“As minhas músicas falam sobre mim”, afirma Isabella Taviani
Cantora e compositora carioca chega a Juiz de Fora com seu show voz e violão, nesta sexta
Pode parecer que aquelas músicas de rasgar o peito não cabem mais à cantora e compositora Isabella Taviani. Ela, que surgiu sobretudo no começo dos anos 2000 como uma artista que traduz os sentimentos mais dolorosos do amor, é casada há anos com a cantora Myllena (que já morou em Juiz de Fora) e é mãe de dois filhos de 4 anos. Essa sua nova versão, muitos acharam, poderia fazer com que suas músicas mudassem de tom. Mas a verdade é que não mudaram. Isabella Taviani segue falando de amor. Claro que algumas apresentam esse sentimento da forma como deve ser: leve. Mas vez ou outra ela abre uma gaveta onde guarda memórias antigas para se inspirar e criar uma canção. Com um repertório composto pelos seus clássicos, suas trilhas amorosas, ela chega a Juiz de Fora nesta sexta-feira (12), para um show no Teatro Paschoal Carlos Magno, a partir das 20h. Os ingressos ainda podem ser adquiridos no link.
Isabella Taviani cresceu em uma casa musical, de fato. Mas as referências que tinha ali vinham de uma vertente mais erudita. Eles ouviam, sim, a MPB. Mas sua mãe, bacharel em música, dava aula para crianças com foco na música erudita e seu avô era cantor de ópera. Sua rotina era ir a apresentações no Rio de Janeiro de montagens de ópera. Ouvia muito isso dentro de casa, principalmente a prática. E quando teve vontade, então, de estudar canto, entrou no lírico, com 16 anos. Naquela época, o canto popular ainda não era tão ensinado como é hoje. Foi, de qualquer forma, a maneira como começou a se profissionalizar no canto.
“Nunca foi meu foco ser cantora lírica. Eu me apresentei como solista de coral e tudo. Mas minha paixão sempre foi a MPB. Eu aprendi o violão para tocar as canções da MPB. Mas, claro, o canto lírico e o teatro, que eu fiz por dois anos na CAU, fizeram uma base muito grande para mim, na minha forma de cantar e interpretar. Tudo somou e foi muito bom”. E antes de ter certeza de que sua vida musical seria dedicada à música popular, Isabella Taviani, aos 16 anos, já compunha – sempre de forma confessional.
Ainda na escola, e também com 16 anos, participou de um festival de música em que ganhou cinco dos nove prêmios que estavam em disputa. “Foi isso que me abriu os olhos para estudar a área. Porque eu entendi que levava jeito”. Essa sua característica de cantar o amor começou anos mais tarde, depois do fim de um relacionamento longo. “Foi o momento em que eu comecei a compor essas canções confessionais de amor que eu ainda faço”. Ela já tocava na noite carioca, mas quando decidiu apresentar suas composições, o jogo virou, de fato, na sua carreira. Em 2003, ela debuta com um álbum que leva seu nome.
Cantora e compositora
Por muito tempo, suas canções ficaram guardadas. Eram apresentadas vez ou outra. Quando, no final dos anos 1980, conhece Adriana Calcanhoto, tudo muda. “No início dos anos 70 e 80, muitas mulheres interpretavam canções escritas por homens. Mas chega a Adriana Calcanhoto que, para mim, foi uma mudança. Eu comecei a entender que a gente precisava compor e falar por nós. Nós mulheres precisamos escrever nossas músicas com os nossos sentimentos, nossos pesos, medos e amores. Para mim, Adriana abriu os meus olhos e, a partir dos anos 90, você precisava estar na frente e dizer quem é você. As minhas músicas falam sobre mim. E isso foi a minha maior virtude: ser uma pessoa muito verdadeira nas minhas composições. Quase 80% das minhas músicas são coisas que eu vivi, ou penso em viver ou estou vivendo.”
