Alunos da área de saúde da UFJF reivindicam retorno das aulas práticas
Segundo estudantes, há mais de ano, a parte prática desses cursos está suspensa, o que vem acarretando prejuízos, como atraso para a formatura
Estudantes dos cursos da área de saúde da UFJF, como Medicina, Enfermagem e Odontologia, reivindicam, por parte da universidade, nova avaliação da situação epidemiológica da pandemia da Covid-19, para que possam retornar às suas atividades práticas. Segundo os alunos, há mais de ano, a parte prática desses cursos está suspensa, o que vem acarretando prejuízos para os estudantes, uma vez que acumulam atraso para a formatura, necessidade de estender a permanência em Juiz de Fora e também possíveis danos no que diz respeito à qualidade de aprendizagem.
De acordo com a coordenadora-geral do Diretório Acadêmico (DA) do Curso de Enfermagem, Ediane Lins, desde o início da pandemia, a equipe do DA tem priorizado a conscientização dos estudantes no sentido de conhecer e se mobilizar com relação ao cenário epidemiológico de Juiz de Fora, sendo pacientes com a questão da suspensão das aulas, mas, agora, essa situação começa a se complicar devido à falta das atividades.
“Precisamos de um posicionamento e de um planejamento por parte da UFJF, porque o cenário está minimamente favorável ao nosso retorno. Na faixa vermelha do programa da Prefeitura de Juiz de Fora, antes da onda roxa, conseguimos que os estagiários do último período retornassem para a prática, para conseguirem colar grau ainda este ano. Só que a Enfermagem, desde o início do curso, conta com aulas que precisam da participação dos alunos no campo de prática e isso está parado desde o início da pandemia e não temos previsão de retorno”, afirma Ediane. Ela acrescenta que os alunos têm um ano de atraso. “Eu, por exemplo, era para me formar no final deste ano, mas não tenho nenhuma perspectiva de concluir o curso em 2021, nem no ano que vem.”
Coordenador-geral do DA do Curso de Medicina, Rodrigo Costa Pacheco dos Santos, ressalta que é inviável para a Medicina seguir o curso na modalidade remota. “Temos que desenvolver habilidades práticas e não se aprende a fazer medicina sem realizar anamnese e exame físico. As duas outras instituições da cidade que oferecem o mesmo curso estão com as suas aulas práticas liberadas, porque entendem a responsabilidade social e provedora de saúde enquanto escola médica, uma vez que essas aulas são garantias da qualidade dos profissionais que estão sendo formados”, avalia o estudante.
Conforme Rodrigo, apesar da liberação da Prefeitura no ano passado, a UFJF mantém os cursos de prática paralisados, uma vez que o comitê que analisa a pandemia por parte da instituição entende que o momento epidemiológico ainda não é o adequado para a volta dessas aulas. “Então, existem dois comitês que se dizem técnicos, o da Prefeitura e o da UFJF, mas estão batendo de frente. E estamos vendo nossos pares em outras instituições, inclusive públicas, retornando com suas aulas e cumprindo com seu papel social.”
Ainda como aponta o coordenador-geral do Diretório Acadêmico do Curso de Medicina, há alunos que estão sendo prejudicados por essa situação, porque não podem se formar e precisam estender sua permanência em Juiz de Fora, arcando com aluguéis. “Ou seja, são vidas que estão sendo ingeridas em razão dessa situação. Chegamos a uma época em que não tem mais como estudar a parte teórica, porque não temos a prática. Questionamos por que nossos cursos continuam parados em um momento em que todas as outras instituições estão retornando e, justamente, em um período de pandemia em que os profissionais de saúde são fundamentais. Não queremos mudar protocolos, nem estamos dizendo que nosso curso é prioritário, só estamos querendo mostrar que a finalização da formação de profissionais de saúde numa época de pandemia é importante. É preciso destacar inclusive o prejuízo pedagógico, porque, com essa situação, estudantes da área da saúde estão há um ano sem examinar pacientes”, enfatiza, alertando que a Prefeitura abriu o pré-cadastro para vacinação contra a Covid-19 para acadêmicos em saúde e estudantes da área técnica em saúde em estágio hospitalar, atenção básica, clínicas e laboratórios que estão em atividade. “Nós vamos ficar de fora, porque a UFJF não autoriza nossas práticas.”

Em Governador Valadares, alunos também reclamam de falta de estrutura
A presidente do DA de Odontologia do Campus da UFJF em Governador Valadares, Thayse Mayra Chaves Ramos, relatou à reportagem que a situação dos estudantes do curso é complicada, uma vez que, além das aulas práticas paralisadas, eles não contariam com infraestrutura para estudar. “O curso está com vários alunos no primeiro período, porque, mesmo tendo o ensino remoto emergencial, os estudantes estão paralisados nos períodos, pois ninguém consegue ir para frente. O décimo período também está sem aula e com estágio suspenso há um ano. Então, os alunos não conseguem se formar”, afirma.
