Hospital Universitário oferece atendimento gratuito para endometriose

Equipe multidisciplinar conta com várias especialidades médicas, além de nutrição, fisioterapia e acompanhamento psicológico


Por Tribuna

10/03/2022 às 07h42- Atualizada 10/03/2022 às 12h15

A endometriose é uma doença que afeta cerca de 10% da população feminina brasileira. Aqui em Juiz de Fora, o Hospital Universitário da UFJF (HU-UFJF/Ebserh) possui Ambulatório de Endometriose, onde mulheres são atendidas gratuitamente por uma equipe multidisciplinar, envolvendo várias especialidades médicas, além de nutrição, fisioterapia e psicologia.

A doença se caracteriza pelo crescimento do revestimento do tecido interno do útero, o endométrio, em outros órgãos, como ovários, trompas, bexiga e intestinos. Os principais sintomas da endometriose são cólicas intensas durante o período menstrual, dor pélvica crônica, dor durante a relação sexual, alterações intestinais e urinárias na fase da menstruação, além de infertilidade.

De acordo com a responsável pelo Ambulatório de Endometriose, a ginecologista Luzia Salomão, geralmente o diagnóstico é difícil. As pacientes são encaminhadas pelas unidades básicas de saúde (UBSs) ou chegam através do próprio Serviço de Ginecologia do HU. “É uma paciente que vem com muita dor. Recebemos casos de leves a graves, e a gente procura acolher e acompanhar. Fazemos os exames para saber o nível de acometimento da doença e definir o tratamento clínico ou cirúrgico, a depender do caso”, explica.

O tratamento clínico é feito com medicamentos visando ao bloqueio ovariano, para que a doença não progrida. Ainda são realizados encaminhamentos à fisioterapia pélvica, à nutrição e à psicologia. No HU também são realizadas cirurgias por videolaparoscopia, indicadas para quando não há sucesso no controle da dor no tratamento clínico. No entanto, conforme Luzia, a maioria das pacientes fica bem com o tratamento clínico, com acompanhamento completo, anualmente, inclusive com exame de ressonância magnética.

A ginecologista ressalta a importância desse atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). “É uma doença cara, difícil de manejar e muito crônica, então é fantástico, inclusive para os residentes também terem contato com a condução desses casos. Desejando engravidar, a mulher também recebe encaminhamento para o Ambulatório de Infertilidade no HU”, destaca Luzia, alertando que as mulheres devem fazer os exames preventivos anuais e que dores fortes não devem ser ignoradas.

O chefe do Serviço de Ginecologia do HU-UFJF, Homero Gonçalves Júnior, preocupa-se com o crescente número de mulheres que chegam ao hospital com endometriose. Segundo ele, elas são jovens e apresentam dor e, muitas vezes, problemas de infertilidade. “São tratamentos difíceis e que requerem um grande envolvimento das pacientes. A endometriose é uma preocupação real do Serviço de Ginecologia que tem nos mobilizado: discutimos casos, fazemos cirurgias, trabalhamos em parceria com outros serviços. É importante dizer que o HU tem disponibilidade em atender essas mulheres.”

Acompanhamento multiprofissional

Na equipe multidisciplinar do Ambulatório de Endometriose, a fisioterapia pélvica atua diretamente no alívio da dor causada pela endometriose, afirma a fisioterapeuta Elaine Moura. “Essas mulheres normalmente sentem dores na região do baixo ventre, na região abdominal, dor para evacuar e também durante e após as relações sexuais, afetando diretamente a qualidade de vida”, frisa.

Segundo a profissional, a origem dessas dores vem das aderências que a própria endometriose causa, o que afeta a movimentação das fáscias (camada fina de pele que envolve o músculo, permitindo que deslize mais fácil um contra o outro), dos fluidos e dos músculos. “Quanto menos movimento essas estruturas tiverem, mais dor as mulheres vão sentir, além de se sentirem inchadas porque esses fluidos não estarão movimentando de forma correta, causando inchaço abdominal e afetando a autoestima. Ou seja, a endometriose é muito complexa. A fisioterapia pélvica ajuda a liberar as estruturas que estão com pouco movimento, aliviando as dores e, consequentemente, reduzindo o inchaço abdominal”, esclarece Elaine.

Outra aliada no tratamento é a nutrição. No hospital, Regiane Faia, com formação em nutrição e educação física, acompanha mulheres com endometriose. Ela desenvolve pesquisa de mestrado em Imunologia e Microbiologia no HU, sob orientação e supervisão da professora Vânia Silva, do Laboratório de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF. “Em um primeiro momento, atendemos as pacientes em uma consulta, ouvimos os sintomas, fazemos a avaliação física e então prescrevemos um protocolo nutricional e de orientação de atividade física.” Segundo ela, acredita-se que uma alimentação saudável, livre de xenobióticos, alimentos que aumentam a inflamação sistêmica, junto com uma atividade física adequada, possa diminuir ou até minimizar os sintomas provocados pela endometriose, como as fortes dores e a infertilidade.

“Escuta a minha dor”

Também com o intuito de informar e orientar as mulheres, o projeto de extensão “Escuta a minha dor” desenvolve um trabalho de educação em saúde por meio das redes sociais. O projeto é um trabalho dos alunos da Liga de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFJF, coordenado pela professora e médica ginecologista Fernanda Polisseni.

Adaptado à realidade da pandemia de Covid-19, foi criado um perfil de Instagram, no qual são publicadas, periodicamente, informações relevantes e confiáveis. “Isso estimula os alunos a estudarem mais sobre o tema “endometriose e infertilidade” e a se atualizarem. As pacientes têm acesso rápido e fácil ao conteúdo, tornando mais simples o entendimento da doença”, assegura a professora.

Além disso, acrescenta, foram criadas rodas de conversa, que têm acontecido de forma on-line, nas quais as pacientes do Ambulatório de Endometriose do HU são convidadas a participar, expor suas dúvidas, fazer perguntas e compartilhar vivências. A cada roda de conversa, um especialista está presente para responder às questões, como nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, ginecologistas, cirurgiões e outros.

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