Nelson Angelo e Márcio Hallack fazem show em Juiz de Fora neste domingo
Um dos fundadores do Clube da Esquina e o compositor do disco ‘Talismã’ apresentam ‘Amizade e outras estórias’
Nelson Angelo e Márcio Hallack têm relações diferentes com Juiz de Fora. O primeiro é belo-horizontino, cantor, guitarrista, arranjador e, dentre várias outras coisas, um dos fundadores do Clube da Esquina. Era em Juiz de Fora que ele comia feijoada da tia de Milton Nascimento e ia quando menino tocar no Cinema Central. Já o segundo é juiz-forano, pianista, compositor e também arranjador. Sempre esteve aqui. “Mas também estive muito fora”, afirma. Nelson e Márcio se encontraram em um bar na Lapa, Bairro do Rio de Janeiro, e depois de lá estiveram juntos várias e várias vezes durante suas carreiras. Neste domingo (12), os dois amigos apresentam um novo capítulo dessa parceria na cidade, no Maquinaria, a partir das 18h, com o show “Amizade e outras estórias”. Os ingressos podem ser adquiridos no Sympla.
Leia abaixo a entrevista completa com Nelson Ângelo e Márcio Hallack
Tribuna: Queria que falassem sobre as expectativas para o show em Juiz de Fora e um spoiler de algumas histórias que estão preparando para contar
Nelson – Estamos dedicando essas apresentações (a dupla, no dia sábado, toca em Itaipava) para a juventude. Embora tenhamos públicos de todas as idades, o que tem me interessado agora é a juventude. Dialogar diretamente com ela. Considero esses dois shows como o começo de uma história muito importante. Quero enfatizar esse convite para o pessoal mais novo!
Márcio – Tem uma bem legal, sobre a produção de um dos meus discos, em Juiz de Fora. Antes de voltar para o Rio, Nelsinho veio aqui para casa. Minha mulher estava viajando. Ficamos a noite escrevendo, tomando algumas coisas e tal. De manhã cedo, quando ela chegou de viagem, veio já perguntando: “Cadê minhas garrafas de whisky?!”. Umas vinte garrafinhas, dessas pequenininhas de coleção, estavam todas em cima da mesa (risadas). E nós dissemos: “Foi eu, foi ele” (risadas). Saíram coisas boas, foi uma pausa para momentos bons.
Nelson, qual a importância de dedicar esse show para a juventude?
É fundamental estar em contato com a juventude, por mais que a idade esteja na cabeça, né? Essa diferença existe numa realidade física, mas a cabeça é igual. O ideal é quando você consegue conviver com todas as pessoas, tendo a mesma idade.
Márcio, por que vocês escolheram o nome “Amizade e outras estórias” para o show?
Nossa amizade é longa, temos muitas histórias. Ele foi o grande cara que me descobriu. Esse cara não sou eu, esse cara é ele (risadas). Quando morava no Rio e estudava medicina, ele disse “Vamo gravar seu disco (‘Talismã’)!” Temos várias histórias individuais e juntos, de vários shows. Vamos poder reviver um pouco disso.
Qual a relação de vocês com Juiz de Fora?
Nelson – Juiz de Fora é uma cidade da maior importância na minha vida desde sempre. Sou frequentador da cidade. Desde de menino toco em Juiz de Fora. Muitas pessoas fizeram parte da minha vida. Toquei muito no Cinema Central, fiz grandes amizades. Inclusive, uma delas, o Márcio, que é meu amigo de muitos e muitos anos. Bituca (Milton Nascimento) morou aí. Comi muita feijoada da tia do Bituca, conheci a avó dele aí. Tenho uma relação profunda com Juiz de Fora. É uma cidade escrita com letras maiúsculas no meu coração.
Márcio – É minha cidade natal. Levei o nome da cidade para vários shows, fora do país. Amo minha cidade. Agora é um momento importante de voltar. É um show com um amigo importante, que arregimentou minha carreira. Sempre estive aqui, mas também estive muito fora. É um bom momento para uma reconexão: com um novo público, as pessoas que não conhecem e os espaços tradicionais e alternativos que a cidade oferece, que são muitos. É um momento muito propício, a partir desse retorno com o Nelsinho. Depois trago outros trabalhos instrumentais para tocar em outros lugares da cidade.
