Nomes engraçados e curiosos ajudam a identificar concorrente junto ao seu eleitorado
O uso de "nomes de urna" diferentes daqueles que constam nos documentos oficiais dos candidatos às eleições proporcionais é uma constante a cada dois anos, nos pleitos que definem vereadores, deputados estaduais e federais, e senadores. Este ano, na lista dos 440 concorrentes às 19 cadeiras da Câmara Municipal de Juiz de Fora, pelo menos 135 candidatos valem-se de apelidos ou de alcunhas que fazem referência a profissões ou localidades. O número representa mais de 30% dos postulantes ao Legislativo. Entre eles, estão disponíveis para a apreciação do eleitorado, entre outros, nomes engraçados e curiosos como Mourão, a Candidata do Povão (PR); Nunes Tamiko com K (PSB); Tripa Motoboy (PT); Rodolfo Azeitona (PSC); Hilda da Maçã do Amor (PSL); José Henriques do Raios X (PDT); Lilica Vem Com (PT); e Ducarmo Fofa (PDT).
Apesar de inusitados, os apelidos não significam exatamente uma estratégia de campanha. Para a maioria dos candidatos é a forma encontrada para oficializar junto à Justiça Eleitoral como são conhecidos em suas comunidades. É o caso de José Antônio Baldutti (PSC), ou Baldutti Tuca Chupeta, como seu nome de urna foi registrado. "Na verdade, juntei três apelidos. Trabalhei muitos anos no comércio e era chamado de Chupeta. Depois, ingressei no funcionalismo público, onde todos me conhecem como Baldutti. Tuca é um apelido de infância, quando morava no Bairro Progresso."
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Luiz Carlos Correia (PCdoB) entrou pela primeira vez na corrida pelo Legislativo com o nome Mata Cobra. "Sou conhecido assim desde a infância. Eu não tinha medo das coisas. Assim, surgiu o apelido. No começo, ficava irritado. Acabou pegando." Para ele, a alcunha deve ajudá-lo a angariar votos, mas não pelo ineditismo. "É uma referência para os meus amigos. Todo mundo me conhece assim. Acho que se usasse apenas Luiz Carlos, só teria o meu voto e o do meu pai."
Outra estratégia comum entre os candidatos é associar nomes a ofícios. Com essas características, existem candidatos como Edinho da Borracharia (PSB), Diogo Cobrador (PSL), Antunes Motorista (PR), entre outros. Há até quem faça associação com seu hobby artístico, como Luiz Carlos Cardoso (PPS) ou Luiz Cardoso Vinho Novo. "Toco em um grupo musical há 20 anos. Quem conhece o grupo, automaticamente, vai fazer essa assimilação com o candidato, isso me permite atingir um número maior de pessoas", afirma, antes de explicar como surgiu o nome da banda. "É um conjunto gospel. Vinho nove é uma passagem bíblica, que significa novidade em vida."
Sem influências
"É um entendimento interessante da Justiça Eleitoral permitir o registro destes nomes. Independente de apelidos ou uma referência à profissão, esta é a forma como são conhecidos. Em uma eleição municipal, principalmente em uma cidade como Juiz de Fora, temos uma pessoalidade muito grande no momento em que o eleitor escolhe seu candidato. Não há influência significativa. Isso pode até acontecer em pleitos estaduais, como os que elegem os deputados, em razão do chamado ‘voto distraído’, de pessoas com menor envolvimento com o processo eleitoral. Mesmo assim, apenas um nome curioso, não é suficiente para definir uma eleição", avalia o cientista político da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Diogo Tourino.
Vale lembrar que, na atual Legislatura, pelo menos três vereadores conquistaram suas cadeiras utilizando nomes de urna diferentes do de batismo. Ana Rossignoli (PDT) elegeu-se como Ana do Padre Frederico, uma alusão ao colégio onde era diretora. João Evangelista de Almeida, o João do Joaninho (DEM), carrega o apelido que lembra o pai. Antônio Martins (PP) conquistou votos como Tico-Tico. Dessa vez, ele terá a concorrência de outros pássaros como João de Barro (PSL) e Pardal (PTC), velho conhecido do cenário político municipal.