gratuita e pode ser conferida de segunda a quinta, das 9h às 17h, e nas sextas-feiras, das 9h às 14h, ao longo do mês de agosto.

De acordo com Andrea, os trabalhos que dão origem à exposição “Quase presença” nasceram do seu olhar sobre as questões cotidianas. Nesse sentido, ela define três situações que a apontaram o caminho para as confecções. A primeira é a leitura do livro “Desaparecer-se de si: uma tentação contemporânea” (2018), do sociólogo David Le Breton, que retrata o esgotamento dos nossos personagens sociais, o que desperta um gosto pela ausência. A segunda é a reflexão sobre o uso das redes sociais. Por último, ela menciona sobre como essas redes estão afetando a saúde mental das pessoas e como a arte é a alternativa que ela encontrou para contrapor essa situação e tentar contribuir de alguma maneira.

A construção de uma exposição contemporânea

Com enfoque em obras que abordam a ausência no cotidiano, a artista relata que, em seu processo de criação, explora a construção e a desconstrução das imagens e que esse percurso favorece a presença e o apagamento das figuras ou perfis humanos. Andrea conta que também cria cenas sugerindo momentos que podem remeter à solidão, ao ensimesmamento, mesmo entre emaranhados de pessoas, organizados ou não.

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Andrea Portela expõe suas obras até o final do mês (Foto: Andrea Portela / Arquivo Pessoal)

“As pinturas retratam momentos em que estamos absortos pelos pensamentos ou desligados do mundo, quase em sonho. Tudo isso pode ser traduzido por uma atmosfera de mistério e de silêncios. A arte é cura e resposta ao caos social de diferentes formas; ao mesmo tempo em que é contemplativa, também é política, manifesto do tempo, ativismo, atenção, força propulsiva, sentimentos… tantas coisas ela desperta sem que possamos reparar”, diz a artista.

Na exposição “Quase presença”, ela relata que seu intuito foi pensar situações que afetam a sociedade. Como artista, argumenta que aprendeu a trabalhar com muitas expressões e que já criou trabalhos em que reverenciou o caos, o ruído e a loucura. Dessa maneira, suas propostas podem surgir desde a pesquisa artística e do próprio cotidiano até por demandas.

“Penso a arte como linguagem poderosa capaz de nos despertar para inúmeras reflexões sobre como participarmos da vida mais plenamente e marcarmos nossa presença no mundo. Arte nos desloca, faz pensar, tira do comum. Ou seja, a arte produz movimento. E precisamos sair do comodismo, da comunicação vazia e superficial. Precisamos voltar a estar mais presentes no mundo real, respirar e nos reconectar”, afirma.

A pintora espera que o público da exposição seja tomado de sensações múltiplas e usufrua com liberdade e expansão do olhar. Por conta disso, define que em tempos de pressa, conservadorismo, padronização e superficialidades; o estranhamento, a leveza e o pensamento são condições que promovem a saúde mental, a transformação e a resistência.

Uma trajetória voltada para a cultura

Doutora em Ciências Sociais e mestre em Cultura Contemporânea, Andrea Portela acredita que a sua formação influencia fortemente na sua produção artística. Ela define que afeta a sua forma de ver o mundo e a escolha dos temas que lhe interessam, principalmente também pela sua experiência como pesquisadora, que a auxilia na elaboração de pesquisa artística.

Além da sua atuação como docente, a artista já atuou como figurinista e em coletivos de arte com intervenções urbanas e fotografia. Ela discorre que o desejo por criar é muito forte e chama as pessoas ao longo de toda vida, mas, demanda tempo, pois consome a mente e as ações. Assim, menciona que nem sempre é possível atender a tudo isso, mas que por ter consolidado uma vida que a permite estar livre para as demandas do universo criativo, consegue explorar essas atividades complexas que exigem mais dedicação. 

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A expositora destaca a presença constante da natureza em suas obras (Foto: Andrea Portela / Arquivo Pessoal)

“O desejo de criação pulsa através de diferentes linguagens, todas válidas para atender ao artista que nasce em nós e não deixamos apagar na infância. Já trabalhei na moda, no teatro, na rua, no cinema… O desenho foi minha mola mestra até escolher a pintura e a gravura como expressões. Hoje, a pintura tem grande parte da minha dedicação. É uma paixão!”

Andrea participou da fundação do coletivo GRAPHA (Coletivo de Gravadores de Juiz de Fora), com o objetivo de continuar seus estudos artísticos e incentivar a produção e exposição de artistas. Ela relata que a gravura, presente na produção do grupo, é uma linguagem nova e fascinante em sua vida e que é uma modalidade desafiadora e coletiva que ela aprecia bastante.

Atualmente, Andrea vem trabalhando em uma pequena instalação, que considera um quadro, só que pintado com materiais inusitados. A obra fará parte de um evento que irá participar, juntamente com 200 artistas, em novembro, no Rio de Janeiro. A artista define que a natureza está sempre presente em suas criações e que ela estuda todo o seu potencial, juntamente com a contemplação da arte, que afeta e provoca reações e devires, um tema de exposições futuras que em breve pretende apresentar na cidade.

*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

Serviço

Exposição ‘Quase presença’
Horário: 9h às 17h de segunda-feira a quinta-feira e de 9h às 14h nas sextas-feiras
Local: Centro Cultural Dnar Rocha (Rua Mariano Procópio, 973)
Entrada franca