Hitmaker de voz própria

Antonio Villeroy é parceiro de longa data de Ana Carolina
O leitor pode até não saber ou desconfiar, mas Antonio Villeroy é dos mais onipresentes artistas da música brasileira. Ele está no seu CD, no MP3 player do celular, no aplicativo de streaming, na novela, na rádio, no cinema, pen drive, tanto soltando a própria voz nas composições de seus sete álbuns de carreira quanto cedendo suas músicas para artistas como Ana Carolina, Gal Costa, Ivan Lins, Maria Gadú, Zizi Possi, John Legend, Jesse Harris, Maria Bethânia e uma lista quase interminável. E é o cantor, compositor e produtor musical de voz própria que se apresenta pela primeira vez em Juiz de Fora, nesta quinta-feira, com o show de divulgação do álbum “Samboleria”, de 2014, acompanhado do baterista Marquinhos Fê. No repertório, canções do mais recente disco, como “Te vês tan bien”, “Uni duni tê” e “Samboleria”, e sucessos como “Recomeço”, “Pra rua me levar” e “Sinais de fogo”, além de algumas nunca lançadas oficialmente.
Tocar na cidade de uma das artistas que ajudou a revelar (Ana Carolina) faz com que o gaúcho de São Gabriel possa se sentir “em casa”, afinal não é a primeira vez que Villeroy vem a Juiz de Fora. A relação dele com Minas Gerais, inclusive, é ainda mais antiga. “Fui muito influenciado pela música mineira e conheci Ana Carolina em Belo Horizonte. Foi assistindo a um show dela em uma casa noturna, em 1997, que compus ‘Garganta’. Ficamos muito amigos, conheci toda a sua família, tenho um amor muito grande por ela e por sua mãe, a Dona Aparecida. Depois conheci primos, tias e amigos de Juiz de Fora, então, por extensão, acabo tendo uma relação afetiva com a cidade, embora nunca tenha me apresentado aqui”, conta. “Não tenho o número exato, mas são quase 30 canções que Ana gravou com minha assinatura, boa parte delas feita em parceria com ela, em dias e noites de trabalho intenso. É uma alegria muito grande cantar na cidade onde ela nasceu e passou uma parte importante da sua vida.”
Inspiração e muito trabalho
Além de Ana Carolina, Antonio Villeroy já teve suas músicas gravadas por diversos artistas, trafegando entre pop, samba, MPB, rock etc. Muitas dessas composições já poderiam estar ali, apenas esperando encontrar uma voz para virem ao mundo, mas o artista gaúcho também precisa lidar com aquelas músicas que são encomendadas – e aí é preciso, além da inspiração, encarar trabalho duro. ‘Pablo Picasso dizia que ‘a inspiração existe, mas tem que te pegar trabalhando’. Portanto, as músicas feitas por encomenda te obrigam a sentar e trabalhar, procurar encontrar um caminho criativo, uma ideia nova, independentemente de você estar se sentindo inspirado ou não”, diz.
No meio do processo, a inspiração chega. Às vezes, já bastante cansado, fazendo uma pausa, passando um café, surge uma frase, uma ideia brilhante que acaba norteando toda a criação. Mas isso é uma faísca que só vira chama se você alimentá-la, ‘soprá-la’, desenvolvê-la com o seu trabalho. Quando penso em um determinado intérprete, me obrigo a organizar o material criativo de acordo com as características daquele artista.
Geralmente a composição flui sem maiores dificuldades, mas temos que ser persistentes para chegar ao resultado final. É como uma obra arquitetônica, depois da fundação, de levantar as paredes e colocar o telhado, temos que dar acabamento, colocar os ladrilhos, escolher os mais belos elementos para chegar a um resultado com precisão estética.”
Independentemente da origem da canção, Villeroy destaca que o processo, para ele, precisa ser “orgânico”, além de acreditar no que está fazendo para seguir adiante na criação. “Tenho três pilares fundamentais que sempre procuro observar, que são Logos, Pathos e Ethos. Ou seja, a música tem que ter uma lógica, um pensamento reconhecível, tem que possuir e passar emoção e tem que estar dentro de uma ética, daquilo que acredito como justo e correto”, explica. “Mas há canções que componho e que não tenho vontade de cantar, elas são destinadas àquele intérprete que a solicitou. Outras são mais a minha cara e priorizo torná-las conhecidas primeiro com a minha voz. Então não mostro para ninguém (risos), só depois de já estarem gravadas.”
O discreto sucesso
Hitmaker que muitas vezes pode passar despercebido – mesmo já tendo diversas canções de sua autoria e interpretação fazendo sucesso em diversas novelas -, Antonio Villeroy conta que, na infância, seu sonho era ser diretor de cinema para, mesmo com sucesso, não ter que fugir da perseguição dos paparazzis. “Sempre fui mais discreto nesse sentido, o que não me impediu de correr o mundo com minhas canções. Até hoje fiz mais de 200 shows no exterior, em cidades da Europa, Estados Unidos, Argentina e Uruguai, e muitas centenas de apresentações no Brasil. Lancei um DVD e sete discos, quatro deles independentes e três por gravadoras grandes. As músicas cantadas por outros artistas me concedem confiança e prestígio no meio artístico, embora o público nem sempre se ligue em quem são os autores” pontua Villeroy. “Porém, por solicitação de uma editora, tive que fazer um balanço de minhas músicas em filmes e novelas e percebi que a maioria dos meus temas de novela foi apresentada com minha voz, em segundo lugar com a de Ana Carolina e depois com outros intérpretes. Então, embora eu não seja um ‘cantor das multidões’ sinto-me em uma situação confortável de trabalhar e levar minha música para os mais diferentes lugares, sendo sempre muito bem recebido.”
Compor, como se imagina, é uma atividade quase incessante para Antonio Villeroy, que diz ter criado mais de 20 novas músicas desde fevereiro, quando a turnê de ‘Samboleria’ estava em pleno vapor, o que o fez ir para o estúdio e já aprontar duas canções para o próximo álbum. “Agora vou partir para finalizar outras dez. Essa nova safra de canções está mais pop; há um rap feito em parceria com o MC Piá, um reggae e algumas baladas de rock bem interessantes. Mas também vou gravar dois sambas, numa linguagem mais samba-rock. Talvez isso tudo seja influência de Porto Alegre, uma cidade roqueira, onde voltei a morar há dois anos, graças ao nascimento da minha filha Luísa.”
Antonio VILLEROY
Nesta quinta-feira, 23h Muzik (Rua Espírito Santo 1.081)