Juiz-forana integra elenco de ‘O rei leão’
Elisa Toledo participa de adaptação brasileira da Broadway para o espetáculo, que está em cartaz em São Paulo
A juiz-forana Elisa Toledo começou a fazer aulas de balé aos 5 anos, no Ballet Misailidis. Na época, o interesse dela foi despertado por ouvir o irmão tocando piano e ter vontade de dançar. O que começou como um desejo natural, no entanto, foi tomando forma profissional com anos de estudo, aprendizado de técnicas e participação de diversos espetáculos. Até que aos 21 anos, já também cantando e atuando, ela conseguiu uma vaga para participar da adaptação brasileira do musical da Broadway ‘O Rei Leão’. A peça está em cartaz desde julho, no Teatro Renault, em São Paulo, com 51 atores, contando com estrangeiros, e deve ficar até o ano que vem.
Toda a trajetória da jovem começou quando ela foi orientada, aos 14 anos, que deveria sair de Juiz de Fora e buscar escolas que pudessem dar aprofundamento para a dança. Foi assim que fez uma audição para a Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, no Rio de Janeiro, que é anexa ao Theatro Municipal de lá. Ela então se mudou sozinha para a cidade carioca, enquanto seus pais permaneceram em Juiz de Fora, e continuou seus estudos de balé clássico e balé contemporâneo. Paralelamente, também entrou em um estúdio particular, o Studio Gouveia Coach, em que fez aulas de balé clássico, balé contemporâneo e jazz. Por meio desse estúdio, também passou a participar de competições nacionais e internacionais de dança, sendo que, em uma dessas ocasiões, ganhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, na Collage Dance Collective, no Memphis. A experiência nesse local apontou a vontade inicial de participar de “O Rei Leão”. “Um dos meus professores andava sempre com a camisa do Rei Leão, e me contaram que ele tinha participado do musical original da Broadway. Aquilo me despertou interesse”, relembra ela.
Logo que voltou para o Brasil, então, Elisa começou a fazer audições para novos projetos, e pouco tempo depois viu justamente uma chamada aberta para esse musical. “Todos os meus amigos que viram, me mandaram. Quando eu vi que a audição era em São Paulo, simplesmente peguei um ônibus e fui”, conta. Sua ligação com o teatro veio por meio da música, muito porque notava que era tímida no balé, e queria melhorar isso. Mas logo foi desenvolvendo um amor à parte, até que fez o curso intensivo de ‘Mergulho no Musical’, da Casa das Laranjeiras (CAL), que foi uma experiência marcante para ela. “O curso mudou a minha vida. Eu não conhecia esse universo. Eu já amava ‘Mamma mia’, ‘Os miseráveis’, ‘O fantasma da ópera’, mas não sabia que o teatro musical poderia ser algo tão próximo de mim”, diz.
Depois desse curso, também fez uma formação de seis meses em teatro musical, no CEFTEM, em que desenvolvia do básico ao intermediário, com técnicas de dança para teatro musical, interpretação e canto, e participou de uma das montagens de “Os Miseráveis”. Todo esse caminho, então, a preparou para o momento em que foi chamada para continuar as audições. Para ela, no entanto, não dava para imaginar que algo que começou tão nova poderia gerar esses resultados e sonhos sendo realizados. “Eu, assim como muita gente, cresci assistindo ‘O Rei Leão’. É uma história forte, que dá vontade de chorar. E na peça, hoje, ainda me emociono muito. É uma responsabilidade enorme poder fazer parte disso”, conta.
Preparativos para o espetáculo
O processo de audição para ser bailarina do ensemble de ‘O Rei Leão’ durou meses, já que eram diversos encontros e testes até que selecionassem os participantes. Na primeira etapa, de acordo com o que Elisa conta, foram coreografias que ainda não eram do musical, até que na segunda etapa foram feitos testes de coreografias do espetáculo com a coreógrafa associada da Disney e, em um terceiro momento, ainda foi feito um workshop com a participação dos artistas. Todas essas etapas, é claro, tiveram cortes de pessoas e muitas provas de figurino – ela conta que tiraram 51 medidas de seu corpo, e muitas da cabeça, já que os bailarinos usam acessórios para a caracterização nessa parte do corpo durante o musical. Durante o show, afinal, ela se transforma em várias. “A gente vira gazela, hiena, leoa, planta. O balé está lá para dar ritmo ao musical”, afirma.
Antes de saber que tinha sido aprovada para o musical, no entanto, foi aprovada como trainee em uma escola chamada Joffrey, nos EUA. Ela ainda estava com expectativas de passar para o “Rei Leão”, e recebeu o resultado no mesmo dia. “Fiquei muito feliz e empolgada. É um espetáculo enorme e participar é alucinante. Depois que estreou dei uma acalmada, mas no primeiro dia, na coxia, esperando para entrar em ‘O ciclo da vida’, fiquei extremamente emocionada. Dá pra sentir o quanto o diretor, o Anthony, ama o que faz”, conta.
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Evolução
Os espetáculos continuam acontecendo de quarta-feira a domingo, sendo que há dias em que é show duplo. Quando isso acontece, ela confessa que até dorme entre os espetáculos, ou joga com os outros participantes. Elisa relembra que, assim que passou, a equipe de produção avisou que o elenco ‘se tornaria uma família’, já que o período de convivência é intenso. Para ela, que de Minas foi para São Paulo sozinha, eles se tornaram mesmo parte essencial de sua vida, e comenta que a experiência de ter estrangeiros também ajudando a aprender sobre as línguas africanas utilizadas no espetáculo foi muito importante. “A presença deles ajuda a dar a dimensão do tamanho que é a história que a gente está contando. Quando estávamos aprendendo as músicas, nos ensaios de canto, boa parte era em outras línguas. E eles ajudavam a gente na pronúncia e no ritmo. Me sinto totalmente imersa no espetáculo, virou minha vida. Espero ficar até o final”, conta.
Para ela, apesar da emoção do primeiro dia ser inesquecível, é notável o quanto todos vão evoluindo com o tempo: “Pessoalmente, pra mim, atuar é mais difícil, porque eu sou tímida. Mas estando em ‘O Rei Leão’, sabia que teria que me esforçar mais. Coordenar a dança, o canto e a atuação ainda é difícil, mas busco melhorar a cada dia. Já dentro do espetáculo, agora me sinto mais livre pra explorar essas outras partes”, conta. A evolução que vê em si é também o que percebe na equipe, que vai se sentindo mais confortável. Para ela, o modo de todos entrarem no palco mudou – e continuar vivendo essa experiência de perto é justamente o que mais deseja.