Procon aciona MP para investigar golpe de agĂȘncia de viagens
Contemplados em suposto sorteio eram chamados para receber prĂȘmio, mas precisavam pagar para adquirir o serviço
O MinistĂ©rio PĂșblico de Minas Gerais (MPMG), por meio da 13ÂȘ Promotoria de Defesa do Consumidor da Comarca de Juiz de Fora, investiga um golpe que estaria sendo aplicado por uma agĂȘncia de viagens na cidade. De acordo com o ĂłrgĂŁo, consumidores foram chamados Ă sede da empresa, localizada no Centro, para retirarem um prĂȘmio recebido por meio de sorteio. No local, eles eram informados de que deveriam fazer um cartĂŁo para ter acesso Ă s vantagens mencionadas, mas o produto era pago. HĂĄ relatos de quem adquiriu o cartĂŁo e nĂŁo conseguiu agendar a viagem. O golpe começou a ser aplicado no ano passado, e, atĂ© maio deste ano, a promotoria reuniu mais de cem denĂșncias.
O promotor de Defesa do Consumidor, Oscar Santos de Abreu, instaurou processo administrativo contra a empresa. “A ação fere os artigos 37 do CĂłdigo de Defesa do Consumidor (CDC), que proĂbe a publicidade enganosa ou abusiva, e o 39, que afirma que o vendedor de produtos ou serviços nĂŁo pode exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva.” AlĂ©m de ter instaurado processo administrativo contra a empresa, ele denunciou criminalmente trĂȘs sĂłcios, solicitando a prisĂŁo preventiva dos envolvidos. “A empresa tem mudado de nome e CNPJ para dificultar. Era Viamar Turismo Ltda, depois Fashion Tour Operadora de Turismo Ltda. e agora pode ser que jĂĄ esteja usando outro nome. ”
Uma leitora, que preferiu nĂŁo se identificar, conta que acionou o Procon depois de ter sido vĂtima do mesmo golpe, mas a empresa jĂĄ apresentava outro nome. “Preenchi um cupom da empresa Viva HotĂ©is e Turismo durante o evento Guest Fashion para concorrer Ă uma hospedagem. Ligaram me dizendo que eu havia sido sorteada, e que era para eu ir junto com o meu acompanhante atĂ© Ă sede da empresa. Meu marido e eu fomos, e lĂĄ eles falaram muito tempo com a gente e apresentaram inĂșmeras vantagens”, relembra. “Cheguei a dizer que, se era pago, eu nĂŁo tinha interesse, pois estava reformando a minha casa e nĂŁo tinha dinheiro disponĂvel. Mas eles continuaram nos dando vĂĄrias informaçÔes e, por fim, acabamos adquirindo cartĂŁo.” Ela conta que quando chegou em casa, quis mudar de ideia. “Foi aĂ que eu pensei que havia sido sorteada, mas nĂŁo tinha recebido nenhum prĂȘmio. Na verdade, eu estava pagando pelo serviço. Liguei para tentar cancelar, mas o rapaz disse que eu deveria ter lido o contrato antes de assinar. A solução foi procurar o Procon. LĂĄ, os atendentes me disseram que havia inĂșmeras reclamaçÔes iguais a minha.”
Outra leitora, que preferiu nĂŁo se identificar, diz que preencheu o mesmo cupom em um estande da empresa na Feira Minas TchĂȘ. “A gente acaba acreditando porque o anĂșncio Ă© feito em eventos tradicionais e renomados. SĂł nĂŁo fui Ă empresa porque vĂĄrias pessoas que eu conheço tambĂ©m foram sorteadas e fui avisada que o prĂȘmio nĂŁo era gratuito.” A Tribuna entrou em contato com a assessoria da feira, mas os organizadores nĂŁo se posicionaram. JĂĄ a F.Works Produtora, responsĂĄvel pela organização do Guest Fashion, declarou, em nota, que tomou conhecimento das denĂșncias pela reportagem, e lamentou o ocorrido. “Nos colocamos Ă disposição das autoridades para auxiliar no que for necessĂĄrio Ă investigação do caso.”
