Espaços públicos aumentam riscos de proliferação do Aedes aegypti
Embora maioria dos focos esteja nas casas, marquises, terrenos abandonados e praças podem contribuir para eclosão de larvas do Aedes aegypti; saiba como denunciar
De acordo com o último Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) divulgado pelo Ministério da Saúde, três a cada quatro focos do Aedes aegypti, transmissor da dengue e de outras doenças, estão dentro das residências dos brasileiros. Nesses casos, a responsabilidade de evitar água parada, principal meio para proliferação do mosquito, cabe ao proprietário do imóvel. Mas o que fazer, então, quando espaços públicos, marquises e terrenos abandonados se tornam potenciais locais de focos?
Apesar de, como o estudo pontua, a ocorrência de focos nestes locais ser menor, leitores enviaram à Tribuna fotos e denúncias sobre diversos pontos da cidade que, em razão da falta de manutenção ou fiscalização pelo Poder Público, podem se tornar criadouros do vetor. Em razão da gravidade do atual cenário epidemiológico em Minas, inclusive, com a declaração de situação de emergência em saúde pública, decretada pelo Governo de Minas no sábado (27), os moradores solicitam intervenções urgentes nestes locais.
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- Moradores relatam preocupação com terreno abandonado em meio a casos de dengue
Terrenos abandonados na Zona Norte
As principais queixas de moradores são sobre terrenos abandonados. Sobre a situação, a operadora de máquinas Priscila Baldo, 35, moradora do Bairro Monte Castelo, Zona Norte, afirma que há um terreno abandonado na Rua Coronel Quintão que chama a atenção dos moradores. “Além de ser foco de dengue, o local é utilizado por usuários de drogas. Já denunciamos para a Prefeitura, mas nada é feito”, relata. Para ela, a grande preocupação é com a própria saúde e com a dos moradores do bairro. “Na casa ao lado do lote reside uma senhora de 94 anos com problemas de saúde. A família dela também já tentou contato e não teve retorno”, diz.
Uma moradora da Rua Luzia Maria Damasceno, no Bairro Milho Branco, também na Zona Norte, que preferiu não ter seu nome divulgado, relatou à Tribuna que há um terreno abandonado no local e que gera problemas para a população. Ela, que já teve dengue, assim como a sua filha de oito meses, atribui o problema ao local. “Já estamos há anos lutando e fazendo denúncias”, afirma.
Terrenos com descarte irregular de lixo também são um problema. Uma moradora do Bairro Nova Era, Zona Norte, e que também não quis ter o nome divulgado, contou sobre a situação de terreno com descarte irregular de móveis e de entulhos na Rua José Alvim Botelho. “É difícil até mesmo passar pela região e atravessar a rua. Temos medo de bichos nesse local, fora os focos em potencial de dengue. Em dias de chuva fica ainda mais complicado”, conta. Ela também afirmou que já acionou os órgãos públicos e ainda não conseguiu retorno.
Marquises no Centro
No calçadão da Rua Halfeld, também há dois comerciantes, que não desejam ser identificados, que se queixaram da permanência de água parada nas marquises e que se acumulam nas calçadas, destacando os riscos que isso pode acarretar. “Não sabemos quem chamar para resolver de fato isso, e é algo que pode afetar muitas pessoas, já que aqui é a região mais movimentada da cidade”, afirma. A Tribuna também conferiu pontos com acúmulo de água parada em marquise na região Central, como na Rua São João, Centro.
Em nota, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que a responsabilidade pela limpeza e manutenção dos terrenos e também das marquises é dos proprietários. “A fiscalização de posturas da Secretaria de Sustentabilidade em Meio Ambiente e Atividades Urbanas (Sesmaur) já está identificando os proprietários dos locais citados para notificação e solicitação de limpeza”, cita o texto.
