Jay Vaquer estreia em Juiz de Fora com show que revisita mais de 20 anos de carreira

Pela primeira vez na cidade, artista conversou com a Tribuna sobre suas múltiplas facetas 


Por Pedro Moysés

04/07/2025 às 15h51- Atualizada 04/07/2025 às 15h54

O cantor, compositor, ator e diretor Jay Vaquer virá, pela primeira vez, a Juiz de Fora. Neste sábado (5), o artista se apresenta no palco do Café Muzik, na região central da cidade. Com 24 anos de trajetória, dez álbuns lançados e com indicações ao Grammy Latino, ele é conhecido pelas letras contundentes e a sonoridade que mescla a energia do rock com a sofisticação da MPB e do pop. Para a estreia na cidade, Jay promete um show que revisita a carreira. 

Filho da cantora Jane Duboc e do guitarrista Jay Anthony Vaquer, Jay construiu uma carreira marcada por autenticidade e inquietação criativa. Entre seus maiores sucessos estão as faixas “Pode agradecer (Relationshit)”, “Cotidiano de um casal feliz” e “A falta que a falta faz”, que se tornaram hinos entre ouvintes atentos à poesia e ao drama embutidos nas relações humanas.

Em conversa com a Tribuna, o artista multifacetado revelou os bastidores de seu processo criativo e as reflexões sobre carreira, arte e inquietação.

Tribuna: Você vem a Juiz de Fora para um show que percorre mais de 20 anos de carreira. Qual é a sua relação com a cidade? O que o público pode esperar da apresentação?

Jay: Nunca estive em Juiz de Fora. É lamentável e incrível, mas nunca consegui marcar um show aí. E sempre existiu o meu interesse e um público interessado. Não conheço a cidade nem como turista. Farei o melhor show possível diante das circunstâncias. Vou passear por toda a discografia. 

Sua obra musical é marcada por letras densas, com crítica social, ironia, existencialismo e observações cortantes sobre os relacionamentos. Como é o seu processo criativo?

Eu costumo dizer que as ideias me atravessam antes de virarem música. Às vezes, nascem de uma frase que anoto no celular, de uma indignação, de uma conversa ou de um incômodo que não me deixa em paz. Meu processo não é linear. É muito mais uma arqueologia emocional do que uma estratégia.

Além da música, você se consolidou como uma figura atuante no teatro — escrevendo, dirigindo e atuando. O seu espetáculo “Síndroma”, que estreou em 2023, marca uma virada ou um aprofundamento desse seu lado? 

“Síndroma” foi mais um ponto de convergência. Gosto de levar para a cena teatral o mesmo olhar sobre contradição e identidade que existe nas minhas canções. Foi um aprofundamento, sem dúvida. No fundo, é uma extensão da minha música, só que com outros recursos, com outras camadas simbólicas.

Ao longo da sua trajetória, você transitou com consistência entre música e teatro, entre os palcos. Como essas linguagens se retroalimentam no seu trabalho?

Não busco compartimentar as coisas. Gosto de deixar o leque bem aberto quando penso em ferramentas de expressão. Vejo a música e o teatro como vasos comunicantes. O teatro me ensina sobre ritmo, sobre construção de subtexto, sobre escuta. A música, por outro lado, me traz esse poder de síntese, de condensar muito em poucas linhas. Uma arte alimenta, complementa a outra, e eu sinto que elas juntas me permitem falar de tudo que me interessa de um jeito mais completo e aprofundado. Meu outro amor está no cinema.

Jay Vaquer estreia em Juiz de Fora com show que revisita 20 anos de carreira e fala sobre inquietação artística, teatro e autenticidade
(Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Você é filho de Jane Duboc e  Jay Anthony Vaquer, dois nomes marcantes da música brasileira e internacional. Como foi crescer nesse ambiente e de que forma essa herança moldou sua visão sobre arte?

Cresci cercado por música e por artistas que levavam o ofício a sério, mas também conheci cedo o lado menos romântico: a instabilidade, as incertezas. Essa vivência me ensinou a não ter ilusões fáceis e, ao mesmo tempo, a entender que autenticidade tem um preço que nunca cogitei negociar. Aprendi a me comprometer com aquilo que acredito, mesmo que isso me coloque em lugares menos óbvios.

Apesar da crítica reconhecer seu trabalho como sofisticado e fora da curva, você nunca esteve exatamente dentro do chamado “mainstream”. Como você vê essa posição? Foi uma escolha consciente ou foi consequência natural de uma arte mais reflexiva e menos imediata?

Não acordo de manhã pensando se estou no mainstream ou não. Eu só faço aquilo que sinto que precisa ser feito. Mas, claro, existe um preço por não seguir certas fórmulas e condutas. Ao mesmo tempo, foi uma escolha não me sentir obrigado a pertencer a um lugar em que eu não caberia direito. Eu prefiro estar à margem com integridade do que no centro diluindo o que eu sou. E eu acredito que sempre vai existir um público que valoriza esse tipo de busca.

Com tantos projetos realizados, o que ainda te move? Você sente que há algo que precisa ser dito ou feito artisticamente e que ainda não teve oportunidade de expressar?

A inquietação é o que me move. A própria vida me move o tempo todo. Desejo explorar narrativas audiovisuais cada vez mais, desconsiderando fronteiras entre música, teatro e cinema. Enquanto eu sentir que posso contribuir com algo que seja verdadeiro, vou continuar criando. É isso que dá sentido a tudo.

Serviço

Show Jay Vaquer – Café Muzik

Data: 5 de julho (sábado)

Local: Café Muzik (Rua Espírito Santo, 1081 – Centro)

Horário: abertura da casa às 21h, início do show às 23h.

Ingressos: Pelo Uniticket.

 

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