Simulado de evacuação de barragem mobiliza 347 moradores
Atividade emergencial das estruturas de contenção de rejeitos da Nexa teve adesão de 43% dos moradores de Igrejinha e da Vila São João Batista
O primeiro simulado de evacuação emergencial de rompimento das barragens da Pedra e dos Peixes, ambas da Nexa Resources – antiga Votorantim Metais -, mobilizou, nesta quinta-feira (10), 347 pessoas entre moradores do Bairro Igrejinha e da Vila São João Batista. A adesão comunitária foi de 43%, índice próximo ao registrado em junho, no pré-simulado – 44%, com o comparecimento de 355 pessoas. As comunidades do entorno somam, aproximadamente, 800 moradores. As simulações integram os itens necessários ao Plano de Ação de Emergência (PAE) conforme a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) – Lei 12.334/2010. Iniciada às 14h, a atividade foi oficialmente encerrada às 14h17. Entre 14h e 14h20, cerca de um quilômetro da BR-267 foi interditado, na altura do Bairro Igrejinha.
Foram distribuídos na Zona de Autossalvamento (ZAS) – área potencialmente atingida em caso de rompimento – seis pontos de encontro para os moradores. A instrução era de deslocamento, em caminhada, até o ponto de encontro mais próximo. “Pudemos avaliar o comportamento dos moradores, como, se, por exemplo, a comunidade assimilou as informações passadas ao longo deste ano sobre a estabilidade da barragem e os procedimentos que devem ser seguidos em caso de emergência”, explicou a coordenadora de Meio Ambiente da Nexa Resources, Milena Alves Moreira. “Avaliamos que sim, a comunidade assimilou essas informações. A comunidade tem uma tranquilidade em relação à segurança de nossas barragens, e, como vimos, com os resultados, a adesão foi muito grande para um exercício como este, ainda mais para um dia de semana, em horário comercial.” Antes de soarem as sirenes, a população era alertada de que a ação era um simulado: “Atenção, este é somente um simulado de evacuação. Não estamos em emergência. Sigam as orientações e se dirijam ao ponto de encontro”.
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Na ocasião do pré-simulado, em junho, quando oito pessoas a mais compareceram, o simulado fora promovido em um sábado. Apesar de ter sido um pouco mais baixa nesta quinta, para Milena, a adesão superou a expectativa. “Imaginávamos que a adesão seria mais baixa por ser um dia de semana e em horário comercial. O outro exercício foi realizado de manhã, período em que a comunidade tem mais disponibilidade para participar. Ainda vamos avaliar esses dados para conseguir todas as informações, mas o que percebi, até com o resultado bem positivo, é que a comunidade está engajada.” Questionada sobre a escolha do dia e do horário, a coordenadora relatou que, nos próximos simulados, condições distintas serão avaliadas. “O simulado vai ser um exercício anual. Em cada ano, vamos avaliar uma condição diferente, como dias de semana, finais de semana, de manhã, horário comercial, no período da tarde etc.. Precisamos avaliar o comportamento da comunidade em diferentes cenários.” Conforme estudo de ruptura hipotética feito pela Nexa, o alagamento da ZAS levaria 19 minutos.
Organização
O simulado foi organizado em conjunto com a Subsecretaria de Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros. O subsecretário de Defesa Civil, Jefferson Rodrigues, também avaliou o exercício como exitoso. “Acompanhamos todo trabalho da Nexa, junto com os bombeiros, e vimos todo o empenho da empresa em seguir todas as leis e normas inerentes à segurança de barragens. A Nexa tem um Plano de Ação de Emergência (PAE) que eles têm que divulgar para a Defesa Civil. Desde o início, viemos acompanhando todo o trabalho, culminando com o sucesso deste simulado, que é essencial para a população ter ciência das atitudes necessárias à sua segurança em caso de emergência.” Além dos pontos de encontro externos, há um interno, isto é, dentro da planta industrial da metalúrgica, uma vez que o local seria atingido em eventual incidente. No total, 678 funcionários da Nexa foram mobilizados pelo simulado.
“Comunidade não está 100% segura”
Os pontos de encontro foram distribuídos em locais que não seriam alcançados pelos rejeitos industriais de polpa de jarosita em eventual rompimento das barragens. Em Igrejinha, os pontos de encontro são a Escola Municipal Padre Wilson, a Igreja Nossa Senhora das Estradas e a Rua G, próximo ao gasoduto/oleoduto. Às margens da BR-267, o posto de combustíveis Líder, no qual há uma parada de ônibus, é outro. Já na Vila São João Batista, os pontos de encontro são a borracharia da comunidade e o Bar e Mercearia do Conterrâneo. A Nexa colheu, junto aos moradores, informações pessoais e, ainda, o tempo de deslocamento até os pontos de encontro.
Questionado sobre o exercício, o presidente da Associação de Moradores dos bairros Igrejinha, Jardim Cachoeira e Vila São João Batista, Luís Carlos Barbosa, conhecido, popularmente, como Cachoeira, afirmou que, embora tenha sido uma “grande abertura da empresa”, a comunidade continua insegura. “Continuaremos cobrando da empresa mais esclarecimentos sobre a segurança da barragem. A comunidade ainda não está 100% segura de todas as informações. Os moradores acham que pode acontecer aqui o que aconteceu em Brumadinho, mesmo com as informações que a Nexa nos passa.” Conforme Cachoeira, há reuniões entre líderes comunitários e representantes da metalúrgica de 15 em 15 dias, o que, segundo ele, é insuficiente. “A Nexa tem feito reuniões para mostrar como são os procedimentos em relação à barragem, mas o diálogo ainda não está 100%.”
João Pereira da Silva, 62 anos, mora no Bairro Jardim Cachoeira, a dez minutos do posto de combustíveis Líder, mas, mesmo assim, participou do simulado, uma vez que estava de passagem. “É a primeira vez que moro perto de uma barragem. Tem um ano e pouquinho que moro aqui. Então, estou um pouquinho por fora (das informações sobre as barragens). Sou de Matias Barbosa”, conta. “Mesmo aonde moro (fora da ZAS), fico um pouquinho preocupado, por isso é importante estar aqui e participar, saber me defender um pouco da situação.” Ele considera que a sirene é “meio barulhenta”. “É normal. Caso venha a acontecer, vou estar um pouco prevenido.”
Como João, Ana Lúcia da Silva Santos, 42, não participou do pré-simulado. A atividade desta quinta foi sua primeira a respeito de procedimentos de emergência. Ela mora a cinco minutos do ponto de encontro para o qual se deslocou. Embora tenha avaliado positivamente o simulado, Ana Lúcia reafirmou a apreensão da comunidade. “Achei que as pessoas agiram com calma. Os funcionários (da Nexa) atenderam todos direitinho. Foi bem tranquilo também para atravessar a rua. (…) Mas ficamos com medo de que possa acontecer algo que não estamos esperando. Com esse simulado, dá para ficarmos mais tranquilos. Todos estão correndo atrás, porque sabem o perigo que correm.” De acordo com a moradora, as filhas, uma de 20 anos e outra de 16, são quem a tranquiliza, “já que entendem mais do que eu”.