Praça São Mateus recebe obra de Adauto Venturi

Fixada na última segunda, obra tem cinco metros e foi feita em aço e fibra de vidro
Cerca de 3.700 veículos passam, por hora, pela Avenida Presidente Itamar Franco, na altura entre as ruas Dr. Romualdo e Padre Café, segundo levantamento da Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra). Considerando que parte desses automóveis conta com mais de uma pessoa, e acrescendo a este cenário o incessante deslocamento de pedestres, este é um dos lugares a provar o movimento da cidade. Trabalhadores ou não, de diferentes gêneros e opções, de recém-nascidos a quase centenários, está ali um fragmento da nossa disforme sociedade. Em comum, o fato de todos carregarem o peso (e também a leveza) de suas próprias histórias, gesto agora representado pela obra “Como pode o homem sustentar o firmamento?”, terceira escultura do projeto “Desnudamento de ícones”, assinado por Adauto Venturi e financiado pela Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura. Com mais de cinco metros, o trabalho é uma releitura da famosa imagem do deus Atlas.
“Acho um dos mais interessantes ícones da história da mitologia. O atlas era um dos titãs e disputava o poder com Zeus, que por ser mais forte acabou dando-lhe essa responsabilidade de sustentar o firmamento. Isso é muito representativo”, conta Venturi, que acabou por jogar luzes sobre um lugar antes utilizado como parque infantil, com um grande espaço tomado de areia e frequentado por famílias durante a década de 1990. Recentemente, após passar por uma revitalização, a área criada no entorno de uma frondosa árvore transformou-se em um grande canteiro gramado e, logo ao lado, onde na década anterior era um lugar para crianças andarem de skate, patins e bicicleta, agora é o parque infantil com areia.
“Esse é um lugar por onde todo mundo passa, tem um movimento que é quase o mesmo do centro da cidade. É uma praça com grande movimento de jovens, tem uma quadra na qual eles jogam bola, além de fazerem música. É um espaço de integração dos moradores”, comenta o artista, que traz beleza a uma tradicional praça, que sempre serviu à arte, seja pelas vias da feira de artesanato, seja pelos saraus de poesia da década de 1980. Em meio ao caos das horas de rush, a escultura traz um questionamento subjetivo, sensível e demasiadamente caro aos dias de hoje. “Questiono o fato de o ser humano sustentar tudo nas costas. As pessoas, hoje, têm uma responsabilidade muito grande com a vida, com a obrigação de sobreviver”, diz Venturi.
Repleta de detalhes e bem maior do que as outras duas esculturas já fixadas pela cidade (uma na praça entre a Alameda Pássaros da Polônia e a Ladeira Alexandre Leonel, e a outra na praça situada no cruzamento entre a Avenida Rio Branco e as ruas Morais e Castro e Dom Silvério), o novo trabalho, que chegou ao local na segunda-feira e ainda carece de uma placa de identificação – deve ser inserida essa semana, quando o artista dá os últimos retoques -, é impactante.
De acordo com Venturi, ela já deveria ter sido instalada, mas quando ele viu as outras duas, percebeu que as obras poderiam ser maiores e decidiu ampliar a escala. Com isso, a finalização do projeto deve ocorrer somente no primeiro semestre de 2015. Tempo bastante para criar inúmeras interpretações. O artista dá algumas pistas: “Penso no microcosmo também, o que está no interior da cabeça das pessoas. Na minha releitura, fiz a metamorfose da cabeça dele com o cosmo, para sugerir isso”.