Ladrões arrombam porta e fazem idosos reféns na Rua Tiradentes
Idosos de 91 e 81 anos foram rendidos e ameaçados com arma de fogo por dois bandidos que usavam capacetes. Os ladrões fugiram levando dinheiro e garrafas de vinho.
A Delegacia Especializada de Repressão a Roubos irá investigar o episódio envolvendo um casal de idosos que teve a residência invadida por dois bandidos armados, na noite de quarta-feira (17), na Rua Tiradentes, Bairro Santa Helena, região central de Juiz de Fora. O crime, ocorrido no Mês do Idoso, foi registrado por volta das 19h30. Criminosos arrombaram a porta da sala e entraram na casa usando capacetes. Um comerciante de 91 anos e uma mulher, 81, foram ameaçados com arma de fogo, enquanto os ladrões perguntavam por cofres, exigindo joias e dinheiro.
Antes de optarem pela invasão, os assaltantes teriam chamado a moradora pelo nome, mas ela teria demorado a atender e foi surpreendida pela entrada forçada da dupla. Os bandidos chegaram a encontrar um cofre, mas o mesmo estava vazio. Os homens conseguiram roubar R$ 450 em dinheiro e dez garrafas de vinho. Os produtos foram colocados dentro de mochilas.
Depois de revirar o imóvel em busca de objetos de valor, os criminosos decidiram fugir e, antes disso, tentaram empurrar os idosos para o interior de um quarto, mas não conseguiram. Eles saíram pela porta de acesso à garagem e embarcaram na moto em que teriam chegado ao endereço. A Polícia Militar foi acionada e procurou por câmeras na região que pudessem ter flagrado parte da ação criminosa, mas não localizaram imagens. Várias viaturas foram mobilizadas no rastreamento, no entanto, nenhum suspeito foi encontrado.
Laços de proteção
A ocorrência chama a atenção e reacende a discussão a cerca dos episódios de violência praticados contra a população idosa. Segundo o ranking disponibilizado à Tribuna pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo 2010, o Bairro Santa Helena, onde aconteceu o crime, possui 23,1 % de sua população composta por idosos. O local está entre os cinco bairros de Juiz de Fora em que mais se concentram idosos. Neste contexto, o gerontólogo e assistente Social José Anísio Pitico da Silva avalia que, apesar de as pessoas estarem envelhecendo mais, é preciso que elas não sejam invizibilizadas, sendo, portanto, necessário criar laços de proteção. “Nós sabemos que a violência é recorrente. Mas acredito que a alternativa é, dentro do possível, a presença de familiares, mas sabemos da complexidade que é. Aposto numa cultura solidária, como o contato com os moradores próximos. É preciso saber quem são nossos vizinhos. Essa relação proporciona segurança. Devemos desenvolver uma cultura de solidariedade entre amigos, familiares e vizinhos.”
Apesar de o Estatuto do Idoso comemorar 15 anos em 2018, na avaliação do gerontólogo, eles ainda sofrem discriminação, e não há envolvimento da sociedade com a população da terceira idade. “Esse é o grande problema. Eles também acabam por não criar laços e se fecham para novas relações. Por isso, deve-se despertar um movimento começando pela vizinhança para que todos se protejam. A gente está vivendo numa situação de desagregação social, individualismo, sem preocupação pelo outro, uma vida centrada em interesses particulares. Isso deve ser mudado com a aproximação das gerações. Precisa ser um movimento voluntário, uma vez que os idosos são a parte mais fraca desta relação.”
Na prática, o especialista orienta que idosos tenham sempre anotado dados de uma pessoa de confiança para o caso de serem vítimas de crime, como aconteceu nesta quarta, assim como em algum episódio de saúde. “Devemos procurar nosso vizinho, estar com ele e afinar a relação. Anotações com nome e telefone são essenciais até mesmo para que outras pessoas possam fazer contato. É essencial criar um mapa das relações sociais assim como denunciar casos de desrespeito e agressão”, finalizou.
Denúncias podem ser feitas pelo 181, de forma anônima ou diretamente no Núcleo de Atendimento ao Idoso da Polícia Civil que em Juiz de Fora funciona de segunda a sexta, das 9h às 16h, no Santa Cruz Shopping (Rua Jarbas de Lery Santos, Centro).
Núcleo do Idoso
Conforme dado mais recente divulgado pela Polícia Civil, entre janeiro e abril deste ano, 619 atendimentos foram realizados pelo Núcleo do Idoso da Polícia Civil. Ao longo, de todo o ano de 2017, o número chegou a 1.027. Desde o ano de 2016, a cidade conta com uma delegacia especializada, criada com a finalidade de otimizar e proporcionar um atendimento humanizado ao idoso.
Os números também representam uma conquista desta população que, desde o ano de 2003, é amparada pelo Estatuto do Idoso. A Lei 10.741 completa 15 anos e surgiu de um projeto apresentado em 1997 na Câmara dos Deputados. Já sofreu diversas modificações e continua recebendo sugestões de aperfeiçoamentos. O estatuto trouxe, de forma inédita, princípios da proteção integral e da prioridade absoluta às pessoas com mais de 60 anos e regulou direitos específicos. A partir da legislação, pela primeira vez, negligência, discriminação, violência de diferença tipos, inclusive a financeira, e atos de crueldade e opressão contra o idoso foram criminalizados e passíveis de punição. O estatuto também aumentou o conhecimento e a percepção dos idosos sobre seus direitos.
Tópicos: polícia