Com pavimentação desgastada, buracos tomam conta das ruas de JF
Problema é predominante na região central e nos acessos aos bairros, atingindo diversas regiões da cidade; especialistas apontam preocupação com o período de chuvas, que tende a agravar a situação
A presença de buracos pelas ruas de Juiz de Fora, principalmente nas vias mais movimentadas e de acesso aos bairros, são motivo de reclamação por parte dos motoristas da cidade. As erosões na pavimentação seguem mesmo com as operações tapa-buracos, e com a aproximação da temporada de chuvas, a preocupação é com a possibilidade de que a situação piore. Para mapear os locais com problemas mais graves, a Tribuna percorreu diversas regiões de Juiz de Fora na última semana, e constatou que os bairros mais afastados do Centro são os mais prejudicados.
Tomando como base os bairros de onde a Tribuna recebeu mais reclamações de leitores durante o ano, a reportagem visitou cerca de 30 pontos em diferentes regiões, localizados nos bairros Bairu, Bandeirantes, Barreira do Triunfo, Bom Pastor, Distrito Industrial, Linhares, Marilândia, Monte Verde, Nossa Senhora de Lourdes, Novo Horizonte, Poço Rico, Santa Luzia, Santo Antônio, São Mateus e Teixeiras.
Nesses pontos, os trechos de acesso aos bairros foram os locais onde foram encontrados mais buracos. Conforme especialistas ouvidos pela Tribuna, a maior quantidade de veículos trafegando pelo asfalto acaba colaborando para que ocorra mais desgaste da pavimentação. Em muitos desses locais, os moradores afirmaram à reportagem que os buracos tinham surgido há cerca de quatro meses. Nos bairros mais distantes do Centro, como Monte Verde e Novo Horizonte, a reclamação principal era de negligência quanto aos problemas nas áreas afastadas da região central.
Questionada sobre a persistência do problema, a Empresa Municipal de Pavimentação (Empav) afirmou, por meio de nota enviada pela assessoria de comunicação, que a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) “tem operado na pavimentação asfáltica completa de ruas através do Finisa (Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento). Neste ano foram 51 vias recapeadas, e temos ainda mais seis para janeiro. Além disso, já está previsto orçamento para a continuidade do recapeamento de ruas em 2022”.
Distrito Industrial tem um dos casos mais graves
Uma das regiões que mais apresentou buracos, conforme o mapeamento da Tribuna, foi a do Distrito Industrial. O local é um dos mais afetados em Juiz de Fora na época das chuvas, e, nos últimos dias, já tinha sido motivo de reclamação também nas redes sociais. Conforme o mestre em Engenharia de Transportes, José Luiz Britto Bastos, esse é um problema que deveria ser levado mais a sério, principalmente considerando a importância desse bairro para o setor econômico da cidade.
“O Distrito Industrial é um local que não deveria, em hipótese alguma, estar daquela maneira. Até porque, com as fábricas, com toda certeza, o trânsito ali é pesado e conta com a passagem constante de caminhões. A pavimentação ali teria que ser muito bem feita”, ele destaca. Outra discussão que o especialista levanta, ao observar a situação, é a da dificuldade de trafegar normalmente na região e da desordem que o trânsito acaba ficando quando tantos veículos precisam desviar dos buracos, causando riscos até de acidentes.
Sobre a questão específica do Distrito Industrial, a Empav afirmou, também por meio de nota, que “o Programa Boniteza realizou 195 ações de zeladoria, com destaque para 74 intervenções de capina, roçada e limpeza; 29 operações tapa-buraco (recomposição asfáltica); e 12 manutenções em bocas de lobo e limpeza do córrego do Distrito Industrial”.
Falta de tratamento desde a base
Os buracos no asfalto podem ser um problema crônico de Juiz de Fora. Isso porque, de acordo com especialistas, a origem está na falta de tratamento na base do asfalto. “A cidade começou a receber a pavimentação sem usar as técnicas normais da engenharia, ou seja, as ruas começaram a receber o pavimento sem o tratamento da base. E sem preparar o terreno para o pavimento, ele não vai aguentar por muito tempo”. É o que explica José Luiz Britto Bastos, mestre em Engenharia de Transportes. Ele destaca que o procedimento correto requer um cuidado maior com as camadas do pavimento asfáltico que vêm antes do revestimento que fica mais exposto. “Esse serviço tem que ser muito bem feito, com o maior esmero possível, para que não aconteçam os problemas que vemos hoje”, ressalta.
Os riscos que os buracos geram são diversos. Luiz Cezar Duarte Pacheco, mestre em engenharia, explica que há três problemas principais: o risco de os pedestres se acidentarem; a falta de segurança no trânsito; e a necessidade de manutenção dos veículos, que acabam sendo danificados pelos buracos. Sobre essa última problemática, ele pontua que “a manutenção dos veículos que caem nos buracos leva a um desgaste e a uma insatisfação grande dos usuários contribuintes que pagam por esse serviço”, o que acaba gerando grande descontentamento.
Por isso, para os especialistas, seria necessário fazer um mapeamento das regiões que estão passando por maiores dificuldades nesse aspecto e se dedicar, inicialmente, a esses trechos, mas com o compromisso de revitalizar o asfalto da cidade de uma forma geral. José Luiz e Luiz Cezar frisam que, apesar de o processo de recuperação asfáltica ser custoso, as operações tapa-buracos acabam sendo soluções apenas de curto prazo, fazendo com que o problema se repita depois.
Situação piora em períodos de chuva
Se os buracos na pavimentação já geram problemas cotidianos, em períodos de chuva a situação se agrava, e há bastante preocupação entre os moradores. O especialista José Luiz explica que, nesses momentos, as condições para que as operações tapa-buraco sejam feitas também se tornam mais difíceis. “A situação já é ruim, porque já existem fissuras, buracos e condições ruins para que se possa recuperar esse pavimento, e é preciso que haja um período de seca”, ele explica.
Já Luiz Cezar afirma que, durante esses períodos, também acontece de os problemas que já existiam, virem à tona novamente. Isso ocorre justamente devido à má execução do asfalto anterior, porque, de acordo com a sua visão, o processo de recuperação não é feito corretamente. Ele explica que é preciso retirar a base, com a camada asfáltica em fadiga, compactar o que está suportando a base e, em seguida, colocar o revestimento.
“Se esse serviço for feito corretamente, ele é projetado para durar de dez a 15 anos. Aqui em Juiz de Fora, você faz uma recuperação de uma área degradada e na primeira chuva ela volta a ter o buraco de novo”, salienta. Essa curta duração foi apontada por moradores do Bom Pastor, por exemplo, que alegaram que um dos buracos que tinham sido tapados recentemente acabou sendo novamente aberto em menos de um mês.
Desta forma, “limpar a parte superficial e jogar uma massa asfáltica nova, em cima de uma base que já está fragilizada, não é solução”, diz. De acordo com eles, o problema necessita de um cuidado mais definitivo e que não permita que a situação se agrave tanto nesse momento de chuvas para que não gere impactos piores, como alagamentos, por exemplo.
Sobre esta problemática, a Empav afirmou que “a Prefeitura de Juiz de Fora tem realizado a limpeza de bocas de lobo e a recomposição asfáltica como formas de prevenir alagamentos nas vias durante o período chuvoso”.