Novas tecnologias aceleram implementação de práticas ESG
Análise de dados, robótica e até inteligência artificial podem ser usadas a favor de sustentabilidade
Coleta de dados ambientais, monitoramento remoto para redução de impactos e eficiência energética proporcionada pela internet das coisas. Esses são apenas alguns usos entre os diversos proporcionados pelo desenvolvimento tecnológico, que contribuem para a implementação de práticas ESG (environmental, social and governance; no português, ambiental, social e governança). De análise de dados e robótica à inteligência artificial, as novas tecnologias têm mostrado que é possível aplicar esses recursos a favor da sustentabilidade.
Um exemplo prático é um sistema de inteligência artificial usado para recenseamento de iluminação pública com uso de drone. A tecnologia foi desenvolvida pela RoboticTech, startup que passou pelo processo de incubação no Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) da UFJF e, hoje, faz parte do condomínio de empresas do órgão.
O sistema identifica, entre outras características, o tipo e a potência das lâmpadas instaladas no parque de iluminação pública. A relação com as práticas ESG pode ser vista nos três âmbitos: redução do consumo de energia e uso de energias renováveis, no ambiental; melhoria da segurança pública e inclusão, no social; e melhoria na gestão pública e transparência, na governança.
“O recenseamento automatizado permite identificar e corrigir problemas de iluminação de forma mais rápida, reduzindo o desperdício de energia e, consequentemente, as emissões de carbono. A análise dos dados coletados pode ajudar a determinar a viabilidade de fontes de energia limpa, como painéis solares, para abastecer a iluminação pública, por exemplo”, aponta o CEO da RoboticTech, Mathaus Ferreira.
Para Mathaus, as novas tecnologias já vêm contribuindo para as práticas ESG. A projeção é que elas se tornem cada vez mais presentes, possibilitando análises mais assertivas para o futuro. “Acredito que o uso da tecnologia vai diminuir as chances de erro de um dado projeto ou de insucesso de planejamento de otimização, bem como diminuir a emissão de carbono e melhorar a eficiência enérgica.”

Mais velocidade e transparência
Ao se falar em novas tecnologias, o leque de opções é extenso, inclusive em suas aplicações para a ESG. De acordo com Rubens Mazzali, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em ESG, desde a inteligência artificial à internet das coisas, as empresas podem aplicá-las de diversas formas, refletindo em processos de velocidade e transparência de informações sociais, econômicas e ambientais.
Quando se fala em inteligência artificial, é possível realizar análises completas e identificar investimentos com critérios sustentáveis, o que resultará em um impulsionamento de projetos com impacto positivo nos âmbitos social e ambiental, conforme Mazzali. “A inteligência artificial pode ser usada para analisar grandes conjuntos de dados ambientais, sociais e econômicos, identificando padrões e correlações. Isso pode ajudar as empresas a entender melhor seu desempenho em relação às métricas ESG e prever impactos futuros.”
Porém, junto com os benefícios, surgem também cuidados que devem ser tomados em relação ao avanço tecnológico. De acordo com o professor da FGV, esse processo traz, consigo, preocupações sobre os empregos e o mercado de trabalho.
“As empresas precisam estar atentas e estabelecer uma série de ações de mitigação de riscos. Entre essas ações podemos destacar a requalificação e o desenvolvimento de habilidades de seus colaboradores, fomentar a colaboração homem-máquina, a promoção da inclusão digital e o apoio à transição de carreira”, diz. “Importante também estabelecer um diálogo permanente e a colaboração entre stakeholders para garantir que as tecnologias sejam implementadas de forma responsável e sustentável, considerando os impactos sociais e garantindo um futuro do trabalho inclusivo e equitativo.”
‘Adesão à ESG é sinônimo de sobrevivência do planeta’
O modelo ESG, por si só, busca uma maior sustentabilidade por parte das ações das empresas, estando associado a oportunidades como redução de custos e melhoria na reputação, de acordo com a analista do Sebrae Minas Daniela Ferreira. “A adesão à agenda ESG é, sem dúvida, sinônimo de sobrevivência do planeta e de seus habitantes. Ou mudamos de comportamento, ou mudamos de planeta.”
Conforme a especialista, as novas tecnologias surgem para acelerar a implementação de ESG. Entre as possibilidades, encontra-se a análise de dados em tempo real, que permite, por exemplo, reduzir o desperdício de energia e de matérias-primas ou estimar a emissão de carbono, até a inteligência artificial. “Conhecer esses números de forma instantânea permite reduzir a pegada ou adotar rapidamente medidas de compensação ambiental, por exemplo, a compra de créditos de carbono em qualquer parte do mundo”, aponta Daniela.
De acordo com a analista do Sebrae Minas, a dificuldade em implementar o ESG não está na tecnologia, mas sim na cultura. Tais práticas podem ser aplicadas por todas as empresas. “Os investidores têm cobrado uma postura mais sustentável do mundo corporativo, e as grandes empresas, por sua vez, têm exigido das empresas que participam de sua cadeia de valor a adesão às práticas ESG”, destaca.