Morre o produtor cultural Serjão Evangelista aos 65 anos

Sérgio, popularmente chamado de Serjão Evangelista, trouxe para cidade shows de artistas como Ney Matogrosso, Djavan e Milton Nascimento e contribuiu para o fortalecimento da cena cultural de Juiz de Fora


Por Nayara Zanetti e Cecília Itaborahy

06/02/2024 às 10h26- Atualizada 06/02/2024 às 13h41

Morre o produtor cultural Serjão Evangelista aos 65 anos
Serjão Evangelista (Foto: Reprodução Facebook)

Aos 65 anos, o produtor cultural e compositor Sérgio Evangelista, popularmente chamado de Serjão Evangelista, morreu na madrugada desta terça-feira (6). Sérgio nasceu em Juiz de Fora e desempenhou papel de destaque no incentivo da cena musical da cidade. A informação foi divulgada por seu irmão Thadeu Santos, através de uma postagem no Instagram.

 

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Uma publicação compartilhada por Thadeu Santos (@muitoteatro)

Sérgio estava internado há mais de 60 dias em um hospital da cidade, após ter sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico em novembro. O irmão conta que a recuperação estava sendo positiva, mas, recentemente, o produtor enfrentou uma infecção hospitalar e veio a óbito. Ele deixa um filho de 28 anos.

O velório acontece na Capela 7 do Cemitério Municipal, a partir das 10h30, com o sepultamento às 16h30.

Participação na cultura de Juiz de Fora

Entre 1993 e 1994, Sérgio atuou como Diretor de Cultura da Funalfa. Nos dois anos seguintes, tornou-se superintendente da mesma pasta. Neste período, a cidade registrou marcos importantes na área: o Cine-Theatro se tornou um patrimônio público, sendo, então, reformado, e a Lei Murilo Mendes, que neste ano completa 30 anos, foi criada e implementada.

De 2009 a 2013, voltou à Funalfa, mais uma vez como Diretor de Cultura. Ele trabalhou ainda como gerente do Departamento de Acervo Técnico e Ações Culturais (Datec) do Museu Mariano Procópio. Como produtor cultural, Evangelista foi responsável por trazer grandes artistas a cidade, como Ney Matogrosso, Djavan, Roberto Carlos e Milton Nascimento.

Em sua última entrevista à Tribuna, quando o campo do Tupynambás estava no processo de ser vendido, Sérgio relembrou dos principais shows que produziu no local. Disse que foi o show que trouxe à cidade, de Milton Nascimento, no salão do Baeta, um dos mais bonitos que viu. ““Foi um dos shows mais bonitos que eu já vi, e olha que, agora, eu faço show dele no Cine-Theatro Central”, afirmou, na época. Naquele momento, em 2021, ele atuava como produtor no equipamento cultural da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

“Você certamente esteve numa plateia de um ‘show do Serjão'”

Amigo de Serjão Evangelista, o jornalista e professor Rodrigo Barbosa relembrou histórias e vivências marcantes com o produtor e incentivador da cultura em Juiz de Fora.

“E lá vai o compadre Serjão para além dessa vidinha. Conforme ele anunciou na canção feita com o Marcinho Itaboray, pulou a cerca, caiu fora. Que amigo, companheiro de tantas jornadas, inventor de tantas boas histórias pra lembrar e contar… Estivemos juntos na aventura da conquista do Cine Theatro Central como patrimônio público (e na sua restauração), na criação e implantação da Lei Murilo Mendes, em tantos carnavais, em tantos palcos e palanques, em viagens que foram de um ensaio da Mocidade Independente de Padre Miguel, no estádio do Bangu, contratando a escola pra desfilar em JF, a salões paulistanos pra trazer a Orquestra Filarmônica de Viena. Juiz de Fora deve ao Serjão o privilégio de assistir Milton Nascimento, João Gilberto, Lulu Santos, Ney Matogrosso, Grupo Corpo, Ballet Stagium, Grupo Ponto de Partida, Ivan Lins, João Bosco, Paulinho da Viola e uma centena de espetáculos incríveis. Você certamente esteve numa plateia de um ‘show do Serjão’. Numa de suas canções com o Marcinho, escreveu uma expressão que sempre me chamou atenção: ‘um gesto gentil’. Gentileza, generosidade, bondade, amizade, fé nas pessoas foram marcas do gestos do Serjão pela vida afora. Um brinde (com cerveja e depois um gim – ‘la transformación’), meu padrinho, à nossa vontade de ser feliz!”

“Trouxe a nata da música popular brasileira para Juiz de Fora”

O médico e músico Márcio Itaboray fala sobre sua amizade com Serjão, com quem fez um CD, “Da cor do seu sonho”, em 1995.

“Nós somos amigos de fé, de parceria não só musical, mas de vida. Ele foi meu companheiro musical e nós fizemos muitos shows, muitos festivais, tocamos muito nos bailes da vida de Juiz de Fora, em quase todos os palcos da cidade. Onde tinha palco, estávamos tocando. Fizemos quase tudo juntos. Tomamos muita cerveja juntos. E foi um produtor muito importante para a cidade. Ele tinha espírito de produtor e trouxe a nata da música popular brasileira para Juiz de Fora. Juiz de Fora perde um cara muito produtivo, no sentido de produção mesmo. E eu perco um parceiro. Nos meus últimos CDs, a gente não tem parceria. Mas ele tinha uma sensibilidade muito grande. Nós gravamos ‘Da cor do seu sonho’ em 1995, só com músicas nossas, no Rio de Janeiro, e todos os exemplares foram vendidos.”

“Ele nasceu para o palco”

Em suas redes sociais, o ex-deputado Marcus Pestana dividiu seus principais momentos com Serjão.

“Hoje perdi um dos meus melhores amigos, o nosso querido Serjão Evangelista. Lembro de nossa viagem a Cabo Frio no final dos anos 70 quando ele se esmerava em tocar e cantar Belchior para seduzir as meninas. Ele era sim um sedutor, um adorável sedutor. Depois sua fantástica interpretação de Mestre Carpina em MORTE VIDA SEVERINA com o Grupo de Teatro da Academia. Os shows da PÁ. Onde ele roubou a cena no show do Machado Sobrinho cantando a música de Gonzaguinha numa emocionante versão: “Minha mãe no tanque, lavando roupa…”. As noitadas, serenatas e primeiros namoros. Em 1981 ele organizou para mim que presidia o DCE da UFJF o show da calourada trazendo IVAN LINS. Os shows empolgantes da DUPLA, ele e Marcinho fizeram história e conquistaram uma enorme legião de fãs. Inclusive esse aqui. Ele nasceu para o palco. Tinha uma luz, um carisma, e uma energia própria pro palco.”

“Impacto notável”

Nas redes sociais, a Funalfa lamentou a morte de Serjão.

“Serjão deixou um legado marcante na organização de eventos no Diretório Central dos Estudantes (DCE), como as memoráveis calouradas da UFJF, que contaram com a presença de artistas renomados como Ivan Lins, Sivuca e Cartola para abrir o ano letivo. Seu impacto na cena cultural da cidade foi notável, proporcionando ao longo dos anos inúmeros shows e atrações.”

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Foto: Reprodução Facebook

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