Execução de mulher pode ter sido vingança por suposto estupro de criança
Suspeito de abuso seria namorado da vítima; Delegacia de Homicídios abriu inquérito e realiza diligências nesta segunda
A Delegacia Especializada de Homicídios instaurou inquérito nesta segunda-feira (25) para investigar o assassinato de Roseli Franca de Oliveira Silva, 41 anos, executada dentro de casa com dois tiros na cabeça, na madrugada de sábado (23), no Bairro Santo Antônio, Zona Sudeste de Juiz de Fora. O crime violento chocou ainda mais porque a filha da vítima, de 10 anos, estava na residência quando a mãe foi morta. Segundo a Polícia Civil, o homicídio “pode estar diretamente relacionado a outros dois casos, nos quais um rapaz, namorado dessa mulher, foi acusado e agredido por ter cometido estupro de vulnerável contra uma criança de 3 anos”. O delegado Rodrigo Rolli e sua equipe realizam diligências na manhã desta segunda.
A menina que praticamente presenciou a execução da mãe contou à Polícia Militar que dois criminosos encapuzados chegaram à sua casa, na Rua da Conquista, e desferiram chutes para conseguirem quebrar o vidro da porta. Roseli foi verificar o barulho, pouco antes de 1h, e acabou sendo rendida pela dupla armada. Ela foi obrigada a abrir a porta e a sentar no sofá da sala. Já a criança recebeu ordem dos bandidos para ir para o quarto. Logo depois, a criança escutou três estampidos. Os assassinos teriam fugido correndo em seguida, e a filha da vítima saiu para pedir socorro na casa de um tio.
O familiar, 53, chegou à residência, viu a vítima caída ao solo aparentemente sem vida e acionou a PM. Após levantamentos, os militares identificaram que no dia anterior o namorado de Roseli, 29, havia sido agredido no Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua), na Rua Professor Oswaldo Veloso, no Centro. O motivo seria o fato de ele ter sido apontado como autor de um suposto estupro de vulnerável ocorrido, naquela semana, na mesma casa da Rua da Conquista.
Agressão
Uma funcionária do Centro Pop relatou à PM que mais de dez pessoas haviam invadido a unidade e partido para cima do usuário no início da tarde da última sexta. O suspeito ficou caído no chão do estabelecimento e precisou ser socorrido pelo Samu para ser medicado no HPS. Ele sofreu fratura na face e trauma crânioencefálico moderado, além de luxação em um dedo da mão direita. Após ser atendido no centro cirúrgico, o homem ficou internado em observação, mas a PM não conseguiu ouvi-lo para saber sua versão devido ao seu estado clínico. De acordo com a assessoria da Secretaria de Saúde, a família do paciente assinou termo de responsabilidade, e ele deixou a unidade no último sábado.
Nenhum envolvido na agressão foi detido. “Tudo indica que o homicídio ocorreu em represália ao suposto estupro ocorrido em sua casa, praticado pelo seu namorado”, aponta o registro policial. No dia do assassinato, a perícia da Polícia Civil realizou os levantamentos, confirmando as duas perfurações à bala na cabeça da vítima, e o corpo de Roseli foi levado para necropsia no Instituto Médico Legal (IML). A filha dela ficou muito abalada e foi levada para um hospital, onde foi medicada e liberada. A criança ficou sob a guarda do pai, que acompanhou o atendimento. Apesar das buscas, ninguém foi preso. Um celular que teria possíveis informações sobre os fatos foi apreendido.
Antes de ser morta, vítima negou suposto abuso em sua casa
A ocorrência de “importunação sexual” que teria ligação com o caso foi registrada pela PM no dia 20, três dias antes de Roseli Franca de Oliveira Silva ter sido executada a poucos metros da filha de 10 anos. Naquela data, uma mulher, 33, informou à polícia que a sobrinha dela, 3, havia contado ter sido acariciada e beijada pelo namorado de sua “cuidadora”, no caso, Roseli. Segundo a responsável pela criança, a história teria sido repetida pela menina para outros parentes. A vítima também teria relatado a mesma versão ao ser questionada pela equipe policial.
No mesmo dia Roseli foi ouvida pelos militares, pelo fato de ser companheira do suspeito e de o suposto crime ter acontecido na residência dela. A mulher disse aos policiais, na ocasião, que tinha uma filha de 10 anos em casa e nunca havia presenciado qualquer atitude suspeita por parte de seu namorado. Ela ainda afirmou cuidar da criança “como se dela fosse”. A moradora também atestou não entrarem drogas em seu imóvel.
Após o registro da ocorrência, a PM orientou a tia da possível vítima de abuso a buscar ajuda junto ao Conselho Tutelar e assistência psicológica para a criança. Naquele dia o suspeito de estupro de vulnerável não foi encontrado. Ele também deverá ser ouvido no inquérito que apura o homicídio.