No Dia das Crianças, a solidariedade abraça a infância em Juiz de Fora

Em diversos pontos da cidade, moradores promovem ações para celebrar a data com amor, brincadeiras e união


Por Mariana Souza*

10/10/2025 às 19h29

Rua de Lazer Arquivo Pessoal 1

Há quem diga que o tempo da infância passa depressa, mas em algumas ruas de Juiz de Fora ele ainda insiste em ficar. Entre risadas, cores e o som dos passos que correm pelo asfalto, a cidade se enche de vida quando adultos decidem resgatar o que há de mais verdadeiro: o direito de ser criança. Em meio à pressa dos dias, essas iniciativas reacendem o que o cotidiano às vezes apaga — o encanto do brincar, o laço da vizinhança e o poder de estar junto.

Movidos por fé, amor e um desejo genuíno de fazer o bem, moradores transformam gestos simples em celebrações de afeto. São encontros que fortalecem laços, renovam a esperança e fazem das ruas espaços de partilha e pertencimento – onde o riso das crianças volta a ser o som mais alto da cidade.

Quando o amor de mãe enfeita a rua

O projeto nasceu junto com um amor de mãe. Depois do nascimento do primeiro filho, Fabrício, há quase 40 anos, Solange Campos decidiu espalhar pelas ruas do Bairro Bandeirantes, na Região Nordeste de Juiz de Fora, a alegria que vivia dentro de casa. Começou de forma simples, distribuindo saquinhos de doce para as crianças da vizinhança – um gesto singelo que, com o tempo, se transformou em uma tradição esperada por todos.

Hoje, a ação acontece todos os anos, mantendo o mesmo carinho dos primeiros tempos, mas com um toque especial: desde 2017, a festa foi ampliada, e o espaço se encha de cores, risadas e brincadeiras. Solange organiza tudo com cuidado: são cerca de 300 pedaços de bolo. Também tem pipoca, algodão doce, refrigerante e brinquedos. Para completar a festa, ela mesma se transforma em palhaça, arrancando sorrisos e encantando quem passa.

Realizado todo dia 12 de outubro com o apoio da família e dos vizinhos, a comemoração se tornou um símbolo de união e fé. “É uma emoção muito grande”, conta Solange. “Porque é Dia das Crianças, é Dia de Nossa Senhora… Eu só tenho que agradecer a Deus e à Nossa Senhora por tudo, por esse trabalho que amo fazer. Tenho a ajuda do meu marido, dos meus filhos, da minha mãe e dos vizinhos. É gratificante demais.”

E, com a mesma fé que move cada detalhe, ela garante: “Enquanto eu tiver forças, e Deus e Nossa Senhora me permitirem, eu vou continuar fazendo.”

O legado que abraça a solidariedade

O legado do senhor Gabriel e da dona Dorinha continua pulsando nas ruas do Bairro Progresso, na Zona Leste de Juiz de Fora. Roberto Batista Agostinho conta, com orgulho, que o projeto “Rua de Brincar”, criado pelo casal em 2010, virou tradição e segue acontecendo mesmo após a partida dos dois.

“Eles conheciam todas as crianças desde pequenas, viram muita gente nascer e crescer por aqui. Sempre sonharam em resgatar aquela infância simples, de brincadeiras na rua, de vizinhos que se conhecem e convivem. Queriam devolver esse sentimento de comunidade que tanta falta faz hoje”, lembra Roberto.

Ao longo dos anos, ele acompanhou de perto a dedicação do casal. Viu a alegria das crianças, o envolvimento dos moradores e o impacto que aquele dia de brincadeiras trazia para o bairro. “Depois que eles se foram, senti que era meu dever continuar. Participei desde o início, sabia o quanto esse momento era importante pra eles e pra todos nós. Manter o projeto vivo é uma forma de preservar a memória deles e também de acreditar que iniciativas assim transformam o lugar onde vivemos.”

Agora, em sua oitava edição, o projeto, que será realizado no próximo domingo (19), se tornou sinônimo de orgulho e gratidão. “Ver o sorriso das crianças, a rua cheia de vida e a energia boa tomando conta do bairro é algo que não tem preço. A cada edição, sinto que estamos honrando o propósito que deu origem a tudo isso”, afirma Roberto.

Novos propósitos, o mesmo objetivo

Enquanto algumas iniciativas já carregam anos de história, alegria e solidariedade, outras nascem do olhar de quem ainda acredita que um simples sorriso pode transformar o mundo. É o caso de Jéssica Aparecida de Freitas Dutra que, este ano, realizou sua primeira edição do Dia das Crianças.

A inspiração veio meses antes, durante a Páscoa, quando Jéssica mobilizou os moradores do Bairro Igrejinha (Vila São João Batista), na Zona Norte de Juiz de Fora, para distribuir caixas de bombom. Aquele gesto de afeto e união despertou nela o desejo de continuar espalhando alegria.

Com o apoio de doações, Jéssica organiza neste sábado (11) uma nova ação, repleta de guloseimas, brincadeiras e sorrisos. Ela destaca que nada disso seria possível sem a ajuda da comunidade, que abraçou a causa e transformou o dia em uma lembrança inesquecível para as crianças do bairro.

Fazer o bem mesmo com desafios

Apesar da dedicação e da alegria em ver os pequenos felizes, Solange, Roberto e Jéssica compartilham das mesmas dificuldades para manter seus projetos. Todos dependem de doações e parcerias da comunidade, o que torna o trabalho desafiador.

“Hoje, a maior dificuldade é conseguir apoio para cobrir os custos. Tudo depende de doações e, nem sempre, é fácil arrecadar o suficiente para brinquedos, alimentação e estrutura. Também há anos em que a comunidade está mais ocupada e não consegue se dedicar tanto”, explica Roberto.

Solange complementa dizendo que, além das doações, a burocracia é outro obstáculo. Antes de buscar autorizações oficiais, ela conversa com os moradores e recolhe assinaturas, mostrando o apoio da comunidade.

“É uma forma de provar que o evento vai além de uma festa individual, é um ato coletivo, solidário, que contagia o bairro com alegria e esperança. No fim, tudo vale a pena quando vejo o brilho nos olhos das crianças. É por elas que a gente luta, porque cada sorriso lembra que ainda existe bondade, que ainda dá pra acreditar num mundo mais leve e cheio de amor.”

*Estagiária sob a supervisão da editora Gracielle Nocelli

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