Escola estadual de JF é a única da cidade a conquistar Prêmio Escola Transformação

Após reforma, unidade busca ainda mais proximidade com comunidade escolar


Por Bruna Furtado, estagiária sob a supervisão da editora Carolina Leonel

11/06/2023 às 07h00

Única escola de Juiz de Fora a conquistar o Prêmio Escola Transformação 2023, a Escola Estadual Francisco Faria se construiu à base de muitas mãos. A iniciativa, concedida pelo Governo de Minas, reconhece publicamente as práticas e experiências exitosas das escolas públicas estaduais com destaque nos resultados de participação, desempenho e fluxo escolar. A sede da escola, situada no Bairro Benfica, ao lado da Praça Céu, na Zona Norte da cidade, passou por uma extensa reforma nos últimos anos e, junto dos novos tijolos e da fachada multicolorida do novo prédio, a instituição carrega uma história coletiva repleta de desafios e transformações.

Diretora da escola há 18 anos, Vera Zambelli avalia que a construção da instituição, germinada dentro da Escola Estadual Almirante Barroso na década de 1960, só foi possível através da formação e do reconhecimento de laços comunitários e afetivos. À época, unidade ainda não tinha esse nome. Foi em 1976 que a Francisco Faria passou a ter sede, autonomia e nome próprio. “Primeiro veio o bisavô, o avô, o pai, e depois os filhos, que hoje também estão estudando aqui. E assim vem de geração em geração de pessoas que moram no entorno e que ajudaram a construir objetiva e subjetivamente a escola no bairro”, conta.

A escola, que atende turmas do 1º ao 5º ano, conta com 18 turmas no total. Eloá Caldas, de 10 anos, é estudante do último ano. Para ela, estudar na Francisco Faria é também reconhecer uma história além muros, de construção de identidade e pertencimento. “Minha família está ligada com a escola. Minha mãe estudou aqui, minha dindinha (madrinha), minha avó. A minha tia faz os uniformes.”

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Posam para a foto em frente à fachada da escola, da esquerda para a direita, Nyhara Ferraz, Cinthia Mazzone, Dalva Amorim, Eloá Caldas, Vera Zambelli, Eliani Gomes e Fabrício Rogel (Foto: Felipe Couri)

Um galpão, muitos sonhos

Melhores condições estruturais eram reivindicadas desde o surgimento da escola. Migrando de um lugar ao outro até se estabelecer no local atual, a sede da escola Francisco Faria estava longe de ser um ambiente potencializador do processo ensino-aprendizagem. Em 2016, um importante recurso estadual para a reforma do prédio escolar foi liberado e, para as obras iniciarem, toda a comunidade escolar teve que se realocar em um galpão no Bairro Nova Era no ano seguinte.

O local era provisório, mas as aulas no galpão perduraram por 4 anos, conforme mostrou a Tribuna à época, e logo os desafios começaram a se impor. As salas eram divididas por chapas de fibra de eucalipto, o que não garantia acústica adequada. Para Eloá, mais jovem na época, a concentração nas aulas era difícil. “O que uma professora falava, a outra turma escutava, mesmo de longe.”

A experiência da docência também se modificou por completo, como comenta a professora Nyhara Ferraz, que havia acabado de ser nomeada ao cargo. “Então, a gente vem com aquele sonho de quem passou no concurso, e que agora vai trabalhar numa escola, e você chega e vê um galpão, é um banho de água fria”, relembra.

Em 2020, com a pandemia de Covid-19, mais uma adaptação foi necessária. “Com a pandemia tivemos que fazer uma busca ativa dos alunos para evitar a evasão”, comenta a diretora Vera que, além de seguir as orientações do Estado sobre o ensino naquele período, implementou o “Projeto Conexão”, que criou grupos virtuais com todos os alunos e seus responsáveis, ajudando a criar proximidade e intercâmbio com a família, sobre os estudos. “Quase 90% dos discentes participaram das aulas on-line”, conta.

Os êxitos da escola também são comprovados por avaliações externas. Em 2022, a escola ganhou prêmio por se destacar entre as instituições de ensino que cresceram no Programa de Mestrado Profissional para Qualificação de Professores da Rede Pública de Educação Básica (ProEB) durante a pandemia. O apoio da comunidade e dos alunos foi fundamental e decisivo no processo, conforme destaca a professora Nyhara.

A escola do desejo

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(Foto: Felipe Couri)

Com as aulas ocorrendo há um ano e meio no novo prédio, ninguém na Francisco Faria gosta de se referir a mudança como uma “reforma”. Para a comunidade escolar, a transformação da instituição “transcende a palavra”, porque significou um grande renascer. “Era algo muito esperado por nós, corpo docente, administrativo e pela comunidade. Chegamos em uma escola totalmente nova, cada professora teve a sua tão sonhada sala, até com lousa digital. É mais que um prédio, temos recursos tecnológicos que engrandecem e contribuem para a nossa prática pedagógica”, afirma Nyhara.

A escola tem se tornado uma grande referência e é, a cada dia que passa, mais disputada. “Quando uma escola trabalha com o cuidado com o aluno, suas particularidades e processo de aprendizagem, ela acaba se tornando a escola do desejo, e isso é motivo de orgulho. A Francisco Faria me dá a maior dor de cabeça no início do ano porque faltam vagas. Todo mundo quer vir pra cá”, brinca a orientadora educacional da Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação e Superintendente Regional de Ensino de Juiz de Fora, Dalva Amorim.

Para a aluna Eloá, que vivenciou junto com a escola tantas mudanças, essa foi especialmente emocionante. “Mudar pra cá no 4º ano, meu Deus! Dois andares de escola, lousa digital, sala grande, refeitório gigante, foi incrível”, elenca a menina. Formando esse ano, a estudante demonstra a felicidade em concluir um ciclo, junto com a tristeza de sair de uma escola que, segundo ela, é parte de sua definição sobre o que é amor. “Minha mãe sempre diz assim: Meu Deus, Por que aqui não vai até o ensino médio?”.

Escola Transformação

Neste ano, o prêmio selecionou as escolas com maior participação na Avaliação Diagnóstica, por nível de ensino. Tal avaliação consegue verificar se o aluno aprendeu o conteúdo ensinado, mas não se trata de um método isolado, explica a supervisora pedagógica e especialista em educação básica, Cinthia Mazzone.

“A Avaliação diagnóstica não é só a prova. Por exemplo, um aluno de 2º ano pegava o exame e não sabia nem qual folha era a dele, ou se tinha que passar para trás. É preciso uma preparação sobre como fazer a avaliação. A gente se reúne, monta os cronogramas internos para aplicação, comunica com os pais. É um grande trabalho para envolver todos na avaliação formativa. A escola é latente. Junto com a avaliação está acontecendo várias outras atividades.”

No aguardo do prêmio de R$ 75 mil ser liberado, a equipe pedagógica tem planos de utilizar o recurso para ampliar os projetos da escola, melhorando as formas de ensino-aprendizagem dos alunos. Para a equipe, o prêmio é um presente coletivo e individual, que constata que o trabalho realizado está indo pelo caminho certo. “A nossa escola preza pela educação pública de qualidade, aqui vai ser o lugar para construir o futuro de crianças como a Eloá e várias outras”, diz Cinthia.

Com o desafio de estender os resultados a outras escolas, Dalva Amorim espera que o momento das boas práticas que o Francisco Faria se propague na regional. “Nós precisamos avançar nas aprendizagens dos alunos e nas questões pedagógicas. É uma preocupação da Secretaria com Minas Gerais.”

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