Jardim Ecológico Uaná Etê, em Vassouras, é otima pedida para o feriado
Espaço reúne área verde, música e gastronomia no Vale do Café e celebra solstício de inverno com Festa das Luzes até o dia 30 de junho
* A repórter viajou a convite do grupo Vale do Café Rio
Quem chega à recepção do Parque Ecológico Uaná Etê se impressiona, sim, com o belíssimo imóvel com paredes e portas de vidro e com as agradáveis mesinhas sobre o deque, pensando que se trata de mais um charmoso bistrô em que se pode comer bem e desfrutar de um belo espaço ao ar livre. Ledo engano. Não que isso seja mentira, mas porque o parque é uma experiência muito mais enriquecedora e inspiradora. Situado na pequena Sacra Família (RJ), a 15 minutos de Vassouras (que fica a cerca de 100km de Juiz de Fora), Uaná Etê tem 135 mil metros quadrados e foi pensado em uma espiral ascendente, cheia de mirantes, intervenções interativas e obras de arte, unindo música e natureza em paisagens arrebatadoras. “O jardim propõe uma reflexão sobre música e natureza, que os visitantes percorrem caminhando, percebendo a importância de ver ao longe, já que se trata de uma subida, mas também podendo interagir de perto com os elementos naturais e artísticos”, diz a harpista e uma das criadoras do jardim, Cristina Braga.
Percorremos todo o caminho até o topo, onde fica o Jardim do Sol, uma espécie de platô em que se vê o pôr do sol de qualquer ponto, um encerramento de ouro depois de cerca de quatro horas de caminhada suave, duração média da visita. “A sensação de caminho percorrido é muito gratificante, porque o público vai realmente se envolvendo com a experiência física e mental ao longo do percurso. Este momento no Jardim do Sol é a celebração do trajeto completado, com a paisagem de fim de tarde, um escalda-pés e um lanchinho”, diz Cristina.”Lanchinho” é eufemismo para a fartura que nos esperava, num café da tarde que incluiu ceviche de tilápia, bruschetta marguerita, minitapiocas ao creme de tilápia, azeite e tomatinhos, sanduichinhos de pão sírio com salada e rosbife, escondidinhos com recheios variados, enroladinho de rosbife com legumes, torradinhas com pastinhas frescas e bolo caseiro com café. O clima pedia, e fizemos também um brinde com espumante, informal, sem frescuras, mas elegante e com um quê de festividade. De sobremesa, um sorvete de café feito também pela chef do bistrô, Gê Dantas, que traz o sabor do ingrediente de forma harmônica, sem deixar que ele tome conta de todo o paladar, mas remetendo à região do Vale do Café, com uma textura superleve, porém consistente.
Antes de chegar ao topo
Durante o trajeto ascendente, há mais de 20 pontos em que o visitante pode parar e interagir com as instalações incorporadas à natureza. Uma das primeiras que aparecem pelo caminho são teias feitas com finas, porém resistentes, cordas de nylon, amarradas aos troncos de árvores como se fossem uma grande rede, criação dos artistas Rafael Dias e Cedric Aveline. “A ideia é que as pessoas usem o corpo, subam, contemplem a copa das árvores deitadas, vejam, ouçam e sintam aquela paisagem sob uma outra perspectiva”, explica Cristina Braga. Com certo medo de um possível tombo, encarei a teia e, sem os pés no chão, observei, deitada,os longos troncos de eucaliptos, ouvindo o farfalhar de suas folhas, realmente uma experiência diferente de caminhar por entre as árvores, um trecho de Mata Atlântica abrigado pelo parque.