Thayse aponta que a falta de estrutura perpassa a questão das clínicas utilizadas pelos discentes, que seriam alugadas e não seguiriam os padrões de biossegurança exigidos pela UFJF. “Além disso, elas precisam de adequações e isso gera custo, e a UFJF, até então, ainda não se manifestou em relação a esses investimentos”, afirma a aluna, acrescentando que essa é uma discussão que existe antes da pandemia.
“Os alunos vêm fazendo atendimento em trio nas clínicas, desde 2019, porque não cabiam no local, em uma jornada tripla, nos períodos da manhã, tarde e noite. O prejuízo que temos agora não conseguiremos recuperar, e os alunos que estão no final do curso jamais conseguirão, porque fazer essa clínica de trio é uma situação complicada, com três estudantes atendendo um único paciente”, afirma Thayse.
“Os espaços não cabem a quantidade de alunos do curso e há um acúmulo de turmas no primeiro período. Com a paralisação das atividades presenciais, o curso não consegue seguir. Com isso, todo mundo ficou no mesmo período, porque, se começarmos a passar de período, haverá concentração de estudantes no ciclo clínico, que é onde está o pior problema da Odontologia de Governador Valadares, em razão da falta de espaço para alunos estudarem”, diz. Segundo ela, o DA já procurou a Reitoria e uma reunião para expor a situação foi realizada, mas ainda não houve solução.
UFJF diz que medida é respaldada por Conselho Superior
Em resposta à Tribuna, a UFJF informou que é importante reforçar que as atividades presenciais na universidade estão paralisadas em virtude do contexto epidemiológico e sanitário em razão da pandemia que assola o mundo. Conforme a instituição, essa paralisação é respaldada pela decisão do Conselho Superior (Consu), subsidiada em decretos, resoluções, pareceres dos comitês municipais e da UFJF de monitoramento da Covid. “As deliberações do Consu da UFJF são decisões do coletivo representativo dos segmentos que compõem a comunidade da UFJF que o integra”, destaca.
A instituição também informou que a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) tem trabalhado e estudado todas as possibilidades para o desenvolvimento do ensino, como tem sido com o ensino remoto emergencial, além de propostas a serem desenvolvidas, quando da possibilidade de condições epidemiológicas de retorno, conforme as necessidades dos cursos, através de propostas de minutas de organização do calendário acadêmico por meio de semestres suplementares, ensino híbrido e para a realização de semestre intensivo, ressaltou a UFJF, acrescentando que, neste momento de pandemia, sua maior preocupação é garantir um ensino de qualidade, com segurança e em defesa da vida.
A UFJF explicou que as aulas teóricas estão sendo realizadas de forma remota, e os estágios dos cursos da área de saúde estão funcionando, bem como o internato. “O que estão paralisadas são as aulas práticas, que dependem de laboratórios e outros cenários de prática, que, no momento, não estão abertos para a especificidade das disciplinas, conforme decreto municipal”, informou.
Ainda segundo a universidade, a proposta de manter as aulas presenciais suspensas baseia-se no contexto sanitário epidemiológico da doença no município, nas recomendações do Comitê de Monitoramento da Covid da UFJF, considerando o contexto mundial, da federação, do estado e do município, do Comitê Municipal, de pareceres nos decretos estadual e municipal e na decisão do Conselho Superior do dia 26 de março de 2020, que manteve as atividades presenciais suspensas até 30 de junho deste ano.
Expectativa de retorno
Sobre expectativa de retorno das atividades que estão paralisadas, a UFJF pontuou que está desenvolvendo todas as propostas para regulamentar a realização de semestre suplementar, híbrido e para a realização de semestre intensivo, além de calendários específicos para atender as especificidades de grupos de cursos, “esperando que se possa retornar tão logo a situação epidemiológica e sanitária assim permitir, e o Consu liberar o retorno”.
Adaptações de infraestrutura
No caso específico dos alunos do Curso de Odontologia de Governador Valadares, a UFJF ressaltou que estuda junto aos cursos da área da saúde a implementação de semestres suplementares para o atendimento desses estudantes. “Sabemos das dificuldades que os cursos de Odontologia estão enfrentando em virtude de suas especificidades e desenvolvimento das atividades práticas, sendo necessário o desenvolvimento de muitas adaptações, inclusive, de infraestrutura. Essas foram referidas nos projetos para o retorno das práticas, que foram analisadas e avaliadas pela Prograd, comitê de infraestrutura e o comitê de monitoramento Covid UFJF.”
Ainda conforme a instituição, atualmente, existe um grupo de trabalho coordenado pelo professor Edson Faria, coordenador de Políticas de Currículo e Ensino de Graduação, que “estuda o cenário do Curso de Odontologia com demais membros do mesmo curso de Governador Valadares com expectativa de apresentação de propostas para as questões específicas dessas faculdades”.