Falta manutenção e sobra vandalismo em pontos de ônibus da Rio Branco
Tribuna percorreu os 16 pontos ao longo da principal avenida da cidade, onde encontrou pichações, vidros quebrados, ausência de bancos e de lixeiras
Os 16 pontos de ônibus localizados na Avenida Rio Branco, entre os bairros Bom Pastor e Manoel Honório, são um reflexo de como o espaço público vem sendo tratado em Juiz de Fora. No dia 3 de abril, a Tribuna percorreu a via e identificou situações de vandalismo e de falta de manutenção, como ausência de bancos, lixeiras e vidraças trincadas, trazendo riscos e desconforto à população. A conservação dos abrigos é prevista nos contratos de licitação para o transporte coletivo como responsabilidade dos consórcios, que afirmam manter equipes de manutenção permanente, no entanto, devem seguir cronograma estipulado pela Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra).
Durante o levantamento realizado pela reportagem, foram observados, no total, 32 vidros trincados. Em alguns locais, como no ponto de ônibus em frente à Rua Doutor Gil Horta, quatro vidraças, em sequência, apresentavam marcas de pedradas, com grandes fissuras marcando o material. Já no ponto localizado na altura do número 2.580, próximo à Catedral Metropolitana, fitas amarelas alertavam para a ausência de um dos vidros. Também foram contabilizadas 16 lixeiras quebradas ou em falta, afetando a limpeza nos locais, além da ausência de seis bancos.
As pichações estão presentes nos 16 pontos. Muitas delas dificultam a leitura dos mapas fixados nos vidros. Os abrigos ainda contavam com problemas na cobertura, com infiltrações e perfurações, danificando o material. No ponto localizado em frente à Santa Casa de Misericórdia, por exemplo, além de grandes pichações marcarem os vidros, resíduos provenientes de árvores recobriam o abrigo, demonstrando falta de higienização do espaço.
O estado de degradação é sentido pela população que utiliza os pontos da Avenida Rio Branco, como no caso de Selma Ana da Silva, 48 anos.
“Os pontos têm goteira, lixeira quebrada e vidro todo pichado. Falta manutenção, e a população também não mantém os pontos de ônibus arrumados. A situação está bem precária.”
Maria de Lourdes Reis, 55 anos, também acredita que muitas questões estão relacionadas à falta de cuidado dos usuários. “As pessoas destroem, e eles não repõem, e nós que ficamos no ponto pagamos o pato. Se as pessoas colaborassem, teríamos menos problemas.”
Necessidade de combater depredações de forma persistente
Em 2011, a Avenida Rio Branco passou por obras de reestruturação urbanística, o que incluiu adequações nos pontos de ônibus localizados na via. Conforme o arquiteto e urbanista Rogério Mascarenhas, que atuou no projeto de remodelação da avenida, os trabalhos nos pontos de ônibus incluíram utilização de materiais de fácil manutenção, como inox e vidro temperado. Na cobertura, cogitou-se utilizar vidros também, entretanto, a fim de evitar acidentes, optaram por policarbonato. “É dever das concessionárias fazer a manutenção ou a troca, quando necessário. O projeto já foi colocado em inox e vidro temperado exatamente para facilitar, mas essa limpeza não vem acontecendo com a periodicidade necessária.”
Conforme o arquiteto, a falta de conservação, não só nos pontos de ônibus, mas na cidade como um todo, pode alimentar outras situações de degradação do espaço público. “Se você não combater de maneira persistente o vandalismo, o vandalismo vai se tornando uma característica do espaço público, ou seja, a própria população, ao perceber que não está havendo manutenção, ela também não se sente responsável pela manutenção e a limpeza da cidade.” Essa questão está relacionada a “Teoria das janelas quebradas”, lembra Mascarenhas, referindo-se à teoria desenvolvida na escola de Chicago por James Q. Wilson e George Kelling. A ideia é que, quando um edifício não tem seu espaço conservado, mantendo, por exemplo, as janelas quebradas, a tendência é que a situação implique outros danos. De acordo com a teoria dos pesquisadores norte-americanos, na década de 1960, a desordem geraria desordem.
