Estiagem em Juiz de Fora é a mais severa desde 1963
Último dia de chuva na cidade foi registrado em maio; já são 61 dias sem precipitações
Com 61 dias ininterruptos sem chuva, Juiz de Fora tem a segunda maior estiagem registrada na história da cidade. A marca supera os 60 dias sem precipitação identificados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em 2010 e só perde para os 113 dias sem chuva enfrentados em Juiz de Fora entre os dias 2 de junho e 22 de setembro de 1963, há 58 anos.
Para o levantamento, considera-se como chuva precipitações maiores que um milímetro. Com isso, o último registro na cidade foi no dia 26 de maio, quando choveu 2,7 milímetros no Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde ficam instalados os aparelhos do 5º Distrito de Meteorologia do Inmet. Desde então, o tempo seco prevaleceu e tudo indica que deve continuar.
Segundo o boletim publicado pelo Inmet nesta segunda-feira (25), uma massa de ar seco predomina sobre todo o estado de Minas Gerais. A próxima semana deve ser de céu nublado a parcialmente nublado, porém com baixos índices de umidade. O tempo seco, somado às temperaturas na casa dos 25 graus, colabora para uma queda na umidade relativa do ar, que pode chegar a casa dos 30%, nível considerado de alerta pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Média histórica é de 73 dias de estiagem entre maio e setembro
A climatologista associada ao Inmet Anete Ferreira afirma que o período prolongado de estiagem é normal, levando em consideração que estamos na época mais seca do ano, que vai de maio a setembro. De acordo com ela, a média histórica para esses cinco meses, em Juiz de Fora, é de 73 dias sem chuva. “Ainda estamos na casa dos 60, então é um índice dentro da normalidade. Mas levando em consideração que ainda temos o mês de agosto e setembro pela frente, e não há previsão de chuva para esse período, é provável que iremos ultrapassar essa média histórica e termos um inverno mais seco que o habitual.”
Anete ainda explica que uma característica deste inverno é a zona de alta pressão que se instalou na parte continental do Brasil, criando uma massa de ar seco que impede a formação de nuvens. “Essa zona de alta pressão tem funcionado como um bloqueio atmosférico, impedindo o avanço de sistemas frontais carregados de umidade vinda do oceano. Geralmente a Zona da Mata sofre com a atuação dessas frentes frias, algo que não está acontecendo neste inverno. Nós não tivemos um episódio de queda brusca de temperatura desde junho. São também essas frentes frias que trazem aquela chuva fina, típica da mudança de tempo.”
Para a climatologista, ainda é cedo para associar a situação a uma anomalia climática. “O que temos que fazer agora é observar como vai ficar o cenário daqui pra frente. Se chegarmos em setembro e ainda não tiver chovido, é certo que teremos ondas fortes de calor no verão.” Ela ainda ressalta que, neste ano, Juiz de Fora teve chuvas abundantes, o que também contribui para não termos um déficit alarmante de precipitação.
Já para a climatologista da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Cássia Ferreira não é comum que a cidade fique tantos dias consecutivos sem precipitação. “Como mostra o levantamento, essa situação só aconteceu em 2010, período que o Brasil passou por uma intensa crise hídrica.” No entanto, ela também leva em consideração que ter dias de chuva não significa que a deficiência hídrica do período será suprida. “Mesmo quando chove, às vezes é uma precipitação muito fraca, entre 4 e 2 milímetros, e que não passa de algumas horas.”
150 ocorrências de incêndio em vegetação este ano
Cássia alerta para os perigos do tempo seco, principalmente a maior probabilidade de incêndios. De acordo com dados do Corpo de Bombeiros, no ano passado, durante os cinco meses de estiagem, foram registradas 531 ocorrências. Já neste ano, até segunda-feira (25), foram 150 focos, 19 só no último final de semana. Ela explica que a falta de chuva também contribui para maior concentração de poluentes, seja no ar ou no leito dos rios. “Isso, somado a umidade relativa do ar mais baixa, na casa dos 30%, prejudica principalmente quem tem problemas respiratórios e pessoas mais vulneráveis, como crianças e idosos.”
Para Cássia, os 61 dias de estiagem merecem atenção. “É um alarde nós termos esse período tão grande sem chover, até porque ele deve se estender, no mínimo, até o início de agosto. Ainda é cedo para atrelarmos isso a mudanças climáticas ou fatores externos. Pode ser que sim, mas é algo que só vamos ver lá na frente, se a quantidade de dias sem chuva for muito superior ao habitual para esse período mais seco do ano.”
Cesama libera 10m³/s da água de Chapéu D’uvas para perenização do Paraibuna
Historicamente, nos meses mais secos, entre maio a setembro, as comportas de Chapéu D’uvas são abertas, liberando água para auxiliar no processo de perenização do rio, evitando que o esgoto seja a única concentração no leito. Nos últimos dias, com a ausência de chuvas, o rio está recebendo apenas a água da represa e dos córregos da cidade, tornando ainda mais visível a poluição das águas.
De acordo com a Cesama, atualmente, são liberados cerca de 10m³/s de vazão. Aliada, ainda, à pequena vazão dos demais córregos à jusante daquela barragem, tal condição permite uma continuidade do fluxo do rio na região central de Juiz de Fora. Em nota, a companhia afirmou que a vazão retirada para o abastecimento é de, aproximadamente 0,7m³/s, muito inferior à vazão de descarga. “A operação normal de Chapéu D’Uvas já prevê a diminuição de seu nível neste período de seca para que exista espaço suficiente para amortecer as chuvas intensas, que normalmente ocorrem entre novembro e março em nossa região. Mesmo em níveis muito baixos da represa, a captação flutuante da companhia consegue retirar água para abastecimento sem que isso represente risco de acumulação.”
Apesar da pouca chuva, o nível dos outros mananciais também está estabilizado. De acordo com a Cesama, a represa Dr. João Penido está 77% cheia, índice maior do que o registrado no ano passado, quando estava 67,9% completa. Já na Represa de São Pedro, o abastecimento é de 81,8%, pouco menor se comparado ao ano anterior, quando estava em 90,5%.
Sobre a presença de esgoto no Rio Paraibuna, a Cesama afirmou que existe um programa de remodelação de captação que, gradativamente, promove a separação de redes mistas – de esgoto e águas pluviais – para que, assim,o esgoto coletado possa ser direcionado para os interceptores instalados nas margens do rio e, daí, para a estação de tratamento, evitando que chegue ao rio.