E é exatamente por escrever suas realidades que Isabella Taviani acredita que há tanta identificação com o seu público. “Eu canto o que as pessoas estão passando. Deu certo até aqui e acho que não dá para mudar mais”. As pessoas, realmente, acharam que, casada e com filhos, ela mudaria de temática. Tanto que conta que, quando estava fazendo “Máquina do tempo”, seu último álbum, recebeu uma mensagem de uma fã dizendo que achava que nunca mais ia escrever aquelas músicas “pesadas e dramáticas”. No que ela respondeu: “É claro que vou”.
Isabella Taviani é trilha amorosa
Vivendo um amor tão sonhado, ela tem como um método para escrever as dores de amor: “Eu abro minhas ‘gavetinhas’ que, no teatro, a gente chama de memória emotiva. Você se submete àquela situação novamente, sente a situação, para que você possa interpretar. Eu me coloco de novo naquele lugar, abro a gavetinha, e faço a canção. Eu continuo me inspirando em tentar fazer com que as canções sejam o tema das pessoas.” “Diga sim para mim”, por exemplo, é trilha do pedido de casamento de diversos casais. A música ficou mais conhecida em outras versões que não a de Isabella. Mas foi ela quem escreveu.
Seu último lançamento é “Dois babies e uma casa de campo”. Essa, sim, é um retrato desse momento em que vive. Ela começou a ser feita ainda em 2018, quando nem imaginava que teriam gêmeos. E a vontade de ter um espaço no campo já era latente. Ela ficou guardada por um tempo até que decidiu, por fim, lançá-la. “Eu realmente escrevi essa canção pensando que eu passei a vida inteira falando do amor difícil e doído, mas o amor tem que ser leve, tem que te jogar para cima, tem que te dar asas e incentivar. Essa música é o meu momento pleno.” Mas ela já antecipa que outras coisas virão.
De olho no futuro
Isabella Taviani decidiu dar um tempo nas gravações de álbuns e se dedicar a lançar single. Ela acredita ser uma forma de ter mais liberdade. “A gente, como artista, tem que estar sempre nesse desconforto. Isso é uma palavra interessante para quem trabalha com arte. A gente não pode ficar acomodado em um movimento único. A gente precisa se desconstruir. Ter uma inquietação que não dá para parar. A gente precisa estar olhando para o futuro.” Dito isso, lança, já na próxima semana, seu primeiro samba, feito junto com Myllena, inspiradas em Paolla Oliveira.
Não é o primeiro samba que compõe. Outros já nasceram, mas sempre ficaram guardados. Este, em específico, ela decidiu lançar. “Eu achava que não era capaz de fazer isso. Mas o meu empresário me incentivou a me jogar. E eu acho que fazer samba é uma coisa muito potente e poderosa. E o Brasil é essa nação do samba. E eu como brasileira pertenço a essa nação e sei que posso cantar samba, mas eu tenho muito respeito pelos sambistas. Fomos com a cara e coragem, pedindo licença aos sambistas. Mas, por que não? Por que eu não posso tentar?” Antes mesmo do lançamento, já está de olho no próximo, que deve sair daqui três meses. É uma música antiga que ela recuperou, daquelas “pancadas”, como diz, de que tanto gosta.
O show
Esta turnê que chega a Juiz de Fora é um passeio pelos seus 20 anos de carreira. É ainda uma forma de ela se reconectar com sua própria trajetória. “Eu tinha esse desejo de ir para todos os lugares, revisitar a minha carreira como eu comecei: as minhas canções, a minha voz, o meu violão, e o público”. Ela tem rodado o Brasil com esse show, que diz ainda que está se reconectando com seus fãs. A ideia, depois, é uma gravação audiovisual de alguns sucessos, seguido por uma outra gravação. “Mas esse formato é um exercício para mim. Estou muito feliz. Pego o meu violão, coloco nas costas, e vou para qualquer lugar. As canções não mentem.