Simulação de ataque e disparos de tiros são filmados por gangue e divulgados na internet
Um vídeo que está em circulação nas redes sociais mostra um jovem armado, acompanhado de um grupo de rapazes, na divisa da Vila Esperança I e Vila Esperança II, na Zona Norte de Juiz de Fora. Como se estivesse seguindo para um ataque, um dos integrantes do grupo chega a fazer disparos provavelmente contra uma casa. O vídeo revela a que ponto chega a rivalidade das gangues naquela região, onde as comunidades podem acabar reféns da violência. Nas imagens divulgadas via WhatsApp, na última semana, aparecem quatro jovens, que dizem ser integrantes de um bonde da Vila Esperança I. Segundo as polícias, a arma que aparece na filmagem é de fabricação artesanal e se assemelha a uma submetralhadora. Eles estão em um pasto, que liga os dois bairros, e falam que estão invadindo a comunidade rival. Ao final do vídeo, um dos jovens atira. Entre eles, alguns não têm a preocupação de esconder o rosto. As polícias Civil e Militar já tiveram conhecimento do fato, e os jovens que aparecem já estão identificados. Para a Polícia Civil, o fato é grave, e as brigas de gangues ainda são a causa principal para homicídios na região. A PM garante que as imagens não causaram nenhum efeito concreto.
Durante a gravação, o jovem que está com a câmera, provavelmente de um celular, garante que a Vila Esperança I tem armamento pesado e diz que ele e os outros três estão “invadindo a área” dos inimigos. Ele menciona ainda que aconteceria um “ataque surpresa” na Vila Esperança II. Assim que sobe até determinado ponto do morro, que fica nos fundos das duas comunidades, um dos suspeitos pede que o colega mire a arma para uma casa e atire.
O delegado Rodolfo Rolli, titular da 3ª Delegacia, responsável pela investigação de crimes ocorridos na Zona Norte, disse que aparentemente a arma é artesanal. “Ao que parece, é um revólver ou pistola que eles alongaram. Se fosse uma metralhadora, quando atiram, seria uma rajada, porém, sai apenas uma munição”, comentou, acrescentando que irá apurar a situação. “Os confrontos na região já são antigos, é um ciclo que parece não ter fim. Nossa maior preocupação é que eles podem acabar em homicídios”, disse.
O comandante da 173ª Companhia da PM, capitão Ricardo França, responsável pelo policiamento na região, garantiu que todos os suspeitos já estão identificados e que têm passagem criminal por diversos crimes. O oficial afirmou que o vídeo não teve “nenhum efeito cascata na região, não há nenhum confronto inflamado que caracterize uma preocupação maior. Ao que tudo indica, não fizeram nada direcionado, foi uma situação subjetiva, para amedrontar”, avaliou.
Para ele, estas e outras imagens já divulgadas em redes sociais são uma forma que os jovens encontram de “manter acesa a chama desta rivalidade. Eles vivem de mídia, fazem estas postagens com tom ameaçador, aí o outro lado vem e provoca em seguida. Não falta policiamento, o que acontece é que a polícia não tem como trabalhar na causa do problema, que é social, só trabalhamos com as consequências desta falha.” O comandante também afirmou que a arma é artesanal e que já há equipes da companhia fazendo buscas pelo artefato.
Conflitos frequentes
As Vilas Esperança I e II têm um histórico criminal preocupante e concentram a maioria das ocorrências da Zona Norte. Na última sexta-feira (4), a região foi um dos principais alvos da Operação Concórdia, desencadeada pelas polícias Civil e Militar. O histórico de conflito entre gangues nas comunidades é antigo e já fez dezenas de vítimas. O principal problema hoje para as polícias é a reincidência criminal dos envolvidos nos crimes. Mesmo identificados e presos, logo retornam às ruas, cada vez mais violentos.
Em fevereiro deste ano, a Tribuna publicou uma matéria que mostrava a situação limite em que viviam famílias dos bairros que estavam sendo expulsas por traficantes. A violência que assusta moradores diariamente acua também aqueles que precisam prestar serviços nas comunidades. Os alvos geralmente são entregadores e taxistas, que já deixam até de ir aos bairros. No ano passado, a violência levou até mesmo a unidade de saúde da Vila Esperança I a ficar fechada, depois que uma funcionária foi assaltada. Além disso, a rixa entre os dois bairros faz com que os moradores da Vila Esperança II se sintam inseguros em buscar atendimento no posto.
Rivalidade ainda é a principal causa de crimes contra a vida
De acordo com o delegado Armando Avolio, da Delegacia Especializada de Homicídios, a polícia tomou conhecimento do vídeo nos últimos dias, e uma equipe já esteve no pasto onde ocorreu a filmagem. “Não encontramos cápsulas deflagradas e, até o momento, não encontramos nenhuma casa que tenha sido atingida. Apesar de não ter havido vítimas, estamos apurando a situação e vamos tentar recuperar esta arma”, comentou. De acordo com ele, das tentativas de homicídio e assassinatos ocorridos na região Norte, as rivalidades entre bairros ainda figuram como pano de fundo na maioria dos casos. “Não podemos nem dizer que há gangues, mas, sim, um bairrismo. É uma rivalidade em que a única causa é morar em bairros diferentes”, disse.
O inspetor da Especializada, Anderson Gibi, comentou que o jovem que aparece armado já foi preso duas vezes: uma delas por porte ilegal de arma de fogo e outra por roubos. “A rivalidade entre estas e outras comunidades é algo muito preocupante. A maioria dos crimes gira em torno de brigas de gangues e tráfico. O preocupante é que os moradores inocentes acabam afetados. No caso do vídeo, não houve ninguém prejudicado, mas mostra que a sociedade fica à mercê destes criminosos”, finalizou.