Normas de higiene descumpridas


Por Fernanda Sanglard

15/08/2012 às 07h00

As doenças respiratórias crescem neste período do ano e poderiam ser prevenidas com atitudes simples. Além de ser recomendado ingerir bastante líquido, evitar locais fechados e grandes aglomerações, uma das principais orientações para a disseminação de infecções é a higiene pessoal, que envolve, especialmente, a lavagem adequada das mãos. Mas nem mesmo a volta do surto da gripe H1N1(influenza A) em algumas partes do país tem levado os responsáveis pelos principais espaços de uso público da cidade a tomarem medidas. Para verificar a situação de sanitários de instituições e espaços de grande circulação de pessoas, a Tribuna percorreu 12 locais de uso público (ver quadro), e o resultado foi assustador: em nove ambientes não havia condições de higiene adequadas aos usuários.

A reportagem escolheu alguns dos principais espaços de grande circulação de pessoas da cidade, públicos e pagos, que oferecem sanitário. Entre eles, os banheiros do Parque Halfeld, da Câmara Municipal, do Fórum Benjamin Colucci, da Delegacia de Santa Terezinha, do PAM-Marechal e do JF Informação. As visitas ocorreram entre 18 de julho e a última terça-feira (14).

O professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da UFJF e chefe da epidemiologia hospitalar do Hospital Universitário (HU), Evandro Tomasco, explica que, em qualquer local de uso coletivo, os materiais de higiene devem ser de dispensação individual. Por isso, nos sanitários abertos ao público, é preciso oferecer sabonete líquido ou sabonete em barra individual.

Conforme a subsecretária de Vigilância em Saúde, Vânia Figueiredo Vieira, a orientação da Vigilância Sanitária é que os banheiros tenham condições higiênico-sanitárias adequadas, o que envolve a manutenção da limpeza de acordo com a demanda, além da oferta de sabonete líquido, papel toalha e higiênico. No caso das unidades de saúde, Vânia diz que o ideal é também disponibilizar álcool em gel.

Tomasco alerta: "Como a umidade é menor no inverno, a mucosa fica mais ressecada e espessa, e isso facilita a contaminação. Daí a necessidade de ingerir muito líquido e, de maneira ideal, esses espaços também deveriam disponibilizar água para as pessoas beberem. Mas o que vemos é que não costuma haver nem sabonete para lavar as mãos."

A situação de falta de sabão apontada pelo especialista foi verificada nos banheiros da Biblioteca Municipal Murilo Mendes, tanto no dia 18 quanto no dia 25 de julho. O espaço, frequentado por adultos e crianças, também não tinha disponível papel toalha ou higiênico. A mesma situação foi constatada nos dias 18 e 20 nos banheiros masculino e feminino do primeiro andar do Paço Municipal, onde funciona o JF Informação, com um agravante: nem as torneiras estavam funcionando.

Conforme Tomasco, "realmente parece que as pessoas se esqueceram de alguns cuidados básicos para evitar não só a gripe, mas uma série de doenças. Se na época do surto a preocupação era grande, e havia álcool em gel em quase todos os lugares, hoje vemos espaços sem condições".

A afirmação do especialista condiz com a realidade encontrada pela Tribuna. De todos os locais visitados, apenas a Câmara Municipal tinha alguns dos dispositivos para álcool em gel abastecidos nos quatro dias que a equipe de reportagem verificou. Já os corredores da UFJF contam com os dispositivos instalados, mas todos estão vazios (em quatro unidades visitadas). Segundo a Secretaria de Comunicação da UFJF, diante da ausência de casos da gripe H1N1 na região e da inexistência de alertas de órgãos de saúde quanto ao reforço das medidas preventivas, a UFJF reduziu o ritmo de abastecimento dos recipientes de álcool em gel, instalados em 2009. Nos últimos meses, a reposição também foi dificultada pelo fechamento do setor de almoxarifado, por conta da greve dos servidores técnico-administrativos. No entanto, a instituição compromete-se a adotar todas as medidas necessárias caso haja uma nova orientação por parte dos órgãos de saúde.

Unidade de saúde

Mas uma das situações mais graves foi vista no PAM-Marechal. Apesar de ser uma unidade de saúde, nenhum dos banheiros destinados aos pacientes nos dez andares do edifício contava com qualquer material de higiene pessoal. Nem mesmo nos corredores havia dispositivo para álcool em gel. Uma funcionária da limpeza informou que antes era disponibilizado ao menos papel higiênico nos sanitários, mas, por causa de entupimento dos sanitários, o material deixou de ser oferecido. "Acho um absurdo, porque a gente vem fazer alguma consulta ou exame e, quando precisa ir ao banheiro, não tem nada, nem sabonete. Se tiver alguém com doença, o próximo que usar pode pegar", diz a costureira Maria Aparecida da Costa, 40 anos.

A assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde explica que o PAM-Marechal vem passando por adequações, tanto nos sanitários quanto na reposição dos materiais de higiene e limpeza indicados. O processo foi iniciado no sexto andar da unidade e está sendo estendido para os demais andares. A secretaria diz que a reposição dos produtos está sendo providenciada, mas reforça a importância de que a população colabore, pois, com frequência, materiais de higiene repostos dentro dos prazos estipulados "são alvos de abuso, desperdício e até mesmo furto".