No Jardim dos Cristais, “espaço de reflexão sobre o reino mineral, a base natural de nossa eletrônica”, segundo Cristina, destaca-se a árvore que abriga um enorme cristal em seu tronco, criando um belo efeito, como uma peça de arte. Seguindo a rota, chegamos ao poético Jardim da Sabedoria, ponto da caminhada em que se descobre por que ganhamos uma fita no início dela. É para amarrar na Árvore das Infinitas Possibilidades e fazer um pedido, criando um cenário lindo e colorido, criado por quem já esteve por lá e deixou seus desejos, em incontáveis tiras de cetim que compõem a bela paisagem natural. “É bacana porque este momento cria naturalmente uma reflexão, e é também uma clara intervenção do público no espaço do parque, uma obra de arte e natureza sempre em construção”, diz Cristina. Não que eu seja das mais místicas, mas amarrei minha fitinha e me deixei encantar pelo balançar dela e das outras no vento de montanha, uma vez que já havíamos subido um pouco na trajetória.
Outra atração que seduz visitantes de qualquer idade é o Bosque dos Sinos, uma exposição permanente do parque, com peças de vários países do mundo, diversos tamanhos e sons, que convida a experimentar o toque para ouvir diferentes badalos. “Faz parte da nossa proposta de integrar a música, o som, à caminhada”, explica Cristina. Entre trilhas, mirantes e caminhos guiados, o grand finale do passeio (que antecede o farto lanche) é o surpreendente Labirinto da Música, o primeiro do mundo do gênero, que narra a história da humanidade por sua relação com a música, num percurso reflexivo e interativo sobre a importância dela e dos sons como ciência e arte, projeto da paisagista Maritza Orleans e Bragança. “A relação com o som e a música aparece desde os primórdios da humanidade e permeia nossas relações com o tempo, com o espaço, com as pessoas, com as descobertas científicas e muitos outros aspectos. Este lugar busca trazer isso à tona para o público, com instalações em que ele pode tocar, mexer e sentir um pouco destas conexões”, conta Cristina.
‘O retorno da luz’
Até o dia 30 de junho, o Uaná Etê, que não por acaso significa, em dialeto indígena, “multidão de vagalumes”, enche seus já belíssimos cenários de luz (e, como não poderia deixar de ser, de música também). O solstício de inverno será celebrado durante toda esta temporada no Jardim Ecológico Uaná Etê com mostra de instalações luminosas por todo o parque. “Quando a natureza escurece, o homem tem a oportunidade de tirar a luz que tem dentro de si. E a Festa das Luzes celebra a dualidade que este momento encerra: o dia mais escuro é também o início do retorno da luz”, resume Cristina Braga.
O projeto foi desenvolvido pelo diretor e iluminador Paulo Cesar Medeiros, na 1ª edição da Festa das Luzes, com a contribuição de premiados artistas da cena luminosa para refletirem a natureza do espaço. A exposição terá trabalhos de Edson Brossa e Rafael Turatti, premiados por suas instalações de arte e luz na Europa, e as obras interativas ficarão a cargo das cenógrafas Mina Quental e Nina Balbi; Paulo César também assinará peças inéditas, especialmente construídas para o evento.
No dia 17 de junho, haverá “Tambores, Concerto Performance no Cactário”, evento realizado no jardim criado com cactos da coleção pessoal do baterista, cantor e compositor Wilson da Neves, que batiza o local. Entre os dias 21 e 24, “Luz e Poesia no Labirinto da Música” traz apresentações poéticas musicais e contações de histórias ao pôr do sol. De 28 a 30, “Surpresas sonoras no jardim” promete experiências inusitadas aos vistantes na paisagem do parque e no último fim de semana, na “Festa de luz e som”, DJs “programarão” a natureza, com sets que buscam interagir com a paisagem do parque. Além de toda a agenda, quem for à Festa das Luzes ainda poderá se deliciar com temperos, queijos e vinhos da região do Vale do Café, harmonizados pela premiada chef Gê Dantas. A programação completa pode ser conferida no Facebook do Uaná Etê (https://www.facebook.com/uanaetejardim). Reservas e informações: (24) 2468-1550.