Entrevista exclusiva: Rodriguinho fala sobre legado no pagode e novo projeto acústico
Em conversa com a Tribuna, cantor e compositor explica como é o seu processo criativo, aborda a reinvenção na carreira e destaca a importância da família no palco com o projeto ‘Legado’

Ícone do pagode nos anos 1990 e 2000, Rodriguinho marcou gerações com hits como “Quando a gente ama” e “Tô te filmando (Sorria)” à frente do grupo Os Travessos. Com uma trajetória que une sucesso comercial e reconhecimento no gênero, o artista se consolidou como uma das vozes mais marcantes do país. Em 2004, seguiu carreira solo e, desde então, ampliou sua atuação como cantor, compositor e produtor musical.
Além de emplacar sucessos próprios, Rodriguinho escreveu músicas para nomes como Thiaguinho, Belo, Exaltasamba e Pixote, e produziu álbuns de artistas como Péricles e Turma do Pagode. Essa versatilidade ajudou a moldar o som do pagode contemporâneo e reforçou sua relevância ao longo de mais de 30 anos de carreira.
Neste sábado (12), o cantor se apresenta no Samba nas Alturas, às 21h, no Centro Universitário Univértix, no Bairro Cruzeiro do Sul. Em entrevista à Tribuna, ele falou sobre o processo criativo, o novo projeto acústico, o trabalho em família no projeto “Legado”, o cenário atual do pagode e os desafios de manter uma carreira consolidada no gênero.
Tribuna: Você é cantor e também um dos grandes compositores do pagode. Como funciona o seu processo criativo? Tem alguma composição que considera mais marcante na sua trajetória?
Rodriguinho: “Então, eu tenho muita facilidade pra escrever. Assim, eu gosto muito. Na realidade, todas as parcerias que eu tenho de composição, eu escrevo sempre a maior parte da letra. Eles vêm com as harmonias, né? Com as melodias… e eu sou mais letrista. Ali, no meio do caminho, faço alguma coisa de melodia. A gente vai ajeitando algumas coisas da letra. Mas, pra mim, é muito tranquilo. Eu gosto muito de compor. Eu gosto muito de me inspirar nas pessoas, fazer as histórias.”
O pagode dos anos 1990 e 2000 tinha uma estética muito própria, com letras, arranjos e moda marcantes. O que você sente que se perdeu daquela época? E o que foi um ganho na nova geração?
“A estética era bem diferente nos anos 1990. Eu acho que se perdeu um pouco. Acho que hoje tá tudo muito igual, né? Hoje parece que criaram fórmulas e que só vai acontecer, se seguir essas fórmulas. Então, acho muito igual. Acho que tá faltando um pouco de personalidade nos artistas de hoje, do samba, falando mais do meu segmento. Falta um pouquinho. Mas, em relação à musicalidade, à qualidade musical, eu também acho que melhorou bastante, muita coisa.”
O que o pagode daquela época tinha que falta no de hoje? E o que o de hoje traz que você gostaria de ter vivido lá atrás?
“Hoje, a gente tem uma chuva de regravações, daquela época inclusive. Aquela parada… a gente vive um pouco do ‘a gente era feliz e não sabia’, assim. E é muito bom, né? É muito bom porque mantém a chama das nossas carreiras, da gente que veio dos anos 1990, acesa, né? É muito bom.”
O projeto “Rodriguinho acústico” tem conquistado o público. Como surgiu a ideia?
“É um projeto que eu sempre tive vontade de fazer, até para contar, fazer uma cronologia da minha carreira e contar um pouco sobre as minhas formações musicais. Coisas que eu sempre ouvi desde criança e que me inspiraram a fazer o som que eu faço. O meu som não é baseado somente no samba, mas em uma série de outros segmentos. Eu gravei algumas dessas músicas nesse Acústico.”
Como foi montar o repertório e qual música você considera indispensável nas apresentações? O que o público de Juiz de Fora pode esperar para este show?
“Com certeza, é a minha discografia. Independente de eu gravar outras músicas, é a primeira vez que eu faço um trabalho onde tem tanto cover, eu cantando, eu gravando tanta coisa. Mas o que não pode ficar de fora é a minha discografia. Nunca posso fazer um show sem cantar ‘Sorria’, ‘Quando a gente ama’, por exemplo. E o público de Juiz de Fora pode esperar essa história, eu contando essa história no palco.”
