Técnica em enfermagem é agredida no PAM-Marechal

Sinserpu aponta média mensal de três ataques físicos sofridos por trabalhadores nas unidades de saúde


Por Sandra Zanella

18/09/2018 às 07h00

Mais uma ocorrência de agressão envolvendo usuários e profissionais de saúde foi registrada em Juiz de Fora. Desta vez, uma técnica em enfermagem, de 41 anos, afirma ter sido agredida na última terça-feira (11), durante procedimento de coleta de sangue no PAM-Marechal. Ela teria levado três tapas na altura do ombro esquerdo desferidos por uma adolescente, 16, após a filha desta cair da maca. O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sinserpu) acompanha o caso e afirma que, em média, três ataques físicos sofridos por trabalhadores nas unidades de saúde chegam ao conhecimento da associação mensalmente, além de pelo menos cinco ofensas verbais. A falta de segurança nesses locais é apontada como a principal brecha para que essas ações se tornem recorrentes, aliada ao estresse de ambos os lados diante da sobrecarga de trabalho e das condições de atendimento.

“Além de estarmos sobrecarregados, que direito temos no nosso local de trabalho? Não só tive o trauma psicológico, como também estou tendo prejuízo, gastando com exames e remédios. Procurei um médico particular e descobri que estou com lesão em três vértebras da cervical, mas e se eu não tivesse plano de saúde? Sou contratada da Prefeitura e posso ainda sofrer represálias”, desabafa a técnica em enfermagem. Além de registrar boletim de ocorrência no dia dos fatos, a profissional afirma ter aberto um comunicado de acidente de trabalho, encaminhado ao Executivo. Ela também já representou contra a adolescente. “Estou correndo atrás de tudo sozinha, e agora estou pegando os laudos”, acrescenta a técnica, que atua há 22 anos na área. “Eu estava há três meses no PAM-Marechal e já trabalhei por um ano na Regional Leste. Nunca passei por nada parecido. Fiquei em estado de choque no dia.”

De acordo com informações do boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar, após a coleta de sangue, a técnica disse ter deixado a criança com a mãe na maca e virado para descartar os materiais utilizados. Logo depois, ouviu um barulho e viu a menina ao solo. Ao se mobilizar para pegá-la, foi agredida. Em seguida, a adolescente deixou o local com a filha no colo, “xingando diversos palavrões”. A jovem foi encontrada no HPS procurando atendimento médico para a criança e informou aos policiais que havia se virado para pegar um lenço na bolsa, deixando sua filha aos olhos da técnica. Ela acrescentou ter tentado segurar a menina, mas não conseguiu. A adolescente admitiu ter ficado nervosa, pegado a filha e xingado a profissional, partindo para cima dela, mas alegou não se recordar se havia agredido a servidora.

Ouvidoria recebe reclamações diárias, a maioria de usuários

Sem entidades de classe para representá-los, os usuários, por sua vez, recorrem à Ouvidoria de Saúde Municipal. De acordo com a ouvidora Samantha Borchear, as reclamações são praticamente diárias. “Só mediamos conflitos interpessoais, não casos de ação penal, como as agressões. São pessoas insatisfeitas com o atendimento e alguns casos de atrito.” Como exemplo, ela citou quando o assistido sente ter sido tratado de forma ríspida ou ter sido preterido. “Fazemos as advertências cabíveis. Dependendo do caso, submetemos a análise técnica.”

Samantha explica que a Ouvidoria do SUS é, por força de lei, voltada para acolher demandas do público, como também dos profissionais e prestadores de serviço. “Como estes têm os órgãos de classe, é entendível recebermos mais (queixas) de usuários.” A ouvidora não foi comunicada sobre a ocorrência do PAM-Marechal, mas destacou que não seria de competência do órgão. “Não tratamos de condutas delituosas, porque não temos competência legal para atuar quando há conduta típica criminal. Mas gostaríamos de deixar claro que a agressão não se justifica em hipótese nenhuma. Há muitas outras formas para se reivindicar. Abominamos de forma veemente qualquer agressão, tanto do lado do profissional, quanto do usuário.”

Sindicatos

Apesar de no ano passado o Sindicato dos Médicos ter recebido algumas denúncias de abusos contra médicos, o presidente da entidade, Gilson Salomão, garante que, em 2018, não houve registros. Em 2017, ganharam repercussão duas ocorrências de ameaças de agressão de mães de pacientes contra médicas que atuavam no Pronto Atendimento Infantil (PAI), localizado no Morro da Glória, região central. A primeira ocorreu em abril, e a segunda, em junho. A reincidência resultou em visita técnica da equipe do Conselho Regional de Medicina (CRM) ao local, confirmando uma série de irregularidades em relação às condições de atendimento, infraestrutura e segurança da unidade.

“Soubemos do caso da coletora de sangue na semana passada no PAM-Marechal, mas envolvendo médicos, não tivemos ocorrência. No entanto, a situação continua a mesma desde aquela história do PAI: os médicos não têm a segurança que nós precisamos. Não sabemos de nenhuma unidade que conte com a Guarda Municipal, só mesmo o HPS. Apesar dos dois casos reincidentes, o PAI continua sem proteção aos funcionários”, resume Gilson.

O presidente do Sinserpu, Amarildo Romanazzi, faz coro e cobra do Executivo a efetivação de novos guardas municipais: “Precisamos de uma cobertura por parte da Guarda Municipal. O sindicato ganhou ação recente para recompor o corpo da Guarda, que está deficitário, mas a Prefeitura está protelando. Precisamos de segurança pelo menos nos setores de saúde com grande concentração de atendimento, como HPS, PAM-Marechal e Regional Leste.”
Sem contar os casos de “quebradeira” nas unidades, enquadrados como dano ao patrimônio, Amarildo lamenta a média mensal de agressões e atritos verbais entre profissionais da saúde e usuários. “Infelizmente, essas situações são bem recorrentes. A falta de assistência pelos governos acaba trazendo estresse para o usuário, que desconta no trabalhador. Mas não é culpa do servidor público se não há as condições mínimas para executar os trabalhos. Ele acaba, de certa forma, desagradando por falta de recursos. Mas só faz o atendimento, não é o responsável pela situação.”

Já a Ouvidoria de Saúde afirma não ter recebido queixas de falta de segurança nas unidades hospitalares. O telefone do órgão em caso de reclamações é 3690-8135.

A Secretaria de Saúde informa que repudia veementemente casos de agressões. Por meio de nota, a pasta afirma que conta com mais de 70 unidades de saúde com atendimento ao público na cidade, onde é adotado o esquema de segurança eletrônica com alarme e monitoramento. A exceção é o Hospital Doutor Geraldo Mozart Teixeira (conhecido como HPS), local que conta com o monitoramento em tempo integral de dois membros da Guarda Municipal.

Sobre o caso específico ocorrido no PAM-Marechal, a Secretaria de Saúde explica que a funcionária foi levada ao HPS para atendimento médico, acompanhada por sua superior. Ela também foi orientada a procurar o Departamento de Vigilância em Saúde do Trabalhador (Dvisat), para abertura de Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), onde também poderá ter o acompanhamento médico e psicológico necessário. Além disto, registrou Boletim de Ocorrência junto à Polícia Militar.

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