Correios vai fechar duas agências e Centro de Triagem em Juiz de Fora
Atividades serão encerradas em julho, e usuários deverão utilizar outras cinco agências na região central; decisão vai atingir cerca de cem funcionários, segundo sindicato
As agências dos Correios localizadas nas ruas Espírito Santo e Oscar Vidal e o Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas dos Correios (CTCE), situado na Avenida JK, serão fechados em julho. A previsão é que as agências do Centro da cidade funcionem até dia 5, enquanto as atividades no CTCE devem ser encerradas até 30 de julho. Segundo informações da estatal, no caso do CTCE, as atividades estão sendo transferidas gradativamente para a unidade de Contagem, que vai assumir as atividades anteriormente desenvolvidas em Juiz de Fora e deve começar a funcionar em agosto.
Os fechamentos dos postos se darão, segundo a empresa, devido à uma política de readequações de atendimento e de realocação de pessoal. Em nota enviada à Tribuna, os Correios afirmam que “a maioria das unidades que serão desativadas ocupam imóveis alugados e estão sombreadas por outras. No caso em questão, em um raio de três quilômetros no Centro de Juiz de Fora existem sete agências de atendimento.” A orientação, portanto, é que os usuários façam uso de umas das outras cinco agências existentes na região central. Questionada sobre os impactos para a população, a estatal garantiu que “os usuários não serão prejudicados”.
No total, as agências tinham 13 empregados, enquanto o CTCE empregava 90 trabalhadores, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Empresa de Comunicação Postal, Telegráfica e Similares de Juiz de Fora e Região (Sintect). Com o fechamento dos postos, mais de cem funcionários serão afetados e devem passar por realocações para outras agências da região ou para a função de carteiro ou podem ser dispensados. No caso dos funcionários das duas agências, a estatal afirmou, em nota, que eles são realocados em outras unidades.
A possibilidade de transferências entre unidades e as mudanças de função foram criticadas pelo presidente do Sintect, João Ricardo Guedes. “A gente sabe que muitos funcionários não têm condições de assumir a função de carteiro e enfrentar o dia a dia, até por questões físicas, já que o teste físico para atendente é muito diferente do que é realizado para os carteiros. E também sair da cidade fica difícil para aqueles que têm domicílio em Juiz de Fora”, pontua o presidente, destacando que a única opção para o funcionário manter-se em Juiz de Fora seria, então, atuar como carteiro, área com escassez de pessoal.
Plano de Desligamento Voluntário
A outra alternativa seria a adesão ao Plano de Desligamento Voluntário (PDV), anunciado neste mês, e que tem prazo de inscrições até o dia 12 de junho. Criado com intuito de enxugar o quadro de funcionários em até 7,3 mil servidores em âmbito nacional, o programa atinge os cargos de atendente comercial e operador de triagem e transbordo, além de aposentados e funcionários de cargos extintos. A adesão ao PDV confere verbas rescisórias e incentivo financeiro entre R$ 20 mil e R$ 350 mil, mas não oferece o direito a receber a multa rescisória de 40% do saldo do FGTS e nem o seguro-desemprego.
A medida também foi recebida negativamente pelo Sintect. De acordo com o presidente do sindicato, os serviços oferecidos pelos Correios serão afetados diretamente pela saída de servidores, sem a previsão de entrada de novos funcionários. “Esse plano causa muito impacto na questão de prestação de serviços, porque só saem trabalhadores e não entram outros no lugar. Desde 2011 não tem concurso e desde 2013 a gente vem sofrendo com esses processos de demissões voluntárias. A gente tinha um efetivo de quase 130 mil, mas hoje, com a adesão a esses planos, nós vamos atingir uns 98 mil trabalhadores. Então o número de funcionários é muito aquém para que a gente possa realizar um serviço de qualidade como realizávamos”, afirma Guedes.
Centro de Triagem
Em janeiro, a Tribuna adiantou que o Centro de Triagem dos Correios em Juiz de Fora seria desativado. À época, a estatal afirmou que o objetivo é centralizar as atividades em uma nova unidade em Contagem, cidade 270 quilômetros distante de Juiz de Fora. Uma preocupação, no entanto, é que o fechamento do núcleo cause ainda mais atraso nas entregas na região, reclamação recorrente entre os consumidores da cidade. Em nota encaminhada à Tribuna nesta sexta, no entanto, os Correios afirmam que os prazos de entrega não serão afetados. A previsão é que a unidade em Contagem comece a funcionar em agosto deste ano.
Após seis anos de funcionamento na Avenida JK, na Zona Norte, o encerramento das atividades do núcleo vai de encontro à expectativa de quando a unidade foi inaugurada, em 2013. Na época, a perspectiva era de que o Centro abrangesse 225 municípios da região e chegasse ao fluxo de 180 mil correspondências ao dia, além de abrir caminho para a criação de outras unidades por meio de parcerias público-privadas. No entanto, o movimento, atualmente, é contrário: além de Juiz de Fora, Uberlândia, Uberaba e Varginha deverão ter seus núcleos encerrados. “A medida visa a readequar a malha de tratamento dos Correios com a centralização das operações em Contagem”, afirmou a assessoria dos Correios, ainda em janeiro.
Crise e cortes de gastos
Os fechamentos e os desligamentos acompanham as decisões da estatal em âmbito nacional. Até o dia 5 de julho, há a previsão de encerramento de mais de 161 agências em 22 estados brasileiros e também no Distrito Federal. Em Minas Gerais, serão 13 postos fechados. Entre 2017 e 2018, quase 300 unidades dos Correios encerraram as atividades em todo o país.
Os cortes de gastos ocorrem em consequência ao prejuízo acumulado nos últimos anos. Entre 2016 e 2017, a empresa acumulou R$ 4 bilhões em prejuízo. Além da diminuição do número de agências, também houve cortes nos custos do plano de saúde dos funcionários e foram implantadas unidades compactas dentro de estabelecimentos comerciais.
Também há a possibilidade de privatização dos Correios, tratada publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro, ou de abertura de capital, tratada pelo presidente da estatal, Juarez Cunha. O Sintect se opõe à privatização, processo ao qual atribui o status de “perda de soberania nacional”. “A instituição sempre prestou um serviço de excelência quando era bem administrada. Infelizmente, nos últimos anos, houve um sucateamento, até por conta do crescimento da questão da privatização dos Correios. É um desmonte que está se colocando para agradar ao capital internacional, com uma volúpia do Governo em descartar a soberania nacional”.