Ponto final na Terra Média


Por JÚLIO BLACK

10/12/2014 às 07h00

Bilbo Bolseiro enfrenta sua batalha pessoal ao tentar não ser corrompido pelo Um Anel

Bilbo Bolseiro enfrenta sua batalha pessoal ao tentar não ser corrompido pelo Um Anel

Dragão Smaug resolve que é hora de agitar a noite da Cidade do Lago

Dragão Smaug resolve que é hora de agitar a noite da Cidade do Lago

Há 17 anos, o neozelandês Peter Jackson iniciou uma jornada inesperada que começa a escrever sua última (?) e definitiva (?) página esta semana, quando “O Hobbit: a batalha dos cinco exércitos” estreia nos cinemas ao redor do globo. Em Juiz de Fora, a produção terá pré-estreia nesta quarta-feira, tomando as salas da cidade com a mesma intensidade de um orc a partir do dia seguinte, e encerra a adaptação da segunda trilogia baseada no universo do inglês J. R. R. Tolkien. A primeira, que teve como matéria prima os livros da série “O Senhor dos Anéis”, passou de forma avassaladora pelos cinemas entre 2001 e 2003, enquanto que a transposição de “O Hobbit” para a tela grande começou em 2012, com “Uma jornada inesperada”, e continuou no ano passado com “A desolação de Smaug”.

Apesar de ter a menor duração (144 minutos) entre os filmes da derradeira trilogia, “A batalha dos cinco exércitos” vem com a promessa de amarrar todas as pontas ainda soltas e a realização de uma das maiores batalhas já vistas no escurinho do cinema, algo entre 40 e 50 minutos de Elfos, Anões, humanos, Orcs e outros bichos quebrando o pau pelo tesouro guardado na montanha de Erebor, antigo lar dos Anões.

E o encerramento da saga pela Terra Média começa com o gancho deixado por Jackson ao final de “A desolação de Smaug” (para quem ainda não assistiu ao filme anterior, a partir daqui os spoilers vão correr soltos): acreditando que humanos e Anões uniram-se para tentar roubar o tesouro acumulado sob a montanha, o dragão Smaug (voz cavernosa de Benedict Cumberbatch) parte para a Cidade do Lago disposto a queimar tudo o que aparecer à sua frente, mas é morto com uma flechada certeira do humano Bard. Com a notícia, Elfos, anões de outras facções e Orcs (estes sob o comando nos bastidores de Sauron) partem para a montanha a fim de amealhar o tesouro – ou matar todo mundo, no caso dos Orcs -, mas terão de enfrentar a disposição de Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage), cego pela ambição, de não dividir o ouro e pedras preciosas com ninguém.

Em meio a isso tudo, Gandalf (Ian McKellen) e Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) tentam fazer com que os lados beligerantes não partam para a destruição mútua. Nesta fase final, Jackson aproveita para mostrar o que vinha aos poucos se desenhando na trama: o quanto a ganância pode transformar até o mais nobre dos homens. Thorin, mesmo orgulhoso – como todo anão – da fortuna que pode conquistar, sempre prezou pela lealdade aos amigos da Companhia dos Anões e pelo senso de justiça, uma vez que Smaug expulsou seu povo de Erebor há 60 anos. Reaver as incontáveis toneladas de bens precisos, porém, fez com que ele esquecesse de quem esteve ao seu lado. Bilbo, ao mesmo tempo, continua a ser acossado pela corrupção do poder que o Um Anel sussurra aos seus ouvidos o tempo todo.

Uma jornada mais que esticada

Jackson, conhecido por filmes de terror sanguinolento de baixíssimo orçamento, começou a ganhar moral em Hollywood ao realizar o sinistro “Almas gêmeas”, em 1994, venceu a disputa para adaptar “O Senhor dos Anéis” em 1997 e peitou meio mundo para que os livros rendessem uma trilogia, ao invés de serem condensados em apenas um filme. Após filmar as três partes em pouco mais de um ano na Nova Zelândia, o cineasta conquistou o mundo com o lançamento de “A Sociedade do Anel”, em 2001, culminado com as 11 estatuetas do Oscar recebidas por “O retorno do rei”, de 2003.

Hollywood é pródiga por querer sugar até o tutano de uma fórmula que dá certo, e logo cogitou-se levar “O Hobbit” para os cinemas, desta vez com Guillermo del Toro dirigindo e Jackson na produção. Uma série de imprevistos e pendengas fizeram com que o neozelandês voltasse à cadeira de diretor, e eis que as pouco mais de 300 páginas do livro que apresentou ao mundo o universo da Terra Média viraram uma nova trilogia, aproveitando elementos citados em “O Senhor dos Anéis”, notas de rodapé e escritos inacabados de Tolkien.

Muita gente ficou ressabiada com a pretensão de Peter Jackson, e com razão em alguns momentos. “Uma jornada inesperada”, com suas quase três horas, é demasiadamente longo, podendo perfeitamente ter uns 50 minutos a menos. Toda a parte que resulta na aceitação de Bilbo em participar da aventura, por exemplo, poderia ser reduzida à metade. Mesmo que “A desolação de Smaug” seja bem superior, ele também sofre com o alongamento de certas tramas e destaque exagerado em alguns personagens. A impressão que se tem é que os protagonistas estão num videogame ou RPG, tendo que cumprir fases para seguir em frente. Cada cinco minutos de descanso é seguido por alguma batalha ou anões fugindo de ameaças – a propósito, eles são capturados uma meia dúzia de vezes nos dois primeiros filmes, seja por orcs, elfos, humanos, aranhas, trolls…

Ao mesmo tempo, os efeitos especiais e as cenas de batalhas são impressionantes, reservando alguns momentos memoráveis à saga. O duelo intelectual entre Bilbo e Gollum no primeiro filme é perfeito. Na sequência, a batalha entre anões, orcs e elfos no rio que dá para a Cidade do Lago é estupenda, assim como o confronto entre os anões e Smaug, mas é o atemorizante diálogo entre o dragão e o Hobbit o ponto alto, até agora, de “O Hobbit”. A expectativa para o derradeiro capítulo, assim, não deixa de ser a melhor possível.

O HOBBIT: A BATALHA DOS CINCO EXÉRCITOS

UCI 3 (3D): hoje, às 21h. Alameda 5 (3D/dub): hoje, às 21h30

Classificação: 14 anos

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