Folia ‘daki’ e de todos os lugares
Chico Buarque sabe mesmo o que fala. "O homem sério que contava dinheiro", "o faroleiro que contava vantagem" e "a namorada que contava as estrelas", com certeza, vão parar para ver, ouvir e dar passagem para a banda passar. Nem mesmo "a gente sofrida" vai conseguir ficar fora da festa preparada pela Banda Daki para hoje. "Vamos manter a tradição com muita serpentina e confetes. O folião não precisa de nada para sair com a gente. Basta colocar uma peruca, um vestido e passar um batom", comenta Zé Kodak, adiantando que, em 2014, vai repetir o setlist de marchinhas carnavalescas, inserindo outros hits de artistas, como Xuxa e Mamonas Assassinas. "Serão músicas boas para brincar. Outros ritmos dá muita confusão", ressalta.
Quem comandará o som, que percorrerá o já conhecido percurso que começa no Largo de São Roque, na Avenida dos Andradas, e segue pela Avenida Barão do Rio Branco até a Catedral Metropolitana, é a Banda Realce, cujos integrantes são os mesmo da Banda Daki. Já figura fácil por aqui, Isabelita dos Patins tem presença confirmada, de acordo com o general. A concentração está programada para as 10h, mas o trajeto começa a ser feito a partir das 13h, com previsão de terminar às 16h. Dois trios elétricos serão incumbidos de arrastar o público, sendo um com os músicos e outro com cerca de 40 pessoas fantasiadas. O Rei Momo estará acompanhado das princesas e rainha do carnaval.
Diversão é a palavra que conduz a história da Banda Daki. Como diz o oficial da folia, o importante é qualidade. "Não trabalhamos mais esperando quantidade, queremos qualidade. Que saiam 20 ou 30 mil pessoas, mas que saiam brincando." No ano passado, a expectativa era atrair cerca de 50 mil foliões. A Polícia Militar apontou um público de 20 mil pessoas no dia do desfile.
A diferença desse 42º desfile é que ele terá a responsabilidade de fechar com chave de ouro o Corredor da Folia de 2014. Nos outros anos, a trupe, encabeçada pelo general Zé Kodak, abria os festejos de Momo na cidade. Aos primeiros sinais do primeiro dia do carnaval, o cenário do entorno da Igreja de São Roque ficava tomado por foliões não só de Juiz de Fora, mas de localidades vizinhas. "A gente fica triste de ver essa modificação. Carnaval é uma explosão popular. É uma festa que não se antecede. Todos os anos, várias pessoas de outras capitais vêm para cá. É uma mudança que prejudica. Fizeram um carnaval para quem tem dinheiro para viajar no feriado", opina o general.
Na data oficial, a Banda Daki baterá ponto em outras paragens, confirmando que é "daki" e de todos os lugares. Amanhã, parte dos músicos estará nas ruas de Pequeri, onde também se apresentará o Bloco do Batom e o Domésticas de Luxo. Já na segunda-feira, ela arrastará a multidão do Bloco do Barril, em São João Nepomuceno.
Pierrôs, arlequins e colombinas
Fundada para ser um bloco em 1972 por um grupo de estudantes, a agremiação logo ganhou outra dimensão e se tornou uma banda. Zé Kodak passou a encabeçá-la em 1979. De uma dezena de participantes, em um ano, o grupo se transformou na principal atração de centenas de foliões. Para chegar aos milhares que hoje se jogam atrás dos trios, não demorou muito. Ao longo das mais de quatro décadas, tornou-se programa predileto de vários pierrôs, arlequins e colombinas, que não perdem a oportunidade de extravasar a criatividade. Em 2005, ela foi registrada como bem imaterial do município.
"O reconhecimento da Prefeitura aumenta a nossa responsabilidade. Com o título, fomos liberados para investir em outras iniciativas, como o Bloco do Batom. A Banda é uma família abençoada. Temos que pedir a Deus para nos deixar estar aqui para completar 50 anos. Em 2015, vamos começar a pensar nos preparativos para a grande festa." A letra "k" no nome surgiu sem qualquer pretensão. "Só achamos que o ‘q’ era muito comum."
Muitas são as histórias guardadas para a posteridade. Algumas arrancaram gargalhadas do general pelo inesperado. "Teve um ano que a banda saiu na Av. Getúlio Vargas. Havia um rapaz que inventou que ia ao mercado, mas foi ao desfile. Quando chegou em frente ao Banco do Brasil, a TV fez uma chamada ao vivo, e ele foi filmado. Ele levou uma coça da mulher na esquina da Halfeld com a Getúlio, mas não ficou envergonhado. Disse que ficou satisfeito por ter saído na banda", conta Zé Kodak.
Que a Banda para o trânsito do entorno da Praça São Roque, todo mundo já sabe. Mas, ter um folião deitado na roda de um coletivo é curioso para Zé Kodak. "Estávamos na concentração, quando um ônibus parou no ponto. Um travesti deitou na frente dele dizendo que só saía dali se o motorista desse um adeus. Precisei interferir e chamar um guarda, que convenceu o motorista a acenar. O motorista riu tanto que não conseguiu sair do lugar. São coisas cômicas que, na hora, são muito engraçadas."
A meta é tranquilidade. "Por isso, contamos com a ajuda da Polícia Militar. Nos últimos dois anos, não tivemos qualquer ocorrência", diz Zé Kodak. As alterações no trânsito nas imediações começaram na madrugada de hoje. Várias ruas do centro estão com o sentido alterado. Também serão modificados os serviços de táxi, estacionamento e itinerário das linhas de ônibus (veja as alterações completas). De acordo com a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra), a operação contará com apoio de agentes de trânsito e policiais militares.