‘Urbanos e Sacanas’: crônicas de Amilcar Rebouças e ilustrações de Bello são reunidas em livro
Livro será lançado na próxima terça-feira, às 19h30, na Câmara Municipal de Juiz de Fora
Dois amigos de infância se encontram em um livro póstumo. As crônicas de Amilcar Rebouças e as ilustrações de Bello foram reunidas no livro “Urbanos e Sacanas”, que será lançado na próxima terça-feira (7), às 19h30, na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Ao longo das páginas, foram escolhidos textos e charges que resumem bastante o que os dois eram, em vida, e trazem trabalhos bem humorados que conversam entre si. A organização é de Maria Angélica Rebouças, irmã do cronista, com projeto gráfico de Eduardo Bello e apoio da Sinteac, Indorama Ventures e Supermercados Santo Antônio. A venda dos livros terá verba destinada para a Ascomcer e para o Lar Cristão Paulo de Tarso.
O projeto deste livro começou quando Amilcar estava com câncer e, acompanhado da irmã e da mulher, revelou que tinha o sonho de escrever um livro. “Nós conversamos muito sobre as crônicas, que ele escrevia para o Diário Regional, chegou a escrever também para a Tribuna e, desde 2000, na Em Voga, revista que organizo. Ele dizia que não ia dar tempo de realizar esse sonho”, relembra Maria Angélica. Desde então, no entanto, os dois começaram a conversar sobre como seria o tal livro, e ela foi, aos poucos, começando a planejar de fato como faria para realizar o sonho dele.
A ideia era homenagear o irmão e, ao mesmo tempo, trazer para os leitores uma seleção de textos que agradassem diferentes públicos. Entre mais de 800 crônicas publicadas, Maria Angélica optou por aquelas que fossem leves e bem humoradas, deixando de lado temas como política e religião. Apesar de confessar que ela e o irmão eram bastante diferentes, entende a importância da cultura na vida do irmão como ninguém, já que afirma que esse foi o principal legado que o pai os deixou. “Ele sempre foi muito sério, não tinha muito tempo, era engenheiro. Tínhamos gênios opostos. Gastava pouco pra falar, escutava e observava muito. Mas passava tudo para o papel”, conta. Foi então que chegou a seleção de uma centena de crônicas escritas de 2002 a 2022, até o fim da vida do cronista, que tratavam de diferentes temas que lhe interessavam.
Para a irmã, ter esse contato com os textos foi uma forma de lidar com a falta, e também perceber a importância que alguns temas tiveram na vida de Amilcar. “Ele era muito espirituoso. Me chamou atenção os valores que ele sempre teve. Também sempre foi um leitor assíduo, tinha uma inteligência fora do comum e sempre estudou muito a língua portuguesa. Era um amante dos bons vinhos, das melhores comidas, dos restaurantes gostosos, das viagens e da música”, conta Maria Angélica. Além disso, também tinha a sustentabilidade como bandeira (o que ela levou para o livro, com as páginas em papel certificado) e também a filosofia estoica. Isso, então, fica espelhado nos textos do livro, que eram escritos aos finais de semana, quando o autor estava ao lado da sua família e de seus cachorros.
Amizade de Amilcar Rebouças e Bello
A amizade de Amilcar Rebouças e Bello começou ainda na escola, no Jesuítas, e continuou ao longo de toda a vida. O primeiro nasceu em 1955, em Bicas, e formou-se em Engenharia Civil, tendo continuado na área por toda a vida e feito diferentes obras residenciais e públicas. Também foi perito judicial, Secretário Municipal de obras e, aos finais de semana, escrevia crônicas. O outro, no entanto, apesar de ter se formado no mesmo curso, seguiu a carreira como chargista e cartunista, criando charges diárias por muitos anos. O desenho já se manifestava como talento desde a infância.
Os dois, ao longo da vida, tiveram rumos diferentes, mas mesmo assim, sempre mantiveram um diálogo. “Eles sempre tiveram o humor, o papo e a cervejinha em comum. Então mantiveram a ligação. Um escrevia algo, mandava pro outro, e aí respondia com charge”, explica Maria Angélica, que resolveu eternizar isso no livro.
Importância do humor
Para a organizadora do livro, fica claro como o livro destaca a importância do humor, mesmo em tempos difíceis, e a leveza que o irmão levava a vida. “Acho que quem ler, vai se sentir melhor com as palavras dele”, revela. Além disso, é uma forma de matar a saudade do cronista e do desenhista. Mas, como ela ressalta, não mata totalmente essa saudade – até porque as crônicas de Amilcar continuam sendo publicadas na Em Voga, e seu legado também está presente através da família, especialmente, das suas duas filhas, Thereza e Mariana.