CPI também irá avaliar os pontos de ônibus
Na semana passada, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos ônibus deu início aos trabalhos de campo e constatou irregularidades nos ônibus que operam em Juiz de Fora, como falhas na limpeza dos veículos, falta de assentos acolchoados em parte da frota, além de uso de pneu dianteiro recapado. Dando continuidade a esta fase de operações, a CPI irá às ruas nesta quarta-feira (10), a partir das 15h, para verificar o estado de conservação dos coletivos e, inclusive, dos pontos de ônibus, segundo o vereador Adriano Miranda (PHS), presidente da Comissão. Isso porque a manutenção dos pontos está prevista nos contratos de licitação para o transporte coletivo como responsabilidade dos consórcios.
Os problemas nos pontos de ônibus estão presentes em Juiz de Fora de maneira geral, já que, conforme o vereador, cerca de 75% dos locais na cidade não possuem abrigo. “Nós vamos verificar a questão dos abrigos, fundamentais para o conforto do usuário, mas que estão em estado precário”, afirma Miranda. “Na Avenida Rio Branco, esses defeitos deveriam ser reparados, e é uma obrigação das empresas”, reforça.
Cronograma de manutenção
Em nota, a Associação Profissional das Empresas de Transporte de Passageiros de Juiz de Fora (Astransp), constituída pelo Consórcio Manchester (Tusmil e GIL) e pela Viação São Francisco Ltda, informou que mantém equipe de manutenção para atender a área sob sua responsabilidade, entretanto, “o cronograma de atendimento é definido e acordado com a Settra”. Ainda conforme o texto, a associação está em contato com a pasta para definir as prioridades, já que possui, em estoque, parte dos vidros para reparar os problemas na Avenida Rio Branco. Por se tratar de material feito sob medida, pode ser necessário até 20 dias para receber a carga de reposição. A Astransp ainda ressaltou que “o volume de depredação ultrapassou a normalidade, pois o que tem sido danificado é principalmente em função do vandalismo que é crescente na cidade”. As melhorias também são definidas pela Settra, como no caso da reforma do abrigo na Praça da Estação. Porém, a associação ainda lamentou, “por exemplo, a falta de cidadania de alguns grupos, pois o serviço neste caso ainda nem terminou e já há pichações”.
Já a Ansal, que detém quase 80% do Consórcio Via JF, mas não integra a Astransp, reforçou que a equipe para manutenção nos pontos de ônibus é mantida por um acordo entre os dois consórcios. Além disso, a empresa também reiterou que essas operações são alinhadas e programadas com a Settra.
De acordo com a Settra, quando são observados equipamentos danificados para os reparos, dando prazo aproximado de 20 dias, a pasta notifica os consórcios para os reparos, conforme explicou o secretário Eduardo Facio. De acordo com ele, em 2 de abril, os consórcios foram comunicados sobre vidros quebrados na Rio Branco, e as substituições já se iniciaram.
O ponto próximo à Rua Gil Horta teve as vidraças trocadas, entretanto, nesta terça-feira (9), uma apareceu deteriorada por vandalismo. A Tribuna esteve no local por volta de 19h de terça e constatou, de fato, a substituição dos vidros, com apenas um apresentando sinais de quebra. “Infelizmente, a cidade tem sofrido com esse tipo de situação, com a quebra e pichação dos equipamentos públicos. Nós precisamos que o cidadão tenha mais consciência de que isso é para o uso comum de todos”, ressalta Facio.
Segundo o secretário, em 2017, foram substituídos 12 vidros na Rio Branco, em 2018, houve a troca de nove, enquanto só em 2019, pelo menos dez vidraças foram trocadas. Caso a população perceba equipamentos danifi cados nos pontos de ônibus, pode entrar em contato com a Settra pelo telefone 3690-8218, pelo e-mail [email protected], ou pelo Colab.
Limpeza
Sobre as pichações, Facio informou que solicitou o serviço ao Demlurb, que iria iniciar os trabalhos de limpeza e lavagem dos abrigos dos pontos da avenida a partir das 23h desta terça-feira. As lixeiras que apresentarem problemas também devem ser repostas, substituídas ou consertadas. Conforme o Demlurb, o serviço irá contemplar os equipamentos instalados entre a Rua Benjamim Constant, no Centro, e a Avenida Procópio Teixeira, no Bom Pastor. Em caso de chuva, a ação seria adiada.
Tópicos: transporte