Björk canta suas dores


Por JÚLIO BLACK

03/02/2015 às 07h00

Artista islandesa mantém em

Artista islandesa mantém em “Vulnicura” as experimentações musicais que marcam sua carreira

‘Vulnicura’, nono álbum da cantora , é marcado pelo final de seu casamento

“Vulnicura”, nono trabalho solo pós-Sugarcubes da cantora islandesa Björk, já pode ser comprado no mercadão digital do iTunes, com o lançamento do disquinho prateado e em vinil ficando para março – mesma época em que ela será tema de retrospectiva no Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma). Para quem já teve a oportunidade de conferir o novo álbum, é possível afirmar que a quase cinquentona artista (ela chega aos 50 anos em 21 de novembro) continua firme e forte como uma das mais interessantes, arrojadas e criativas artistas da música pop contemporânea, a anos-luz de distância de tantos nomes pasteurizados que circulam por aí até consumirem-se em suas 15 semanas de fama.

Björk mostra, da primeira à última faixa, que é possível tirar beleza da dor. Com produção dela, do venezuelano Arca (Alejandro Ghersi) e do inglês The Haxan (Bobby Krlic), “Vulnicura” é centrado no pesaroso final de casamento da cantora com o artista inglês Matthes Barney, com quem viveu por 13 anos. Segundo ela, as nove faixas do disco refletem o antes, o durante e o depois do processo, reunindo algumas das mais belas canções já feitas pela deusa que veio do frio.

Já na faixa de abertura, “Stonemilker”, é possível reconhecer a artista que não tem medo de experimentar novos sons desde “Post”, de 1994, e que mergulhou de vez na seara vanguardista em “Vespertine” (2001). Lá estão os sintetizadores, as cordas, os teclados, as batidas esparsas e a voz às vezes dramática ou quase infantil – mas sempre doce – de Björk, clamando por um relacionamento que não se encontra mais na mesma sintonia. O carrossel de emoções vivido pela cantora segue presente nos 58 minutos de duração de “Vulnicura”, em que sete das nove canções ultrapassam, fácil, os seis minutos de duração, combinando melodias, batidas e barulhinhos estranhos e promovendo, ao mesmo tempo, um clima de beleza, estranheza e melancolia tão comuns nos trabalhos da islandesa. Chega a ser difícil destacar as faixas de maior destaque, mas vale arriscar – além de “Stonemilker” – a sequência “Black lake” (com dez minutos de duração), “Family”, “Notget” e “Atom dance”.

Independente do tom confessional das canções, Björk Guðmundsdóttir mantém o seu espírito musical inovador em “Vulnicura” – mesmo que o novo projeto não seja tão ambicioso quanto o conceitual “Biophilia” (2011), em que misturava música, aplicativos para gadgets, preocupações ecológicas, arte de vanguarda e outras bossas. A genial e geniosa cantora soube pavimentar seu caminho no mundo da música desde que deixou o Sugarcubes para ressurgir com o pop de personalidade de “Debut”, em 1993, tornando o seu universo musical cada vez mais peculiar desde então. Em meio às dores do fim de uma história, Björk tem em “Vulnicura” não só um dos seus melhores álbuns, mas também um candidato a figurar entre os favoritos de 2015. Afinal, nelas podem ser encontrado aquilo que uma canção tem de mais interessante: sentimento.

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