Empresa nega relação com a investigação
Procurada pela Tribuna, a Viva HotĂ©is e Turismo negou envolvimento com as investigaçÔes do MinistĂ©rio PĂșblico. O empresĂĄrio Thor CĂ©sar de Moura se apresentou como sĂłcio majoritĂĄrio do negĂłcio e informou que a empresa, que tem razĂŁo social de Fashion Tour Operadora de Turismo Ltda., nĂŁo Ă© a responsĂĄvel pela aplicação dos golpes na cidade. “Primeiramente, Ă© bom lembrar que esteve nesta cidade uma empresa de pacotes de viagem chamada Viamar”, afirma. “Conforme soubemos em face da concorrĂȘncia de mercado, a empresa nĂŁo estava se comportando muito bem com seus clientes, nĂŁo cumprindo com suas obrigaçÔes contratuais e atrapalhando o mercado”, afirmou em documento enviado Ă reportagem.
O texto diz que “observando o que estava acontecendo com o mercado, nĂłs da Fashion Tour Operadora de Turismo Ltda. resolvemos montar uma sede no mesmo prĂ©dio, porĂ©m no andar tĂ©rreo, trabalhando no mesmo segmento, todavia com muita seriedade e compromisso com a população.” No documento, ele explica que levou alguns funcionĂĄrios da Viamar para trabalhar na empresa, pois “era notĂłrio que a Viamar nĂŁo iria dar sequĂȘncia ao trabalho pactuado junto Ă população de Juiz de Fora.”
Ele diz que os clientes iam Ă sede da Viva HotĂ©is e Turismo “reclamar” da Viamar HotĂ©is e Turismo e recebiam o esclarecimento de que eram empresas distintas. “ExplicĂĄvamos que nada tĂnhamos com a Viamar, que Ă©ramos de outra empresa, porĂ©m do mesmo ramo. OferecĂamos nossos serviços e em face do que estava ocorrendo, conseguimos vĂĄrios associados.” O texto destaca que “a Viamar e a Fashion Tour sĂŁo empresas distintas, possuem CNPJ distintos e sĂłcios totalmente diferentes.”
Segundo o documento, “a Viva HotĂ©is e Turismo sempre atuou na ĂĄrea do turismo e cumpriu com o que Ă© acordado com o seu associado, temos alvarĂĄ e termo de legalização com relação a turismo. Nunca deixamos de cumprir nossas obrigaçÔes, e prova disto Ă© que quando hĂĄ reclamaçÔes no Procon e na Justiça (geralmente Juizado de Pequenas Causas), comparecemos em todas elas e fazemos acordo. Quando isto nĂŁo acontece, as açÔes interpostas sĂŁo julgadas improcedentes.” Thor assegura que nĂŁo tem “nenhuma ação condenatĂłria em nosso nome, pois cumprimos com o que acordamos. Ă claro que existem açÔes e reclamaçÔes contra a empresa como tem com muitas grandes empresas. Apenas 5% dos nossos clientes resolvem desistir do plano por motivos pessoais e econĂŽmicos que sĂŁo atendidos por nĂłs e encaminhados ao jurĂdico para o cancelamento do contrato de forma bilateral e juridicamente correta sem maiores delongas.”
Casos de golpe se tornaram recorrentes
A promotoria foi acionada apĂłs os casos se tornarem recorrentes na AgĂȘncia de Defesa e Proteção do Consumidor de Juiz de Fora (Procon-JF). “Começamos a receber as queixas no final do ano passado, e acompanhamos a reincidĂȘncia. Chegamos a marcar audiĂȘncias com representantes da empresa, mas eles começaram a faltar. Depois vimos que o golpe continuou acontecendo, mas o nome da agĂȘncia e o CNPJ tinham mudado. Foi entĂŁo que acionamos o MinistĂ©rio PĂșblico”, explicou o superintendente do Procon-JF, Eduardo Schröder. Em 2017, o ĂłrgĂŁo registrou a reclamação de 32 consumidores que haviam sido vĂtimas do golpe. Entre janeiro e julho deste ano, foram 26. De acordo com o promotor de Defesa do Consumidor, Oscar Santos de Abreu, hĂĄ relatos de pessoas que usaram recursos de poupança para adquirirem o cartĂŁo. “Elas confiaram naquilo que era dito a elas, mas foram enganadas. Ă uma situação muito grave, por isso, alĂ©m de multar nĂłs pedimos a prisĂŁo dos sĂłcios.”