Tomaz Guimarães lança livro-poema ‘Foz’
Escritor colocou no papel reflexões sobre suas vivências e escolheu o rio como metáfora para essência humana; lançamento acontece na Cafeteria Bom Brasileiro
Durante meditação, Tomaz Guimarães teve uma experiência praticamente de catarse sobre suas vulnerabilidades, os ciclos de tempo e o autoconhecimento. Decidiu colocar tudo no papel. Naquele momento, ele estava passando por um processo de pós-internação e teve a chance de refletir sobre suas vivências de maneira intensa – não esperava que isso se tornasse um livro. Mas foi dessa primeira experiência na escrita que desaguou o livro-poema “Foz”, agora em uma versão editada, com ilustrações e outras parcerias, que ele lança em Juiz de Fora nesta sexta-feira (8) na Cafeteria Bom Brasileiro (Marechal Deodoro, 920 – Centro), às 18h, e posteriormente, 16 de novembro, em Belo Horizonte, na livraria Contraponto no Café com Letras (R. Antônio de Albuquerque, 781 – Savassi).
A obra foi financiada pela Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), e busca na metáfora da água uma forma de atingir o que é a essência humana. Para o escritor, nesse processo, o mais desafiador foi conseguir se expor para criar arte – ainda que o livro não fale exatamente de suas experiências. “Traz vivências compartilhadas de vulnerabilidade, tristeza, amor e apaixonamento que me atingem”, conta. A partir de reflexões sobre a criança e adolescente que foi, também pensou em um fio narrativo que se dava pelo rio.
O rio de “Foz” é aquele que não consegue se afastar de sua origem, e que também está sempre buscando chegar até o mar. Para ele, essa metáfora também trata do que pensa quando fala de amor, já que se identifica com a ingenuidade do rio, que acredita poder se diferenciar do lago, da chuva ou do oceano. Nesse processo, foi inspirado pelo escritor português Valter Hugo Mãe e também pelo quadrinista e aquarelista Caetano Cury, que fez o prefácio do livro.
Falar desse movimento do rio foi a forma que encontrou para abordar algo íntimo, de uma vontade humana por sempre atingir outros espaços, buscando algo que está sempre fora. “Acho que a metáfora da água casa muito com o que eu tenho a dizer, porque a água existe de diversas formas: em vapor na nuvem, em água salgada no mar, em água turbulenta ou calma, transparente ou turva, destruindo completamente uma cidade ou dando alimento e subsistência às pessoas. É um elemento que abrange muita coisa”, continua.
Vulnerabilidades à tona
Trazer suas vulnerabilidades à tona durante essa escrita, no entanto, não foi nada fácil. “Fui me dando conta sobre vivências minhas e violências que passei. Revisitei muita coisa sobre a minha história, a minha relação com meus pais, com a minha família, com as minhas amizades.” Na perspectiva do escritor, também foi um momento de constatar muitas coisas sobre si mesmo, em um processo que ele já estava enfrentando desde que foi internado e precisou se isolar. “Em uma situação desafiadora de saúde, a gente se questiona sobre muita coisa. Fiquei muito sozinho comigo mesmo, tive muito tempo para pensar, então me vieram muitas emoções. Mas não foi a única coisa que me atingia. Eu vivia um momento completamente apaixonado pelo meu atual parceiro, estava com muito amor e acolhimento”, diz.
Por isso, ele também espera que um dos efeitos principais que o livro gere entre os leitores seja essa mesma vontade que teve se espalhando e tomando outras formas. ”Uma aspiração que eu tenho é que, quando as pessoas lerem ‘Foz’, considerem a literatura como meio de expressão subjetiva e se sintam convidadas a escrever também. Não com um objetivo pré-determinado, mas como forma de expressão”, conta, sobre essa importância que aquilo também teve para ele. Enquanto professor de alemão, ele já trabalhava com a linguagem há anos, mas a literatura surgiu depois.
Processos criativos em conjunto
A ideia de transformar o escrito em livro foi possível pelo apoio de uma lei que possibilitasse a expansão do projeto. “Foz”, afinal, se tornou um trabalho “construído junto”, principalmente entre ele e a sua amiga artista Maria Gabriela Rodrigues, que fez ilustração em óleo e aquarela. “Quando escrevi o texto e ainda não tinha pretensão nenhuma que virasse livro, mostrei para ela. Foi uma das primeiras pessoas que leu, em uma primeira versão. Ela se conectou com o texto imediatamente, a gente se ligou, chorou junto e trocou sobre”, conta.
Quando decidiu inscrever o projeto e que o livro deveria ser ilustrado, logo pensou nela, e juntos foram formando a narrativa em conjunto. Esse efeito foi se repetindo com a versão gratuita em audiolivro com audiodescrição para pessoas cegas ou com baixa visão, a partir da audiodescrição foi feita por Laís Cerqueira. Como medida de contrapartida, ele também irá promover oficina de ilustração no sábado (9), às 9h, na Praça Ceu, de forma gratuita. O livro e os merchants frutos dessas parcerias podem ser adquiridos nas redes sociais (@livrofoz) e também nos eventos de lançamento.