Você já falou publicamente sobre as mudanças na sua voz e sobre adaptar as músicas para o seu tom. Como tem sido o cuidado com a saúde vocal e esse processo de reinvenção?
“Eu faço um cuidado semanal com a voz. Eu tenho uma preparadora vocal, e faço esse cuidado semanal com a minha voz. Até pelo tempo que eu canto, tento deixá-la o mais saudável possível, porque, mesmo com tanto tempo de estrada, eu ainda faço muitos shows. Fim de semana é coisa de quatro, cinco shows, então eu tenho que estar sempre bem.
E eu acho que não só a voz, mas também me preparar fisicamente para aguentar isso, porque, cansado, eu também não rendo muito. Então, eu me preparo fisicamente também para os shows.”
Essa mudança também te fez redescobrir outras facetas como intérprete? O que mudou na sua forma de cantar e de se preparar para os shows?
“Eu acho que, quando a gente vai ficando mais velho, vai descobrindo algumas saídas para o seu canto continuar bonito, para a sua produção continuar bonita. Algumas saídas também, outras coisas dentro do seu trabalho, que não sejam só a parte musical, mas também a parte visual, a parte do show, das apresentações ao vivo. Porque, depois de tanto tempo cantando, produzindo e compondo, eu acho que tenho bastante a mostrar. Não só a parte do cantor Rodriguinho, que acho que é a parte que mais me projetou, mas é a que eu faço menos. Os shows… eu gosto muito de produzir. Não é que eu faça menos, mas é a que eu me sinto menos afoito para fazer. Eu gosto muito de produzir, gosto muito de compor.”
No Legado, você canta com seu filho Gaab e seu irmão Mr. Dan. Mais do que música, é sobre família no palco. Como essa relação influencia o resultado artístico? Há momentos em que o lado pai e irmão fala mais alto que o lado profissional?
“Trabalhar com a família é uma coisa muito louca, é muito bom. É muito bom estar em cima do palco, olhar para o lado, ver seu irmão, ver seu filho, ver sua mãe. Às vezes ela está com a gente. É muito bom.”
Três gerações de artistas, estilos e vivências diferentes. O que você aprendeu com o Gaab e o Mr. Dan trabalhando juntos? E o que acha que eles aprenderam com você?
“Eu aprendo com eles diariamente, né? O Gaab trouxe essa jovialidade para o legado. É a galera mais nova que curte o trabalho dele e faz a gente se antenar mais no que está acontecendo no mercado, né? Sair um pouco da caixinha, do que a gente sempre faz. O Dan… a disciplina dele é fantástica, é uma coisa que eu aprendo diariamente com ele: a ser disciplinado. Ele é muito centrado, muito convicto do que faz, né? E o que eles aprendem comigo? Cara, sei lá. Eu acho que toda essa minha vivência… os dois já trabalharam comigo antes de ter as carreiras, né? Então, eu acho que tudo o que eles fazem hoje, com certeza, tem um pouco do que eles aprenderam comigo. E o que eles viram eu ser na estrada, o que eles viram eu ser artisticamente… com certeza eu sou uma referência para eles, como eles são para mim.”
O nome “Legado” carrega um peso simbólico. Que “legado” você quer deixar para o pagode e para a música brasileira?
“Eu quero deixar um legado de boas músicas, um legado de muita qualidade, um legado significativo. Eu acho que a gente vive uma era de músicas para dançar, músicas para curtir, mas músicas que passam muito rápido. Essa não é a minha vontade. Eu gosto de fazer músicas que vão se eternizar, assim como eu já tenho algumas. Vai passar ano, entra ano, e a galera ainda vai cantar. Esse é o meu trabalho diário: fazer esse tipo de música. Chegou uma hora que eu até me pego brigando comigo mesmo, brigando com as minhas músicas, na minha carreira mesmo. É difícil passar alguma coisa que você já fez, mas eu não desisto. Isso é uma coisa visceral para mim, é o que eu faço diariamente.”
Se pudesse resumir a sua trajetória em uma palavra ou frase, qual seria?
“Eu acho que é uma carreira com muita personalidade. Eu sou um cara que não olho para o lado, então eu acho que é uma carreira com personalidade.”
*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli