Morre Gilvan Procópio Ribeiro, escritor e professor da UFJF
Amigos e alunos falam sobre o mestre e refletem sobre seu legado
Faleceu nesta segunda-feira (10), aos 76 anos, Gilvan Procópio Ribeiro, professor associado da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (Fale-UFJF) desde 1973. Poeta e militante político, ele é lembrado pela família, amigos e alunos como um homem generoso, apaixonado por dar aulas, grande conhecedor da literatura e figura central na formação de novos professores.
Gilvan nasceu em Rio Novo, onde morou até os 13 anos de idade. Aos 20, em Juiz de Fora, começou a escrever poesia no jornal “Diário Mercantil”. Além de suas contribuições na graduação e pós-graduação na disciplina de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras, também foi professor da Faculdade de Comunicação (Facom) e criador e escritor do jornal alternativo “Bar Brazil”. É autor dos livros “Murilo Mendes: O visionário” e “Centro Cultural Pró-Música: Juiz de Fora – uma contribuição de 25 anos”. O velório será no Cemitério Municipal, nesta terça (11), das 15h às 17h.
Amigos e alunos falam sobre o mestre
Anderson Pires, professor da Fale, conta que foi aluno e orientando de Gilvan entre 1995 e 1997, e já adianta que o que diz é bastante semelhante ao que os outros alunos do mestre vão dizer: Gilvan era mais que um professor e orientador, “era uma pessoa que te apoiava muito, te abraçava dentro da Universidade”.
Para Anderson, esse é um dos motivos pelos quais o professor não pode ser esquecido e fará tanta falta. “Para aqueles alunos que, como eu, não vêm de uma família acadêmica, mas de uma outra vida, ele era a pessoa que acolhia e orientava, que tinha paciência com os erros. Ele abriu muitas portas para pessoas que queriam estudar coisas diferentes, tinha uma mente aberta e espírito livre”, conta.
A também ex-aluna e amiga pessoal Waldilene Miranda, que foi acompanhada por ele desde a graduação até o doutorado, conta que, apesar da aparência muito séria, ele era o professor que mais reunia alunos em torno dele, onde quer que estivesse. Ela diz que sua sala de aula era um espaço acolhedor, que estava sempre disponível, já que “era um lugar em que os alunos se sentiam acolhidos e podiam chegar a qualquer momento. Lá, a conversa, que poderia ser despretensiosa, virava sempre uma aula”.
Nas suas redes sociais, o escritor e também professor da Fale Edimilson de Almeida Pereira publicou: “Nessa tarde de chuva contínua em Minas Gerais, o querido amado amigo Gilvan Procópio Ribeiro fez a sua Passagem. Há muito o que dizer sobre ele, para ele e para os/as que tiveram o privilégio de aprender com ele sobre beleza, liberdade, justiça social. Suas aulas continuam pelas salas, corredores, cantina e pensamento de quem palmilhou – e seguirá escrevendo – a convivência na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. O coração está amaro hoje, meu amigo, amaro, mas sereno por tudo que você nos ensinará, sempre”.
Simplicidade e conhecimento vastos
Para Leonardo Mattos, também ex-aluno e amigo próximo do professor, a contribuição de Gilvan marca os alunos pela simplicidade com que transmitia seu vasto conhecimento. Com décadas de leituras intensas e profundas, ele ensinava os alunos a como ler um autor, as estratégias estilísticas e o que distingue uma grande narrativa de um simples relato.
A marca dele era justamente a acessibilidade e o respeito por quem está começando. “Ele gostava de estar com pessoas, era um ser da sala de aula. Educar era seu ofício. E ele o fazia fosse de frente para a turma, sentado na sala de literatura, na cantina ou na porta da Faculdade de Letras esperando o táxi para voltar para casa”, descreve Leonardo.
Waldilene relembra que Gilvan dizia que mesmo que não pagassem a ele pelo trabalho que fazia na UFJF, ainda sim ele o faria. “Para ele aquilo não era só um trabalho, aquilo era vida, um prazer. Ele dizia que o lugar em que mais se sentia bem na vida era na universidade com os alunos.”
Foram várias gerações de professores que aprenderam com ele, compartilharam conhecimentos e tiveram ensinamentos valiosos. Waldilene relembra que ele estava sempre disponível, inclusive fora da sala de aula – para ele, a sala de aula era a universidade inteira. Mas a sua contribuição ultrapassa isso – “o Gilvan não formou só professores, ele formou pessoas. Eram contribuições para a vida”, ela diz. “Um intelectual cuja imensa falta será suprida por meio do legado deixado por ele e perpetuado por seus discípulos”, finaliza Leonardo Mattos.
Margarida Salomão fala sobre a perda
Em sua conta no Twitter, a prefeita Margarida Salomão (PT) falou sobre a perda do professor, que também foi seu colega de profissão. “Preciso manifestar minha tristeza pelo falecimento do querido professor Gilvan Procópio Ribeiro, da Faculdade de Letras da UFJF. Gilvan entrou na Universidade no mesmo concurso que me aprovou também, na ocasião, para Literatura Brasileira. Eu o conheci como comunista na ditadura, um apaixonado combatente inspirado na reflexão de Gyorgi Lukacs. Um militante político ativo e desassombrado, um fino poeta, um belo leitor de literatura, um professor muito querido de seus alunos. Morre com Gilvan uma parte da inteligência crítica de Juiz de Fora. A felicidade é que, na labuta como cultivador de talentos, deixa um legado de pensamentos e de pensadores, cuja produção é o melhor monumento à sua memória. Meu abraço e solidariedade a seus familiares, especialmente a seu filho Leandro, a quem desejo força nesse momento de dor”.