Queria que falassem um pouco sobre seus últimos projetos.
Nelson – Existe uma confusão que preciso começar a desfazer. “Cantos espirituais” (seu último lançamento) não é um CD, é um filme (que inclusive está disponível no Youtube). O CD é um produto tirado do filme. Ano passado, lancei oito CDs que gravei. Não parei de gravar, não parei de compor. Só me afastei um tempo, por razões da minha vida particular. Tem mais dois para serem lançados e um que saiu na Europa, além de programas de TV, filmes que participei. Em 2025 me liberei para poder me dedicar a esses vários outros projetos.
Márcio – Tem muito projeto! Agora, tenho me dedicado mais aos arranjos da Zérró Big Band Project. Das novas composições, deve sair algo esse ano, assim como homenagens para outros grandes e importantes nomes da música brasileira. Gosto muito de homenagear fazer isso, como fiz no “Piano solo, choros e canções’, que o Toninho Horta gravou comigo. Quando veio a pandemia, estava com shows marcados pelo Brasil afora para o lançamento de meu último álbum, o “Desse modo”. Infelizmente, o lançamento foi virtual, devido a pandemia. Pretendo fazer o lançamento oficial do álbum, com o quarteto que toco, aqui em Juiz de Fora. Só não sei como fazer isso ainda”.
Ambos trabalham muito fazendo trilha sonora para cinema. Como é a relação de vocês com a sétima arte?
Nelson – Faço música ligado ao cinema. Sou doido com cinema. Se não fosse músico – coisa sou muito feliz em ser – adoraria ser cineasta. Faz parte da minha vida cotidiana. Gosto de todas as formas de cinema, desde no sentido clássico, o antigo, o contemporâneo, televisão e novelas, que são duas formas de cinema. Já fiz algumas trilhas sonoras. Cinema é música, teatro, TV, arte de tudo que é maneira filmada. Você vê aquilo e não acaba nunca mais na vida.
Márcio – Fiz algumas trilhas para cinema. Uma delas, em um filme sobre o Murilo Mendes, outro foi o “Rei do samba”, que fiz arranjos e toquei piano. Outro foi o documentário sobre Sérgio Santeiro, parceiro do Glauber, que foi até premiado no Festival Primeiro Plano.
Para fechar, Nelson, poderia falar um pouco de como vê a renovação de público que acontece com o disco “Clube da esquina” e falar um pouco mais sobre seu outro trabalho homônimo com a Joyce Moreno?
A renovação do Clube da Esquina é absolutamente verdadeira, porque as coisas foram feitas com muita sinceridade. Elas estão fluindo de uma maneira muito positiva. Agora, sobre o trabalho com a Joyce, na época, íamos gravar dois discos na EMI-Odeon. Por sermos casados, resolvemos, de maneira natural, que esses dois discos se transformassem em um. Nós dois interpretamos esse disco. Ele é muito bem dividido em termos de tudo, foi feito com muito amor. O engraçado, talvez, seja esse período que ele passou sendo mais conhecido fora do Brasil do que aqui mesmo. No mais, é um trabalho muito sério, leve, apreciado, com todas as pessoas que depois passaram a ser Clube da Esquina participam, exceto o Bituca, que na época estava viajando. É um disco fundamental na música universal.
E Márcio, como foi o processo de produção de “Talismã”?
Foi o ‘Nelsinho quem produziu meu primeiro EP, o “Talismã”. Gravei no Rio de Janeiro, quando morava lá. De repente estava toda a turma que eram meus ídolos: Robertinho Silva, Fernando Leporace, Novelli, Toninho Horta, Mauro Senise. Hoje, o “Talismã” realmente virou talismã. Virou ‘cult’.
*Estagiário sob supervisão da editora Cecília Itaborahy