Policiais também seriam donos de caça-níqueis
Policiais civis e militares são suspeitos de participar do esquema de corrupção envolvendo jogo do bicho e caça-níqueis não apenas recebendo propina, mas também como proprietários de máquinas espalhadas pela cidade. A denúncia deverá ser investigada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) protocolada esta semana na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A suspeita foi apontada por um militar ouvido durante Inquérito Policial Militar (IPM) aberto pela PM de Juiz de Fora. A venda da escala de serviço de PMs para bicheiros é outra acusação presente no mesmo documento. Os horários das operações contra a contravenção estariam sendo vendidos aos donos dos estabelecimentos ilegais, que pagariam pela informação, com o objetivo de escapar de um flagrante.
Na cópia do depoimento obtida pela Tribuna, o denunciante afirma que, em conversa com um comandante e capitães sobre o êxito das operações de combate aos jogos de azar, ele teria indagado se o grupo de oficiais sabia onde estava mexendo, uma vez que esta questão de caça-níqueis seria uma máfia, com o envolvimento de policiais militares e civis, de todos os níveis, sendo alguns deles donos destes equipamentos. Segundo o policial, o comandante teria dito que tinha o conhecimento dos fatos e que era para ele continuar com o "excelente trabalho".
Sobre a venda da escala de serviço de PMs para bicheiros, a suspeita teria surgido em um período de grande número de apreensões de caça-níqueis e dinheiro, com pessoas detidas. O denunciante afirmou ter notado que, quando a equipe comandada por ele entrava em serviço, os endereços a serem fiscalizados eram encontrados fechados. Diante dessa situação, ele entendeu que sua escala estava sendo comercializada. Ele teria comunicado o problema ao capitão a quem era subordinado. Sua equipe passou a trabalhar em horário diferente e, com a mudança, os militares sob seu comando passaram a localizar os pontos de jogos abertos, resultando em diversas apreensões e prisões.
Comandante geral
Presente em Juiz de Fora esta semana, o comandante geral da PM em Minas, coronel Márcio Martins Sant’Ana, falou à Tribuna sobre as denúncias que vieram à tona na imprensa envolvendo a suposta participação de policiais em um esquema de corrupção com a máfia dos jogos de azar. "O comando geral vê isso com surpresa, porque esse tipo de conduta não é o perfil do policial militar, que não se envolve e não tem histórico de envolvimento com esse tipo de delito, muitos menos em Juiz de Fora." Ele ponderou que é preciso aguardar o final das investigações. "No estado democrático de direito, qualquer pessoa pode se manifestar, mas também há o princípio da defesa. A PM prima pela transparência e não compactua com nenhum desvio de conduta ou ação criminosa. Por ser um processo legal, as pessoas têm que se defender das acusações. Ao final, será dado conhecimento da realidade que se chegou a esse tipo de acusação", garantiu.
União de forças
O delegado-chefe da Polícia Federal em Juiz de Fora, Cláudio Dornelas, disse que acompanha o desenrolar das investigações a cargo da Assembleia. Conforme ele, o pivô do escândalo denunciado esta semana, o empresário Frederico Márcio Arbex, "foi alvo de inquéritos policiais, sendo uma pessoa sabidamente ligada aos jogos de azar na cidade". Sobre a ligação do empresário com policiais, que receberiam dinheiro para liberar o jogo, Dornelas preferiu não comentar, alegando que as corregedorias das polícias Civil e Militar já estão com apurações em andamento para esclarecer as denúncias. O chefe da PF, no entanto, ratificou o que já havia dito no final do ano passado à Tribuna, quando classificou a jogatina como "epidemia que abre margem para corrupções e milícias". "Agora é o momento de as polícias Federal, Civil, Militar, o Ministério Público e a Justiça unirem forças para poder dar um basta nisso", sentenciou.
Apreensão
Ontem 11 caça-níqueis foram apreendidos e dez pessoas detidas, no Centro, durante operação da 30ª Companhia da Polícia Militar. De acordo com o capitão Márcio Coelho, o flagrante aconteceu em uma sobreloja, na Rua Afonso Pinto da Mota, onde, no último dia 9, 16 máquinas haviam sido apreendidas. "Recebemos a denúncia de que mais equipamentos estavam no local, que passou a funcionar no período da noite." A ação faz parte da Operação Assepsia de combate ao jogo de azar.
Subcorregedor nega interferência em prisão
Ontem a Tribuna mostrou a suspeita de envolvimento de Rômulo Dangelo, 27 anos, filho de um subcorregedor geral da Polícia Civil, com a exploração de máquinas caça-níqueis no Centro de Juiz de Fora. O subcorregedor em questão é o juiz-forano Elder Dangelo, 52, que, ontem, atendeu a reportagem por telefone, e confirmou a prisão do filho pela PM e sua apresentação à Delegacia de Polícia Civil. Ele disse que desconhecia as atividades ilícitas de Rômulo e negou que tenha feito qualquer interferência no procedimento policial.
"No dia, ele me ligou, falando que estava detido. Que a PM estava acusando-o de ser dono de máquinas caça-níqueis. Eu disse: o que posso fazer? Já que está preso, fala para o delegado tomar as providências legais que têm que ser tomadas", contou o subcorregedor, acrescentando: "Nem para ele e nem para ninguém. Nem como pai e nem como delegado faria qualquer tipo de interferência", afirmou, lembrando que entrou em contato com o delegado e disse que adotasse as providências determinadas pela lei. Conhecido como Rominho, o filho da autoridade chegou a ser preso em uma loja, onde havia cerca de 40 máquinas de caça-níqueis. Ele também era suspeito de pagar propinas a policiais.
Questionado se Rominho continua envolvido com caça-níqueis, o pai disse não saber. "Não tinha informações antes e nem agora. Atualmente, ele está em Juiz de Fora, trabalhando." Dangelo ainda confirmou que tinha ciência, "por alto", sobre a investigação da Corregedoria a respeito de casos de corrupção. "Não tenho como dizer nada sobre isso, porque meu setor não abrange a região de Juiz de Fora." A Tribuna tentou contato com Rômulo durante a tarde de ontem, mas ele não retornou as ligações.