Carne Fraca impacta mercado em JF

O clima entre consumidores e vendedores de carne em Juiz de Fora é de espera por informações mais detalhadas. Desde que a operação Carne Fraca da Polícia Federal (PF) foi deflagrada na sexta-feira, as pessoas se dividem entre quem muda os hábitos de compra dos produtos ou aqueles que confiam nas inspeções e das grandes marcas. No entanto, a mesma desconfiança responsável pela suspensão de compra da carne brasileira por países estrangeiros, está levando os juiz-foranos a apresentarem dúvidas e exigências nos pontos de venda.
Para a presidente da Associação de Bares, Restaurantes da Zona da Mata (Abrasel ZM), Carla Pires, o impacto no movimento do setor começou no dia da divulgação da operação. “Foi horrível no dia, e fraco durante o final de semana todo. Ainda não sabemos se há alguma relação ou não com a operação, mas acredito que esse já possa ser um sinal importante. As perguntas são inúmeras, e os clientes têm questionado sobre qual carne é utilizada nos pratos, com que frigorífico trabalhamos e onde costumamos comprar.”
Ainda de acordo com Carla Pires, a maneira como as informações foram repassadas pela PF tornaram mais forte a sensação de insegurança. “Elas criaram uma insatisfação e um medo muito grande. É um problema muito sério, que envolve a saúde das pessoas. Não podemos ficar à mercê de boatos e da falta de informação. Não se pode deixar uma operação durar três meses para depois apresentar algum esclarecimento. Precisamos de um critério maior na fiscalização e de um repasse maior de dados, para que a situação não se torne ainda mais prejudicial ao comércio.”
A presidente da Abrasel ainda afirma que os bares e restaurantes da cidade compram produtos confiáveis, que passam por análise dentro dos estabelecimentos. “Não vamos trabalhar com produtos com coloração indevida ou com cheiro forte, porque sempre passamos por cursos de vigilância sanitária e ficamos atentos. Por conta disso, vamos ser ainda mais criteriosos e rigorosos.”
No açougue Mister Carnes, no Centro, o efeito negativo na movimentação também foi notado no dia 17. “Trabalhamos com carne fresca, que chega diariamente, e tivemos uma queda na sexta-feira, mas agora, ao longo da semana, foi normalizado. Percebemos um número de comentários maior, causado pela desinformação e por boatos. Nesse momento do ano, temos uma queda pequena em função da Quaresma. Aguardamos mais informações sobre as denúncias, ficamos tristes com os efeitos que vemos, porque sabemos que o país depende muito do agronegócio”, avalia o proprietário do estabelecimento, Reinaldo Viana.
No açougue Skina da Carne, também no Centro, os clientes estão rejeitando as marcas citadas nas investigações e carnes maturadas. “Aqui o movimento não caiu, porque a carne é fresca, e passa por inspeção rigorosa. Tivemos quedas anteriores, em função da crise, mas a notícia não nos afeta diretamente. Percebemos que o consumidor está mais atento, exigindo saber mais sobre a origem da carne”, diz o gerente José Augusto de Oliveira.
Consumo
Nas ruas, os consumidores se dividem. “Meus hábitos continuam os mesmos. Compro carne com procedência, busco por marcas selecionadas, das quais conheço os nomes dos responsáveis e sei que não iriam fazer algo para afetar o nome construído por eles”, pontua o técnico em segurança do trabalho, João Carlos Braga.
Já a aposentada Maria Lilia Hoelz de Freitas diz ter reparado, há algum tempo, nas carnes feitas para assar e ensopar uma coloração mais vermelha que o normal. “Por isso, gosto de comprar em açougues, nos quais a carne é mais fresca e tenho mais condições de avaliar o estado do produto.”
O autônomo Tarcísio Ribeiro afirma acreditar na rigidez dos processos de fiscalização das grandes empresas. “É lógico que uma ou outra empresa é desleal. Mas os grandes frigoríficos são também exportadores. Não acredito que eles fariam algo errado. Penso que houve imprudência na divulgação dos fatos”, acrescenta.
Abras
Os supermercados aguardam definições. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) orientou, em nota, que os associados priorizem a qualidade e a segurança na comercialização dos alimentos. A entidade reforçou a recomendação da aquisição de produtos com o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) e que não mantenham estoques perecíveis por mais de 10 dias.
Vereador quer divulgação de procedência e data de validade
Em meio às polêmicas envolvendo o comércio de carnes por grandes nomes do setor alimentício, o vereador Marlon Siqueira (PMDB) quer implementar a fiscalização do produto em Juiz de Fora por meio de uma nova legislação municipal. Ontem, o parlamentar protocolou projeto de que altera texto de normatização vigente desde 2016, que trata da obrigatoriedade de afixação de cartazes em açougues com informações sobre a procedência dos produtos sendo comercializados. As alterações sugeridas pelo peemedebista tratam da adição de dois incisos, que determinam a divulgação do número de inspeção do fornecedor e do prazo de validade dos produtos colocados à venda. O texto foi lido ontem em plenário e inicia tramitação nas comissões da Câmara.
O intuito do vereador é de que a divulgação dê maior segurança aos consumidores com relação à escolha e à procedência dos produtos. “Estamos passando por um período em que há uma apreensão enorme do consumidor na hora de comprar a carne. Buscamos através do acesso mais fácil e amplo à informação tranquilizar o cidadão antes do consumo”, relata o vereador. Em geral, as peças previamente embaladas trazem informações como a data de validade. O intuito é de que tais dados também sejam públicos nas carnes expostas ao consumidor, disponibilizadas para venda em varejo. “Apesar dos desdobramentos mostrados não afetarem o comércio de carnes em Juiz de Fora, a operação reforça uma preocupação que devemos ter sempre: os direitos do consumidor e a segurança alimentar”, reforça Marlon.