Viagem ao país do ‘é possível’
Para muitas bailarinas iniciantes, o público é um desafio. Ao topar com os primeiros olhares atentos, muitas meninas não conseguem repetir a performance dos ensaios. Com Lavínia Barcelos Araújo, 13 anos, acontece exatamente o contrário. Em cena, ela cresce. Assim enfatiza a professora Myriam Mockdece, que acompanha a trajetória da menina desde os 9. "Ela é dedicada e muito expressiva." Os elogios significam reconhecimento, mas também revelam saudade. Lavínia acaba de se transferir para o Rio depois de ser aprovada na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, que pertence ao Theatro Municipal. Ela concorreu com cerca de 400 bailarinas de todo o país na categoria dela.
Até os 17, a jovem juiz-forana irá estudar teoria e prática. Depois, passará por uma nova seleção para o corpo de baile do teatro. A mãe de Lavínia, Marília Barcelos, conta que o sonho da filha sempre foi participar de uma grande companhia. Ficar em Juiz de Fora, portanto, estava fora de cogitação. "Eu e o pai apoiamos, pois queremos a felicidade dela", comenta Marília, que também está de mudança para a capital carioca. Segundo Myriam Mockdece, a hora da despedida chega para toda bailarina talentosa que vive por estas bandas. "Só não imaginei que seria tão cedo. Tenho sensação de perda, mas também de dever cumprido."
Perfeccionista, Lavínia fez questão de conferir as fotos tiradas pelo fotógrafo da Tribuna, uma a uma. Se um dedinho estivesse fora do lugar, nada feito. "Penso em cursar faculdade de dança e sair do Brasil", planeja a jovem. Myriam destaca a assiduidade e o físico da aluna, que começou no balé aos 3 anos e também toca piano e pinta quadros. "Não adianta ser muito magrinha, pois é preciso ter força muscular", explica a professora.
Outra que comemora a aprovação na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa é a juiz-forana Mariah Loureiro, 17 anos. Também ex-aluna de Myriam Mockdece, ela optou por permanecer na escola carioca Petit Danse, onde já estava desde o ano passado. "Mesmo assim, posso fazer a prova do Municipal." De acordo com Mariah, não há oportunidades por aqui, fato que a fez sair o quanto antes. "A cidade deveria ter um corpo de baile", lamenta, comentando que todas as suas tardes e noites são ocupadas por aulas. A jovem não pensa em fazer graduação em dança, já que não pretende ser professora. "Planejo cursar publicidade ou design, mas sem abandonar o balé."