Larvas podem eclodir em qualquer lugar com água parada
De acordo com o professor doutor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fábio Prezoto, especialista em Biologia Comportamental, a melhor forma de combater as arboviroses é a prevenção e, nesse sentido, eliminando os criadouros. Mesmo com a vacina em vista que, no entanto, ainda não é amplamente difundida pelo SUS, essa é uma medida que não pode ser dispensada. Por isso, ele pontua algumas recomendações.
O Aedes aegypti, como explica, é um mosquito bastante exigente quanto ao local e o tipo de água que vai habitar. Ao longo de sua história evolutiva, esse mosquito foi se desenvolvendo como uma espécie que se dá bem habitando próximo ou mesmo dentro de residências, aproveitando esses espaços para se desenvolver. “Lá, encontram comidas, recursos, abrigo e uma pressão praticamente inexistente de predadores”, explica o especialista. A preferência é por locais que tenham água limpa, sejam sombreados e estejam em boas condições.
Isso não significa, no entanto, que é apenas em caixas d’água, vasos de plantas ou bebedouros que essas criaturas se desenvolvem. “Uma casquinha de ovo, um saco que fique dobrado ou uma tampinha de garrafa já acumula água da chuva e isso já é o suficiente para se transformar em um criadouro e produzir novos mosquitos”, diz.
Apesar desses locais serem os mais comuns para focos, as condições podem fazer os mosquitos se adaptem. E é preciso atenção. “Terrenos próximos de casas, áreas mais distantes de quintal, bromélias, praças, terrenos abandonados e que acumulam lixo, por exemplo, merecem atenção e devem ser supervisionados. Nesses locais, pode haver condições para um criadouro, é comum encontrar larvas de mosquitos, e logo também o Aedes aegypti pode se instalar”, diz.
Na Tribuna, diversos leitores já se queixaram, por exemplo, de lagos ou fontes em parques da cidade – e o especialista destaca, nesse sentido, que a probabilidade, nesses locais, menor. “Locais com água muito suja ou que estejam em movimento não são o foco principal desse mosquito. Nesses espaços, podem até ter larvas, mas na maioria das vezes não é do Aedes aegypti. No entanto, se esse mosquito não encontrar um lugar adequado, até a água do ralo pode ser usada como forma de criadouro”, explica.
Vistoria constante
Um dos maiores desafios no combate à dengue, como explica o professor, é a adaptabilidade dos mosquitos e resistência das larvas. Por isso, é preciso atenção constante, já que os insetos têm um ciclo de vida rápido e logo podem formar criadouros. “São em torno de 5 a 7 dias do ovo posto pela fêmea do Aedes aegypti até a emergência do mosquito adulto do ovo. É muito fácil que as pessoas fiquem, por exemplo, uma semana sem olhar determinado recipiente ou uma área perto da residência que acumule água. Com temperaturas acima de 30 graus, esse ciclo fica ainda mais curto”, explica.
Por isso, dentro e fora das residências, a recomendação é redobrar o cuidado e fazer a sua parte: “Se eu tiver um espaço público e nesse espaço tiver esses mosquitos se reproduzindo, esse espaço se torna uma fonte de mosquitos que vão entrar dentro das residências. (…) O cidadão também tem um papel importante mesmo nos espaços públicos e podem colaborar jogando lixo no local certo, denunciando, se for o caso, e pedindo vistoria. Todo mundo pode ajudar a fazer algo nesse combate”.
PJF reforça canais de denúncia
Em nota, a PJF informou que a população pode realizar denúncias de possíveis focos de dengue através do WhatsApp, pelo número (32) 98432-4608, ou pelo e-mail [email protected]. Qualquer uma das 11 unidades do Departamento de Informação Geral e Atendimento (Diga) também recebe denúncias sobre focos do mosquito. Para a manutenção dos lotes, a denúncia é feita pelo WhatsApp da fiscalização, pelo telefone (32) 3690-7984, e o cidadão precisa enviar mensagem com todas informações para que a fiscalização identifique e notifique o proprietário do terreno.