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Sabão em barra não adianta

Em locais públicos, o uso de sabão em barra deve ser evitado, a não ser que seja individual, conforme explicam os especialistas. Isso porque após quatro lavagens o sabonete já estará sujo ou contaminado. De acordo com a subsecretária de Vigilância em Saúde, Vânia Figueiredo Vieira, "o sabonete em barra não é recomendado em função da água empossada nas saboneteiras e da possibilidade de armazenar a sujeira". A preferência é pelo uso do sabão líquido disposto nos recipientes com válvula, porque esse tipo de dispenser "não acumula resíduo de água, libera a quantidade suficiente para uma lavagem e possibilita que o próximo utilize sem correr risco".

"Usar sabonete em barra em casa é uma coisa, mas em locais coletivos não é possível admitir", ressalta o professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da UFJF e chefe da epidemiologia hospitalar do HU, Evandro Tomasco. O especialista esclarece que, se não é possível ofertar sabão líquido, ao menos o álcool em gel deve ser disponibilizado.

Dos sanitários que a Tribuna teve acesso, o banheiro feminino da delegacia, em Santa Terezinha, só contava com sabão em barra. O mesmo foi visto no sanitário do Mercado Municipal, onde é cobrada taxa de R$ 0,50. O do Parque Halfeld, que cobra R$ 0,80, oferecia detergente, mas o produto não estava na saboneteira, e sim com a embalagem em cima da pia. Dessa forma, todas as pessoas precisam segurar o recipiente, o que também não é recomendado, segundo Tomasco.

Vânia explica que a função de fiscalizar esses recintos é da Vigilância Sanitária Municipal, que realiza trabalho de conscientização junto aos estabelecimentos comerciais e instituições. No entanto, caso os espaços não cumpram as orientações, é possível que sejam multados e até interditados.

Bons exemplos

Apesar dos problemas na maioria dos estabelecimentos, em três banheiros, as condições oferecidas aos usuários nos dias visitados estavam adequadas (ver quadro). Além de muito limpo, o sanitário do Centro de Vivência do Campus da UFJF tinha todos os materiais necessários e funcionários à disposição para repor nos dias de semana. Os sanitários do Terminal Rodoviário Miguel Mansur também estavam abastecidos com todos os materiais, no entanto, as condições das unidades pagas (R$ 1) são visivelmente melhores do que as das gratuitas. O banheiro do Cinearte Palace, usado por frequentadores, mas também aberto à população em geral, mediante pagamento de R$ 1, também continha os produtos de acordo com a recomendação.

 

Órgãos alegam vandalismo e furto

Conforme os responsáveis por alguns sanitários em que a Tribuna verificou problemas, o descaso dos usuários com o patrimônio dificulta a manutenção. No caso dos banheiros do JF Informação, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura explica que o espaço passa por até cinco limpezas diariamente, no entanto, há casos frequentes de depredação e furto de produtos de higiene. Devido às dificuldades de manter os materiais, passou a ser disponibilizado apenas papel higiênico e água. Em relação às torneiras com problema, a PJF informa que vai verificar a situação.

Problema parecido é enfrentado na Biblioteca Municipal Murilo Mendes. De acordo com a direção do espaço, em decorrência dos constantes furtos, papel-toalha, higiênico e álcool passaram a ser disponibilizados no balcão da recepção, mediante solicitação do usuário. Pelo mesmo motivo, depois das 18h, o papel higiênico passou a ser entregue no balcão do CCBM. No entanto, não há aviso sobre isso no banheiro.

Em relação à Câmara, a assessoria de comunicação esclarece que não havia sabonete líquido, pois o dispositivo teria sido furtado, mas outro recipiente seria providenciado. Quanto à falta de álcool em gel no dispenser próximo ao banheiro, a informação é de que o produto é reabastecido constantemente e, por coincidência, no momento da visita da reportagem, ainda não havia ocorrido a reposição.

A situação do banheiro do Parque Halfeld também será verificada, conforme a Secretaria de Administração e Recursos Humanos. A assessoria de imprensa do órgão explica que o espaço é terceirizado, e a permissionária teria sido notificada algumas vezes, mas, após a denúncia, foi solicitada inspeção da Vigilância Sanitária e, se houver alguma irregularidade que não seja corrigida, a empresa pode perder a permissão para explorar o espaço.

A administração do Mercado Municipal diz que o sanitário atual é provisório e que novas unidades estão sendo construídas no espaço, seguindo as normas necessárias, para oferecer melhores condições e acessibilidade aos clientes, mas garante que a substituição do sabão em barra pelo líquido será realizada.

Já o juiz diretor do Foro, Edir Guerson, informa que tomou conhecimento da falta de material no sanitário do Fórum Benjamin Colucci pela reportagem e que, além de verificar a situação, vai pedir que a empresa responsável pela limpeza providencie a correção e enviar um relatório comunicando o problema ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

No caso da 1ª Delegacia Regional, a assessoria de comunicação esclarece que a Polícia Civil disponibiliza os materiais (papel higiênico e sabonete líquido) para a delegacia, os quais são repassados aos funcionários da limpeza para regular a reposição nos banheiros da unidade, e não há falta dos produtos. No entanto, explica que, devido ao grande fluxo de pessoas diariamente, nas ocasiões em que a reportagem esteve no local, os materiais podem ter acabado sem que houvesse reposição.

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