ENTREVISTA: Paulo Scott, escritor
O escritor Paulo Scott conversou com a Tribuna sobre seu mais novo livro – “O ano em que vivi da literatura” (Foz) -, programado para chegar às prateleiras em agosto de 2015. Nas páginas da publicação, que pretende satirizar o papel masculino e as carências ampliadas pelo mundo virtual, está um autor à beira dos 40 anos. “É um escritor vivendo a vida louca do Rio de Janeiro e tendo que lidar com uma escolha que ele fez”, conta o gaúcho, que, na obra anterior, tomou para si o dilema que seria vivido por seu futuro protagonista. Em “Mesmo sem dinheiro ganhei um esqueite novo” (Companhia das letras), vencedor do Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2014, ele fez, em versos, uma reflexão sobre suas próprias escolhas.
“a conveniência/ de ser apenas alguém estranho/ com ideias estranhas/ já não é suficiente/ […] então numa festa com uísque de graça/ uma bonitinha de cabelo curto/ chega bem perto de você/ e diz que sente pena de você/ diz que você está se tornando/ tão patético quanto as personagens /que inventou […]”. Apontado como um dos nomes mais originais da literatura contemporânea brasileira, Scott abandonou a carreira jurídica e hoje se dedica inteiramente à prosa e à poesia. Entre seus títulos mais recentes estão “Ithaca Road” (Companhia das Letras, 2013), “Habitante irreal” (Alfaguara, 2011) e “A timidez do monstro”, (Objetiva, 2006). A estreia literária se deu em 2001 com “Histórias curtas para domesticar as paixões dos anjos e atenuar os sofrimentos dos monstros” (Sulina), escrito sob o pseudônimo de Elrodris.
Tribuna – Por que “Mesmo sem dinheiro comprei um esqueite novo”?
Paulo Scott – Esse título é uma espécie de brincadeira. De certa forma, ele resulta de uma possível situação em que todos nós, eventualmente, possamos nos encontrar, que é escolher seguir em frente, apesar das adversidades. Mesmo num país em que se tem uma dificuldade muito grande de apoio à cultura e à educação, você decide permanecer naquele projeto que é tentar produzir cultura. São dilemas que só passam quem faz essa escolha, porque há consequências financeiras e pessoais.
– Você ficou um período sem publicar, e esse livro acaba refletindo esse momento?
– É uma espécie de declaração de amor ao Rio de Janeiro, que é o lugar do meu exílio, de uma vida mais confortável do que eu tinha em Porto Alegre. Mas também, talvez, seja uma espécie de testemunho desse período de maturidade. Eu fiz uma escolha, e, hoje, de certa forma, por todas as conseqüências que houve na minha carreira, consigo ver o lado bom e uma solidão que surge quando você cerca seu nome de uma excelência. As coisas boas vêm, mas as ruins também. Quando você cria seu próprio projeto, você tem que estar pronto para suportar a solidão, porque ela virá, já que você deixa de ser parte de um grupo, uma turminha. O seu nome é a sua referência, e aí você tem que avaliar se sustenta isso ou não.
-“O ano em que vivi da literatura”, seu próximo livro, traz um dilema pessoal?
– Esses livros são bem-casados (“Mesmo sem dinheiro comprei um esqueite novo” e “O ano em que vivi da literatura). “O ano em que vivi da literatura” é uma crítica ao establishment brasileiro, cultural e literário de um país onde as pessoas não lêem e não têm educação de qualidade. Você tem um glamour de festival e prêmios, é capa de caderno de jornal, de revista, vai ao Jô Soares e tudo o mais, mas está num país em que as pessoas não leem. Que diabo de obra você está construindo? Se você tem um livro que é traduzido para outra língua, você vê que, se esse outro lugar tem uma tradição maior, você é muito mais lido lá do que no seu próprio país.
– E o Paulo Scott vive somente da literatura?
– Oficinas, palestras, convites, vendas dos direitos para o cinema, adiantamentos que se esgotam em dois meses, tradução, revisão…