‘É só poesia’: relembre momentos de Lô Borges em Juiz de Fora e legado do artista
Gravação de compositor juiz-forano, participação surpresa em show do movimento grevista e ‘caminhada’ cercada de fãs até o Faisão Dourado são algumas das histórias do artista

A passagem de Lô Borges pelo mundo deixou muitas marcas: dentre elas, a fundação do Clube da Esquina, o “disco do tênis” e outros tantos sucessos que o tornaram um imortal da música brasileira. O artista esteve em Juiz de Fora algumas vezes ao longo de sua carreira e, nessas vindas, fez shows que marcaram a vida dos fãs. Nessas visitas, também se formaram laços de amizade, parcerias e até surpresas, como a gravação da música “A força do vento”, do juiz-forano Rogério de Freitas, a participação surpresa em show durante manifestação dos professores e uma caminhada cercada de afeto até o restaurante Faisão Dourado. Quem o conheceu, nessas ocasiões, não tem dúvida: é um artista que fará falta em cada canto do Brasil. Toda uma história resumida na letra de “Um girassol da cor do seu cabelo”: “É só poesia”.
Era começo dos anos 2000 quando Lô Borges veio para Juiz de Fora fazer dois shows no Cultural Bar, um na sexta-feira e outro no sábado. Isso já era mais que o suficiente para animar os fãs juiz-foranos. Mas, nessa vinda, aconteceu uma outra apresentação, fora das apresentações já previstas, que marcou também a vida dos membros da banda Eminência, formada em 1986. “O pessoal do movimento grevista dos professores estava com uma manifestação marcada para o sábado de manhã, um momento em que o artista que tocou a noite costuma estar no espírito de descansar e se preparar para o próximo. Mas duas professoras o procuraram e perguntaram se ele não daria uma canja em apoio ao movimento”, relembra Edson Ferenzini, jornalista e músico da banda. Quando soube do convite, não acreditou que o artista realmente apareceria.
Mas, perto das 10h, ele conta que Lô realmente apareceu e topou dar uma “canja” com eles. “É um artista que escreveu, junto com o Milton e o Márcio Borges, ‘Os sonhos não envelhecem’. São figuras que sempre falaram da utopia e da necessidade de continuar acreditando, então tinha essa força ali”, relembra. Pessoalmente, para ele, também foi uma conquista: a primeira vez que dividiu o palco com um ídolo de adolescência. “O disco Via Láctea foi um dos primeiros que me fez ter vontade de participar da música, poder colaborar. Era um disco elaborado com pé na MPB mas que tinha algo jovem pra época, que dialogava com a cultura pop e com o rock progressivo, que eram coisas que eu estava descobrindo”, conta Edson.

Para-raios de melodia
Quando o Eminência foi alinhar com Lô o repertório, nessa apresentação, uma das músicas escolhidas foi “A força do vento”. Essa canção é de Rogério de Freitas, e foi gravada por Lô Borges, em outra história que tem Juiz de Fora como cenário, como relembram Luiz Claudio Ribeiro, o Cacaudio, e Márcio Itaboray. “O Rogério era nosso colega no curso de Engenharia, na UFJF, e escreveu a música inspirado pelo Lô. Então, quando soube que ia ter um show dele aqui, ficou louco para mostrar a ele. Aí mandou uma fita cassete gravada com a música para o Lô, e ele de fato escutou e gostou muito”, conta Cacaudio, diretor do Cine-Theatro Central. A canção, posteriormente, ganhou arranjo de Toninho Horta. Se Milton definia Lô como um “para-raios de melodia”, essa história, para Cacaudio, mostra que, além disso, ele também tinha a capacidade de “captar a melodia na vida e transformar em canções que ficam com a gente”.
Para Márcio, essa história também mostra uma das principais características do artista: a generosidade e a abertura para o mundo. Entre as referências, que iam dos Beatles ao barroco mineiro, também sempre havia espaço para o novo. Ele, que conheceu Lô Borges, Milton Nascimento, Fernando Brant e todos os membros do Clube, e se reconhecia como um agregado deles em Juiz de Fora, viu de perto muitas das vindas dos artistas a Juiz de Fora, e se lembra delas sempre com carinho. Dentre essas, um show específico em que Lô desceu do palco e continuou tocando em meio aos fãs. “Ele rodava dentro do ginásio, entre as pessoas que estavam eufóricas cantando com ele. Depois, fomos a pé até o Faisão Dourado, e ainda teve gente que veio atrás”, relembra Márcio, que é médico e também músico.
Invenção até o fim
Lô Borges também é lembrado, por eles, não só como um artista que mudou a história da música brasileira com apenas 20 anos. Mas como alguém que, até o final da vida, trouxe novidades e invenções conforme criava. “O Lô partiu não como um artista da década de 70, mas como um artista que tinha acabado de lançar um álbum. É um cara que foi um artista do século XXI, produzindo intensamente”, destaca Edson.
A jovialidade do Lô é algo que sempre impressiona Márcio, que via nesse jeito elétrico dele a vontade de continuar contribuindo para a música, de uma forma que permanece sempre relevante. “Se as próximas gerações da música realmente conhecerem a música do Lô Borges, do Clube da Esquina, vão fazer músicas muito melhores”, reforça.
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