Policiais do Rio cumprem mandados em JF do caso Marielle Franco
Alvos seriam milicianos e quadrilha especializada em clonagem de veículos, possivelmente ligados aos envolvidos no assassinato da vereadora do PSOL
Policiais civis da Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro estiveram em Juiz de Fora nesta quinta-feira (13) para realização de diligências relacionadas ao caso da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, assassinados em março deste ano na capital fluminense. A operação, protegida por segredo de justiça, foi descoberta depois que a Polícia Militar da cidade interceptou três carros da Polícia Civil com placa do Rio, que estavam descaracterizados, por volta do meio-dia. A abordagem aconteceu em plena Avenida Itamar Franco, próximo à sede do Procon, quase esquina com a Avenida Rio Branco, no Centro. Pelo menos quatro viaturas da 4ª Companhia Independente de Missões Especiais (CME) e três motocicletas foram acionadas após denúncia da presença de pessoas armadas circulando na cidade. Enquanto a situação não foi esclarecida, o trânsito ficou complicado na área. Ao contrário da PM, a Polícia Civil local havia sido comunicada da operação, que tinha como alvo a localização de milicianos e de quadrilha especializada em clonagem de veículos. O grupo teria algum tipo de ligação com os envolvidos no assassinato da vereadora.

Em uma nota vaga, a Delegacia de Homicídios do Rio afirmou que os mandados são referentes a inquéritos instaurados pela delegacia, os quais “transcorrem de forma paralela às investigações do caso Marielle e Anderson”. Disse, ainda, que “a medida é uma ferramenta voltada à inviolabilidade e ao sigilo das informações coletadas no bojo do inquérito policial principal”.
A ação da polícia também aconteceu em vários pontos do Rio: em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense; em Angra dos Reis, na Costa Verde; e em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. Juiz de Fora foi a única cidade mineira envolvida na operação que poderá ajudar a desvendar o crime ocorrido em março e que tem como linha principal de investigação a atuação de milicianos. Ao todo foram expedidos 15 mandados de busca e apreensão e de prisão relacionados ao crime que resultou na emboscada e morte da vereadora e de seu motorista.
O assessor de comunicação da 4ª Região da PM, major Jovânio Campos, confirmou que três viaturas da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro vieram à Juiz de Fora, em diligência oficial. “Estiveram na sede da Delegacia Regional da Polícia Civil de Juiz de Fora, no entanto, não comunicaram com a Polícia Militar”. Ainda segundo ele, policiais militares de serviço receberam informações de que os ocupantes de três veículos descaracterizados, com placas do Rio, estariam armados. A PM localizou os carros na Avenida Itamar Franco e efetuou a abordagem, constatando se tratar de policiais civis fluminenses. “Como não havia nenhuma irregularidade e foi confirmada a diligência oficial, eles foram liberados”, finalizou o major.
Carro em Ubá
Esta não é a primeira vez em que a Zona da Mata aparece nas investigações do caso Marielle. Três dias após as execuções no Estácio, bairro da região central da capital fluminense, um carro semelhante ao usado na cobertura da ação criminosa foi encontrado no município de Ubá, a cerca de 100 quilômetros de Juiz de Fora. O automóvel estava em nome de uma empresa de leilões de veículos, mas o atual dono era um ubaense de 42 anos, localizado por meio de investigação. Ao prestar declarações, ele confirmou ter adquirido o carro havia cerca de um mês no Rio, mas não teria esclarecido a procedência e nem o motivo de o mesmo ter sido encontrado aparentemente abandonado. O suspeito já teria passagens por tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo, segundo a Polícia Civil de Ubá. A última prisão aconteceu em fevereiro, quando foi flagrado com armamento.
O homem, no entanto, disse não ter estado no Rio no dia do atentado fatal contra a vereadora e também negou qualquer envolvimento com o crime. Os tiros partiram de um veículo que teria parado ao lado do carro em que estava Marielle. Os ocupantes abriram fogo, atingindo a parlamentar e o motorista. Os dois morreram na hora. Uma assessora foi atingida por estilhaços, recebeu atendimento médico e foi liberada. O caso chocou todo o país e, como não foi elucidado quase nove meses depois, tem provocado contínuas manifestações públicas de milhares de pessoas em várias capitais e municípios, inclusive em Juiz de Fora.