UPAs estão sobrecarregadas com a falta de leitos hospitalares

Após denúncia de que usuários com câncer estavam enfrentando longa espera nas UPAs, pacientes com outras enfermidades também procuraram o jornal para reclamar da mesma situação


Por Carolina Leonel

27/07/2018 às 07h00- Atualizada 27/07/2018 às 08h39

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Na UPA de São Pedro, paciente de 70 anos ficou 14 dias internada esperando vaga na rede conveniada. Ela conseguiu transferência para o HU nesta quinta-feira (Foto: Felipe Couri)

A demora para a transferência de pacientes das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para hospitais tem prejudicado muitos que chegam com complicações até as instituições e que dependem dos procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS). A situação vai além dos pacientes com suspeita de câncer, situação já mostrada nesta quinta-feira pelo jornal. A falta de leitos hospitalares na rede conveniada tem sido a principal justificativa para o entrave no fluxo de atendimento.

À Tribuna, a Secretaria de Saúde de Juiz de Fora afirmou que a sazonalidade contribui para que haja uma redução no número de vagas disponíveis, uma vez que pacientes idosos e de demais grupos de risco tendem a ficar mais vulneráveis nesta época mais fria do ano. Segundo dados divulgados pela pasta, a média de leitos pela Autorização de Internação Hospitalar (AIH) seria de 1.100, com taxa média de permanência de seis dias paciente/leitos. A pasta informou, ainda, que, atualmente, existem 41 pacientes internados nas três UPAs da cidade – UPA Santa Luzia, UPA Norte e UPA de São Pedro. Destes, 15 estão a menos de 24 horas internados na urgência; 11 estão a, pelo menos, 48 horas e, nove estão entre três e cinco dias. Foram notificados seis pacientes internados há mais de dez dias. Nestes casos, a informação é de que seriam pessoas com complicações vasculares, oncológicas e outras especialidades com gargalos em relação a leitos na rede hospitalar conveniada.

Com complicações vasculares, um paciente de 97 anos, internado na UPA de Santa Luzia, aguarda desde o dia 18 de julho a disponibilidade de leito para sua transferência. Na mesma unidade, está um homem de 72 anos, que foi encaminhado para a urgência após ter sofrido infarto e aguarda transferência desde a última terça-feira. Vulnerável, o paciente desenvolveu um quadro de pneumonia e insuficiência renal. O quadro dele é considerado grave.

Em contato com a Tribuna, o diretor técnico da UPA de São Pedro, Kléber Leandro Gudziki, relatou que, na unidade, pacientes em tais situações são internados para que os quadros sejam estabilizados, e alguns exames são realizados antes de devido encaminhamento ao hospital. Uma paciente de 70 anos, que estaria internada há 14 dias na unidade, conseguiu, após ter seu quadro estabilizado, transferência para leito hospitalar.

Pacientes com câncer

Em relação aos pacientes oncológicos, que também estariam internados nas UPAs por falta de absorção dos hospitais referência – Ascomcer e Instituto Oncológico Nove de Julho -, a Secretaria de Saúde informou que a pasta está fazendo um levantamento daqueles com Procedimentos de Alta Complexidade (PAC) em vigência, para encaminhar aos hospitais oncológicos, que têm a responsabilidade de atender tais casos.

Contudo, uma paciente, 79 anos, que já está em tratamento na Ascomcer, aguarda internada desde o dia 13 de julho na UPA Santa Luzia pela transferência para a unidade. A Tribuna entrou em contato com o hospital para verificar a situação, mas, até o fechamento desta edição, não houve retorno.

Por meio de nota, a Ascomcer afirmou que a situação se trata de uma intercorrência clínica sem relação com o tratamento contra o câncer, e que “já foi inclusive justificada no Sistema do SUS Fácil pela médica que acompanha a paciente em sua doença”. O hospital afirmou, ainda, que prioriza “os leitos para pacientes que necessitam da intervenção do médico oncologista e, dessa forma, a absorção dos pacientes cuja intervenção seja necessariamente oncológica”.

Responsabilidade

O secretário executivo do Conselho Municipal de Saúde, Jorge Ramos, afirmou que o órgão tem atuado junto à Ouvidoria de Saúde nestes casos. Para ele, entretanto, a responsabilidade por esta situação sai do Município. “O que a gente precisa é que haja o entendimento por parte do Estado e do Governo Federal de que há necessidade da ampliação de leitos e da mudança desta política de série histórica. Temos que ver a necessidade real da cidade.”

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