Duas novas residências terapêuticas começam a funcionar
Vinte pessoas deixaram para trás a realidade dos hospitais psiquiátricos e irão começar uma nova vida nas duas residências terapêuticas implantadas na semana passada pela Prefeitura, dentro do processo de desospitalização da Secretaria de Saúde. Cada casa irá receber dez moradores que estavam sob os cuidados do Hospital Ana Nery. Assim, o município conta agora com 27 residências abrigando 264 pessoas. A expectativa é que, até o final de abril, mais três casas sejam implantadas, encerrando o processo iniciado em 2013.
Inicialmente, a previsão era de que as 30 residências estivessem em funcionamento até dezembro do ano passado. No entanto, conforme a chefe do Departamento de Saúde Mental, Andréia Stenner, uma das dificuldades de implantação das casas foi encontrar pessoas dispostas a alugar os imóveis para essas residências. Além disso, Andréia destaca que ainda existe um olhar preconceituoso da vizinhança sobre essas pessoas, em um primeiro momento. “Tem que ser feito um trabalho para que o sujeito possa circular com sua diferença. Esse é o desafio. Temos feito essa discussão com os conselhos de saúde regionais e com as associações de moradores de bairro para desfazer esse olhar. Então, não adianta aumentar o número de residências se não vencermos essa visão social de conviver com o diferente.”
As 27 casas existentes na cidade estão espalhadas por todas as regiões. Para Andréia, essas residências precisam fazer parte da paisagem de cada região. “A ideia é não estigmatizar o lugar e o direito da pessoa na comunidade. As residências estão espalhadas para que haja espírito de troca.”
Vida nova
Nas residências, os moradores são acompanhados por uma equipe multidisciplinar que busca resgatar a autonomia dessas pessoas. “Por terem ficado anos nas clínicas, eles perderam a habilidade da vida cotidiana. Nesse início, o trabalho é de resgatar gestos do cotidiano, como ir à cozinha, abrir a geladeira, ter seus pertences guardados de maneira individualizada, tomar banho quando quiser, porque no hospital eles não tinham essa liberdade. Há um processo de adaptação. Hábitos básicos, como sentar-se à mesa são difíceis, num primeiro momento. Essa adaptação dura, no mínimo, três meses.”
Andréia conta que um grupo de trabalho de desinstitucionalização se reúne semanalmente com representantes dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e das equipes que cuidam das residências na tentativa de melhorar a inserção social dessas pessoas. “Percebemos que é preciso discutir as situações além da casa, como refletir sobre a capacidade de cada um de gerir os próprios recursos e o direito de ir e vir. Muitas famílias ainda veem como se a pessoa fosse incapaz. Pedem que o morador não saia da casa. Temos que trabalhar com a família a autonomia do morador porque não adianta sair do hospital para ficar confinado na residência.”