Mãe busca filho há mais de um ano


Por MARCOS ARAÚJO

24/07/2015 às 07h00

Núbia Santiago deixou o trabalho para buscar pistas do  filho Rodrigo e cobrar conclusão para o caso (Fernando Priamo/24-06-15)

Núbia Santiago deixou o trabalho para buscar pistas do filho Rodrigo e cobrar conclusão para o caso (Fernando Priamo/24-06-15)

Quatrocentos e setenta e sete dias sem saber se o filho está vivo ou morto. O drama é enfrentado pela mãe do vendedor Rodrigo Santiago Sebastião, de 22 anos, desaparecido desde 3 de abril de 2014. Núbia Santiago Sebastião, 42, deixou o trabalho como costureira em uma fábrica para buscar pistas sobre o jovem e cobrar uma conclusão para o caso. Embora o corpo não tenha sido encontrado, o desaparecimento passou a ser tratado como homicídio pela Polícia Civil.

Ela prepara, por conta própria, uma série de cartazes com fotos e informações sobre Rodrigo para distribuir e colar em pontos da cidade, a fim de obter vestígios dele. “Precisamos encontrá-lo vivo ou morto. Ouvimos boatos sobre seu paradeiro. Já fomos até o Bairro Santa Cruz atrás de um rapaz que pensamos ser ele e lá andamos, procuramos, fizemos contato com diversas pessoas, e nada.”

A dificuldade enfrentada pela mãe do jovem traz à tona o problema que muitas famílias encontram para buscar seus entes desaparecidos, já que Juiz de Fora não conta com uma delegacia especializada. Hoje as ocorrências são encaminhadas para apuração nas delegacias distritais e são investigadas concomitantemente com outros crimes. De janeiro a maio deste ano, conforme último levantamento da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), foram registrados 82 casos de desaparecidos, na cidade. Neste período, o índice de pessoas localizadas ficou em 36%. Em 2014, quando Rodrigo sumiu, o total foi de 210, e o índice de localizados atingiu 48% (ver quadro). A Seds ainda informou que os dados não podem ser encarados como absolutos em cada ano, já que, dentre eles, podem existir ocorrências registradas em anos anteriores.

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Todavia, como informou a assessoria de comunicação da Polícia Civil, os casos que chegam são lançados em um sistema com alerta de desaparecimento, e o delegado pode, depois de uma investigação para localização do sumido e, se considerar necessário, pedir autorização dos familiares para divulgação da imagem, que será encaminhada à Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida, em Belo Horizonte. A unidade recebe a solicitação e dispara entre as instituições parceiras para a divulgação, bem como elabora cartazes, que serão encaminhados para o interior.

Entretanto, este procedimento não foi adotado no caso de Rodrigo. A Polícia Civil informou que, como o caso ainda está em andamento, a providência ainda não foi realizada. “Mais de um ano se passou e parece que há um descaso”, lamenta Núbia.

 

Atraso na perícia

Em 11 de abril do ano passado, o veículo Gol do jovem desaparecido foi localizado na Estrada União e Indústria, abandonado e aberto. Desde então, a família aguarda o resultado do exame de luminol que vai apontar vestígios de sangue no interior do automóvel, confirmando se houve ou não um crime. A perícia foi solicitada pela primeira vez pelo delegado Rodrigo Rolli, em 9 de maio de 2014, que estava à frente do caso.

Nove meses depois do primeiro pedido, o exame foi requerido mais uma vez, em 11 de fevereiro deste ano, pelo delegado Rodrigo Massaud, atual responsável pelo inquérito. Mas só no último dia 9, a Polícia Civil confirmou que o procedimento foi realizado e que detalhes não poderiam ser repassados por questões de sigilo. Não havia previsão para o seu resultado.

Segundo investigação, jovem não possuía desafetos

O delegado Rodrigo Rolli, na época do sumiço de Rodrigo Santiago Sebastião, estava à frente da 6ª Delegacia, responsável pelo inquérito. “Chegamos a ouvir os familiares e também os rapazes que estavam com o vendedor antes de sumir. Eles contaram que ficaram com o jovem até certo ponto e, depois do posto de gasolina, ele foi embora sozinho. Também ouvimos o frentista do posto, que disse não ter notado nada de anormal”, disse Rolli. A investigação foi iniciada, mas Rolli foi transferido daquela unidade em outubro de 2014, sendo o caso assumido pelo delegado Rodrigo Massaud.

Segundo Rodrigo Rolli, quando foi transferido, o prazo para o exame de luminol já tinha extrapolado há cinco meses e, antes de sair, tinha a intenção de ouvir os policiais militares que encontraram o carro e colher novamente depoimentos dos rapazes que estavam no automóvel. “O jovem não tinha envolvimento com o tráfico e não tinha desafetos. Era trabalhador e sem antecedentes criminais. O que tinha de concreto era o fato de que ele estava com o dinheiro da rescisão, o que nos fez pensar até em latrocínio. No local onde o carro estava nada de estranho foi encontrado, o que levou a crer que uma morte não teria acontecido lá”, lembrou Rolli, acrescentando que o Gol foi restituído à família.

Atualmente à frente do caso, Rodrigo Massaud, afirmou que o inquérito continua em andamento e que, em 12 de março deste ano, realizou uma acareação com os rapazes que estiveram com Rodrigo no dia em que desapareceu e ambos negaram que teria ocorrido um crime.

Ministério Público cobra agilidade

No dia 16 do mês passado, ofício do promotor de justiça do Tribunal do Júri, Oscar Abreu, foi encaminhado ao delegado Regional de Juiz de Fora, Luciano Vidal, solicitando a conclusão do inquérito. Na ocasião, Rodrigo Massaud reiterou o pedido de perícia do veículo do rapaz desaparecido, já que considera que o exame poderá esclarecer se houve um crime. “Vou aguardar o resultado para fechar o inquérito e enviá-lo para a Justiça.”

Entretanto, o delegado afirmou que talvez seja necessário concluir o caso, alegando que não foi possível apurar as circunstâncias desse desaparecimento. “Com base no que a investigação apontou até agora, não há nada que comprove um homicídio”, concluiu o delegado.

Por meio de nota, o delegado Regional, Luciano Vidal, informou que o luminol foi solicitado para complementar as investigações já realizadas, porque a Polícia Civil trabalha com todas as possibilidades. Segundo ele, este exame é específico e completo e é realizado em Belo Horizonte, que tem a responsabilidade de atender a todo o estado, tendo que aguardar a demanda.

O promotor Oscar Abreu afirmou que, só depois de receber o inquérito, poderá avaliar o que pode ser feito. “Vou analisar e, de acordo com o que ele apontar, vou sugerir algumas provas e diligências. É pouco provável que o exame de luminol possa apresentar luzes para desvendar a circunstância desse crime, já que se passou muito tempo da data em que o carro foi encontrado”, explicou o promotor, acrescentando que: “Mesmo depois de arquivado o caso, poderá ser reaberto a qualquer momento caso surjam novas provas.”

 

Caso novo

No último dia 9, a Polícia Civil abriu inquérito para investigar o desaparecimento de Reinaldo Almeida Santos, 23. Ele teria alegado aos familiares que iria a uma festa no Jóquei Clube e não mais retornou. De acordo com o delegado Rodolfo Rolli, a mãe do jovem apresentou um local onde o filho teria sido visto pela última vez. Rolli informou que expediu ofício para que uma diligência buscasse no local indicado imagens de câmera de segurança, que sirvam como pistas sobre o desaparecido, a fim de dar continuidade à apuração.

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