Imóveis seguem interditados após desabamentos na Zona Leste

Moradores da região receberam orientações da PJF, mas ainda estão inseguros e reclamam de falta de água; ao todo, 80 pessoas ficaram desalojadas


Por Gabriel Silva, estagiário sob supervisão da editora Luciane Faquino

17/02/2020 às 15h46- Atualizada 17/02/2020 às 21h28

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Segundo coordenador da Defesa Civil, situação é grave e vai demandar muito tempo para ter solução (Foto: Gabriel Silva)

Três dias se passaram após o deslizamento de terra que causou uma morte e a destruição de três casas entre os bairros São Benedito e Santa Cândida, na Zona Leste de Juiz de Fora, e a situação permanece a mesma. Pouco do material acumulado na Rua São José foi retirado – apenas o suficiente para não impedir a circulação de veículos na via -, e diversos moradores seguiam sem água ou sem moradia na Rua Artur Machado Filho, local onde estavam as residências derrubadas, até o fim da tarde desta segunda-feira (17). Até a edição desta reportagem, a previsão era de que o abastecimento fosse normalizado à noite. A equipe da Defesa Civil esteve no local de manhã para prestar orientações e realizou uma reunião com integrantes do Plano Municipal de Contingência, mas ainda não há uma solução definitiva. Ações deverão ser tomadas a depender do volume de chuvas nos próximos dias.

A Tribuna esteve no local e constatou que as ruas seguem movimentadas, com moradores consternados com a perda de bens e ainda assustados com os estragos causados. Algumas das 80 pessoas desalojadas voltaram à região para buscar alguma orientação. “Desde sexta-feira estou em uma casa no Linhares, emprestada. Mas queremos saber como nós vamos ficar”, protesta Andréia Pena, de 46 anos, moradora da Rua Artur Machado Filho, que se viu obrigada a ir com três filhos para outra moradia ainda sem apoio de algum órgão público.

Não foi a primeira vez que Andreia perdeu bens. Em 2010, ela viu sua casa ser demolida por risco de deslizamento, em terreno vizinho ao atingido na sexta. Segundo a moradora, naquela época, diversas residências chegaram a ser interditadas por perigo de desabamento, mas foram liberadas após três anos com a alegação de que não mais haveria risco para os moradores. “As casas que ficaram foram preservadas naquela época. Eu nasci, fui criada e criei meu filho naquela casa, nós não invadimos terreno proibido. O que ficou, a Defesa Civil havia liberado em 2010, depois de demolir as casas que não poderiam ser apropriadas”, explica a moradora.

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“Desde sexta-feira, estou em uma casa no Linhares, emprestada. Mas queremos saber como vamos ficar”, relata moradora Andréia Pena (Foto: Gabriel Silva)

Segundo o coordenador da Defesa Civil, Jefferson Viana, o órgão está monitorando a região desde o desabamento ocorrido há dez anos. No entanto, o direcionamento da água pluvial e possíveis construções feitas sem o conhecimento do poder público impedem a fiscalização completa da infraestrutura das ruas. “A gente vem acompanhando esse problema (de 2010) desde então. Mas nós não temos a condição de fiscalizar se a pessoa está fazendo alguma obra sem pedir autorização da Prefeitura. Se fizer algum puxadinho sem conhecimento da gente, não há como fiscalizar”, justifica. “Nós tivemos outras vistorias aqui. Eu, pessoalmente, estive fazendo uma vistoria em uma casa no início da rua, quando todas as orientações foram dadas”, assegura Jefferson.

Na Rua São José, até moradores que não tiveram a casa interditada estão inseguros quanto à estabilidade de outras casas que estão na parte inferior ao barranco, temendo novos deslizamentos em imóveis que estão em situação de alerta. “O pessoal da Defesa Civil afirmou que não tem problema nenhum, mas acima da minha casa está tudo interditado. Abandonei a minha casa com meus dois filhos e a minha esposa”, conta Sebastião Matheus, residente da rua há dois anos, que também está morando de favor em uma residência de um amigo, no Bairro Granjas Betânia, na região Nordeste.

Defesa Civil orienta população

Após pedidos de moradores, a Defesa Civil esteve na Rua Artur Machado Filho para orientar e sanar as dúvidas dos populares. Durante uma conversa do coordenador Jefferson Viana com moradores, diversos questionamentos foram feitos sobre as possibilidades de intervenções nas residências. “Nós vamos cuidar da população, ver as necessidades que estão pendentes, mantendo a interdição. Nós só vamos terminar a interdição quando tivermos certeza que está tudo sob controle”, confirma o coordenador.

A situação, no entanto, é grave e vai demandar muito tempo para ter solução, segundo o coordenador. “Durante o período chuvoso, não vamos tirar o material da rua abaixo, porque pode causar um problema maior. Vamos tomar as decisões depois de muito estudo, porque mesmo os Bombeiros falam da dificuldade de conseguir fazer as intervenções”, conta.

Na tarde desta segunda houve ainda uma reunião conjunta de diversos órgãos municipais para estudar as medidas a serem tomadas no local, como a Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS), a Secretaria de Obras (SO) e o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb), além da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros. Após o encontro com os integrantes do Plano Municipal de Contingência, a assessoria da PJF informou que a área segue sendo monitorada e reafirmou que a assistência social da Defesa Civil mantém contato com as 33 famílias do local para verificar quais delas necessitam e se enquadram no auxílio-moradia.

“A Defesa Civil já disponibilizou cestas básicas para algumas famílias atingidas”, diz a Prefeitura, em nota. Ao todo, 18 casas seguem interditadas e 80 pessoas estão desalojadas. A PJF afirma que a Defesa Civil estuda a demolição do imóvel que ruiu. Na pauta foram tratados ainda o restabelecimento do fornecimento de água e a forma como será o monitoramento da área atingida.

Falta de água

Entre as demandas da população, uma das mais reivindicadas, desde sexta-feira, é a retomada do fornecimento de água. Inicialmente, houve um desencontro de informações entre os moradores e a Defesa Civil, uma vez que o órgão assegurava que o abastecimento havia sido normalizado na rua, o que foi negado pelos moradores. “Em metade da rua, todo mundo está sem água. Eles não dão nenhuma ajuda para a gente. Nós temos que comprar galões de água, já que não tem uma gota d’água na caixa”, lamentou o morador Arley Dias de Oliveira, de 35 anos, na manhã desta segunda. Parte da população improvisou uma ligação direta nos registros para conseguir pegar água da rua. Em alguns trechos, no entanto, os moradores não conseguiram fazer a ligação, tendo que recorrer à solidariedade. “Nós viemos, enchemos os baldes com vizinhos e levamos para as nossas casas”, explica Oliveira.

A falta de água é compartilhada na via paralela à de onde estava as residências destruídas, a Rua Jorge Raimundo. “A Defesa Civil pediu para fechar a água do bairro na sexta. No sábado, às 10h, eles pediram para a Cesama abrir a água do bairro. Mas a Cesama não abriu até hoje, nós estamos sem previsão de normalidade”, lamentou uma moradora da rua, que preferiu não ser identificada. No primeiro contato com a Cesama, conforme a moradora, foi informado que um caminhão pipa só poderá ser disponibilizado após sete dias sem água, mas os moradores se encontram em situação de urgência.

À Tribuna, a Cesama informou que durante a tarde desta segunda foi finalizada a interligação necessária para atender os moradores do local afetado. A informação era de que regularização do abastecimento, conforme a companhia, seria normalizada ao longo da noite.

 

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