Polícia Civil desvenda crime de mulher executada com 15 tiros

Suspeito é um jovem de 18 anos, que teria furtado um carro na véspera e alterado a placa. Delegado investiga se disparos foram feitos de pistola de policial ou de agente penitenciário


Por Vívia Lima

10/01/2019 às 19h58- Atualizada 10/01/2019 às 20h01

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Investigadores conseguiram identificar o veículo utilizado no assassinato da jovem. Carro circulava diariamente no Bairro Santa Cândida e adjacências (Foto: Vívia Lima)

Armas de um policial militar e de um agente penitenciário podem ter sido usadas para assassinar Jéssica Glória de Paula Ferreira, 27 anos, em plena luz do dia, na tarde de 21 de dezembro de 2018, em Juiz de Fora. A apuração da Delegacia Especializada em Homicídios será concluída nos próximas dias e deverá apontar de qual das pistolas partiram os tiros que mataram a jovem. No inquérito policial, testemunhas afirmaram, de forma velada, que Jéssica estava sentada na porta da casa onde morava, na Rua Adelaide Campos de Resende, no Bairro JK, na região Sudeste, quando o suspeito, que havia completado 18 anos há apenas uma semana, teria se aproximado a pé e atirado na jovem à queima-roupa. Metros à frente, ele embarcou em um veículo e fugiu. A mulher foi alvejada com cerca de 15 disparos de arma e morreu na hora, ficando seu corpo estendido na calçada.

O condutor do veículo, 22, que deu cobertura ao crime, foi identificado e é considerado coautor do homicídio. O carro teria sido furtado um dia antes da morte da jovem, assim como a placa ostentada por ele. “A equipe de investigadores conseguiu identificar o veículo e a placa, passando a monitorar o automóvel que circulava no Bairro Santa Cândida e adjacências. Diante disso, constatou-se que a placa fora subtraída no dia 20 de dezembro, em um shopping na região Norte”, garantiu Rodrigo Rolli, delegado responsável pela apuração. “Na manhã de ontem (quarta-feira), conseguimos localizar o veículo e foi verificado que a placa era falsa e teria sido retirada de outro automóvel de mesma cor e modelo, a fim de dificultar a identificação. Já o carro, também foi furtado no dia 20 de dezembro no Morro da Glória.

Imagens comprovam furto de placa em shopping

O carro utilizado na fuga teria sido furtado para a prática criminosa, no entanto, imagens mostram os suspeitos utilizando o veículo para outros fins, como passeios em família. Por meios das imagens do circuito interno, a Polícia Civil apurou que, apesar de o carro ter sido furtado e adulterado, os criminosos não evitavam a circulação em locais públicos. “Os furtos foram cometidos um dia antes do homicídio e, mesmo depois de matarem a jovem, continuaram circulando livremente pela cidade. Temos imagens do veículo sendo usado pelo jovem, que foi passear no shopping várias vezes, uma delas, inclusive, acompanhado da esposa e do filho.”

Em seu interrogatório, o rapaz confessou ter cometido o assassinato e alegou tê-lo praticado devido a desavença entre ambos. A investigação, entretanto, leva a outra motivação. “O pano de fundo é o tráfico de drogas, uma vez que a vítima tinha passagens pelo mesmo crime. Temos conhecimento de todas as pessoas que estão em torno do autor e, agora, estamos identificando outras pessoas ligadas ao homicídio como supostos mandantes.” Para finalizar o inquérito, será realizado o exame de microcomparação balística (que constata a utilização de uma determinada arma) e saber a qual arma pertence os projéteis encontrados no corpo de Jéssica. O suspeito afirma ter usado uma das armas, mas não esclareceu qual. Será anexado ao inquérito também o laudo de necropsia e após essa fase, remetê-lo à Justiça.

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Polícia Civil irá apurar se os disparos partiram da arma furtada de policial ou de um agente penitenciário (Foto: Vívia Lima)

Suspeito é preso pela PM

Durante uma ação deflagrada pela Polícia Militar, na noite da última segunda-feira (7), o suspeito de matar a jovem foi capturado. Na casa dele foram localizadas duas pistolas de calibre 380, possivelmente as mesmas usadas no crime . “Inicialmente ele conseguiu evadir da ação policial, mas a equipe chegou à sua residência e encontrou as armas no quarto dele, devidamente municiadas. O trabalho da PM nos ajudou bastante”, afirma Rolli, acrescentando que, com ele, também foi localizada uma porção de drogas. Uma das pistolas pertence a um policial militar e possui registro de furto, datado de 2011. Já a outra arma seria de um agente penitenciário, investigado na Operação Pente-fino orquestrada pelo Ministério Público com apoio da PM e de agentes do sistema prisional em novembro de 2017. A manobra investigou a entrada de drogas e celulares no Ceresp. “Em relação ao policial, a arma foi furtada do interior de seu veículo, na Rua Santa Rita, no Centro, no dia 30 de setembro daquele ano. Ele registrou boletim de ocorrência e agora será ouvido para reconhecer seu armamento e, posteriormente, restituir o objeto”. O agente penitenciário foi condenado em dezembro de 2018 a 21 anos de reclusão pelos crimes de tráfico e associação ao tráfico, porte ilegal de armas, favorecimento e peculato. “Essa arma, até então, estava desaparecida. Ele tinha o certificado, mas, segundo ele, estava em manutenção”. A Polícia irá apurar de qual forma a pistola chegou às mãos do jovem.

Testemunhas veladas

O apoio da população é apontado como essencial para a apuração destes, avaliou o delegado de Homicídios, Rodrigo Rolli. Para ele, a determinação dos moradores da cidade, tem ajudado a elevar os índices de apuração da Polícia Civil como é o caso da elucidação da morte da jovem Jéssica. “Essa ferramenta vem alimentando diariamente inquéritos em Juiz de Fora. A sociedade, cada vez mais tem nos ajudado de forma clara, sempre trazendo informações à delegacia”. Na cidade, entre o fim de 2016 e o início de 2017, começaram a ser intensificados os trabalhos com testemunhas veladas, com base na Resolução conjunta 185, de 2014.

Tópicos: polícia

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