Fevereiro Laranja alerta para a conscientizaĆ§Ć£o sobre a leucemia
Campanha estimula o cadastro de doadores de medula Ć³ssea, principal tratamento para a leucemia
O mĆŖs de fevereiro, alĆ©m de voltar o olhar para a fibromialgia, o alzheimer e o lĆŗpus, representados pela cor roxa, Ć© marcado, tambĆ©m, pela conscientizaĆ§Ć£o sobre a leucemia. A campanha Fevereiro Laranja busca informar as pessoas sobre a doenƧa, “diminuindo mitos e disseminando informaƧƵes adequadas, que podem ajudar na identificaĆ§Ć£o da doenƧa e, assim, resultar na procura mais rĆ”pida por ajuda mĆ©dica”, como afirma o hematologista AbrahĆ£o Hallack.
O mĆ©dico explica que a leucemia Ć© um cĆ¢ncer na medula Ć³ssea, caracterizada pelo crescimento acelerado e anormal das cĆ©lulas do sangue. A doenƧa Ć© dividida, basicamente, em dois grupos: aguda e crĆ“nica. Ele enfatiza que, “nas agudas, o objetivo do tratamento Ć© a cura. Nas crĆ“nicas, o controle da doenƧa.” O que reforƧa a necessidade de classificaĆ§Ć£o para direcionar os esforƧos terapĆŖuticos.
Para a identificaĆ§Ć£o da doenƧa, Hallack chama atenĆ§Ć£o para os sintomas, como manchas de sangue pelo corpo, febre no final da tarde, sem uma causa clara, suor frio Ć noite e linfonodos, conhecidos como Ćnguas aumentadas. Em casos como esses, deve-se procurar ajuda mĆ©dica, para que seja feito um hemograma, que pode mostrar aumento ou reduĆ§Ć£o de leucĆ³citos, com presenƧa de cĆ©lulas cancerĆgenas, alĆ©m de anemia e plaquetas baixas. O especialista ressalta, ainda, que, em geral, o diagnĆ³stico precoce pode melhorar a resposta ao tratamento, alĆ©m de evitar situaƧƵes de risco de vida, que podem ocorrer nas leucemias agudas.
Leucemia tem cura?
Thiago Ferreira, tambĆ©m hematologista, afirma que sim, a doenƧa, hoje em dia, tem cura. “Falamos em cura numa grande parte dos pacientes, podendo chegar a 90%, dependendo da gravidade da leucemia. Esse tipo de cĆ¢ncer Ć© estigmatizado, conhecido pela alta taxa de mortalidade. Isso mostra, tambĆ©m, a importĆ¢ncia do mĆŖs dedicado Ć essa conscientizaĆ§Ć£o.”
Segundo ele, a campanha pode mostrar Ć s pessoas que vale a pena buscar a avaliaĆ§Ć£o e fazer os exames de rotina, para conseguir o diagnĆ³stico o quanto antes. “Quando falamos em cura, a gente estĆ” falando de um paciente que volta a viver e que vai conseguir ter uma vida normal, melhorando, de forma significativa, a qualidade de vida dele.”
DoaĆ§Ć£o de medula
O principal tratamento para a doenƧa Ć© o transplante de medula Ć³ssea, possĆvel por meio de doaĆ§Ć£o voluntĆ”ria. “A importĆ¢ncia do Fevereiro Laranja tambĆ©m Ć© motivar as pessoas a se cadastrarem como doadores, mostrando a importĆ¢ncia desse ato”, afirma Thiago.
Para o cadastro, Ć© colhida uma amostra de sangue simples, que serĆ” analisada, inicialmente, em um perfil de compatibilidade, e colocada no banco de medula. “A doaĆ§Ć£o pode ser feita de duas formas: por cateter na veia ou atravĆ©s de punĆ§Ć£o da medula Ć³ssea. Vai depender da patologia do paciente e da estratĆ©gia que a equipe de transplante escolher.”
Clemilson Lacrimante Ć© cadastrado no Registro Nacional de Doadores de Medula Ćssea (Redome) hĆ” 12 anos. Ele, que tinha o costume de doar sangue sempre que possĆvel, se cadastrou como doador, buscando fazer a diferenƧa na vida de outras pessoas.
Dia 31 de agosto de 2023, Lacrimante recebeu a notĆcia de que tinha uma paciente internada em estado grave no Instituto Nacional de CĆ¢ncer do Rio de Janeiro (INCA RJ). “Segui convicto, desde o primeiro contato, atĆ© a coleta, realizada no dia 8 de janeiro deste ano. Sei a importĆ¢ncia da doaĆ§Ć£o e fico feliz em ter conseguido ajudar alguĆ©m.”
ApĆ³s um mĆŖs da doaĆ§Ć£o, ele segue com acompanhamento do Instituto Nacional de CĆ¢ncer (INCA), que oferece todo suporte mĆ©dico. “TrĆŖs dias depois do procedimento eu jĆ” estava retomando a minha rotina normal. Indico a todos, com idade e saĆŗde compatĆveis, a se cadastrarem e salvarem uma ou mais vidas”, completa.
Inspirada pelo filme “Sete vidas”, assistido aos 15 anos, Bruna Luz decidiu se cadastrar como doadora de medula Ć³ssea. “Eu vi o quanto essa aĆ§Ć£o pode impactar positivamente a vida das pessoas. Com essa motivaĆ§Ć£o, eu me cadastrei como doadora e, desde entĆ£o, tenho avisado Ć minha famĆlia sobre o desejo, tambĆ©m, de doar meus Ć³rgĆ£os.”
Chance de uma nova vida
Segundo o Hemocentro, a chance de encontrar uma medula compatĆvel na populaĆ§Ć£o em geral pode chegar a uma em cada cem mil habitantes. HĆ” 12 anos no cadastro, a jovem, hoje com 29 anos, ainda nĆ£o foi chamada. Convencido por Bruna, seu esposo se registrou como doador no primeiro dia de namoro juntos. Ela conseguiu conscientizar tambĆ©m a sua irmĆ£ sobre a importĆ¢ncia da doaĆ§Ć£o. Ambos ainda nĆ£o tiveram a chance de ser chamados.
“No filme que assisti, Ć© criada uma dramaticidade em cima da doaĆ§Ć£o, o personagem sente muita dor no procedimento. PorĆ©m, na realidade, o doador nĆ£o sente nenhuma dor, uma vez que o processo Ć© feito com anestesia”, explica. Essa e outras questƵes foram esclarecidas durante o processo do cadastro, em que foram coletados 10 ml de sangue para anĆ”lise. “Por isso nĆ£o tive nenhum receio. Minha maior preocupaĆ§Ć£o Ć© estar disponĆvel no momento em que precisarem de mim.”
Bruna ressalta a importĆ¢ncia de manter atualizado o cadastro pessoal, para que seja possĆvel o contato em caso de compatibilidade. “Sigo aguardando a oportunidade de salvar uma vida e fazer o bem.”
AvanƧos da medicina
Para o hematologista Thiago, nos Ćŗltimos anos, o tratamento das leucemias tem apresentado avanƧos, baseados em trĆŖs pilares: a modernizaĆ§Ć£o das quimioterapias, com o lanƧamento de novos medicamentos que atuam nas cĆ©lulas doentes e obtĆŖm melhores respostas; a evoluĆ§Ć£o do transplante de medula Ć³ssea, com cada vez mais doadores; e as terapias imunobiolĆ³gicas, sendo a imunoquimioterapia a mais famosa, explica.
Andreza AraĆŗjo, estagiĆ”ria sob supervisĆ£o da editora FabĆola Costa